O pai lia o jornal. A menina falava, palrava, cantava, saltava.
- Ouviste, pai?
- Sim...estiveste a saltar até aos cinco...- acabou por dizer, algo alheado.
- Não foi nada disso...não percebes nada por causa desse jornal.
- Então o que foi?
- Vou ter trinta filhos!
- É tola a rapariga...
- É verdade, vou ter mesmo trinta filhos!!
Afastou-se da mesa, aos saltos outra vez. Ao fundo da sala rematou convictamente:
- A sério, promessas são promessas.
Alguns minutos mais tarde, enquanto escrevia estas palavras, ela de novo:
-Que estás a escrever, pai? Deixa ver...-enquanto me tirava a folha.
-Não, não...não te interessa...são coisas desta senhora...
-Esta quem? Esta M-Í-S-I-A? O que é que ela diz aí no jornal?
Não lhe respondi logo, ela insistiu:
- Já sei! Na primeira frase ela diz "Francisco Carvalho eu amo-te", na segunda frase diz "Francisco Carvalho eu amo-te", na terceira frase "Francisco Carvalho eu amo-te muito"...
- Está calada, filhinha...não digas asneirinhas...
- É, é...eu vi-a na televisão, ela só canta coisas românticas.
- Estás a ver muitas novelas...
Nesse momento chega a casa a mãe. Excitada, a filha tratou de pô-la logo a par das últimas novidades. Quando ia já na quinta repetição, divertidíssima, da frase "Francisco Carvalho eu amo-te", a mãe, também a cantarolar, concluiu:
- Francisco és um petisco, francisco és um bom petisco...
- Oh mãe, olha que o papá disse que gostava da Mísia, que ela era muito bonita...