30 junho, 2005

Life Love Us

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© 2005

29 junho, 2005

Sou pescador

Sou pescador
tenho um gorro escarlate
e as mãos incendiadas de calos.


Sou também pecador
o bizarro gosto da arte
as mãos acesas em transe.


Sou um estranho pescador
o fumo azul do meu cigarro
(lúcida espiral em trânsito)
a sonhar cardumes de metáforas.

28 junho, 2005

saudade de Macau *

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© Macau, 1999

Lembrei-me de Macau por causa desta chuva dentro do calor.
É com saudade que lembro esses meus primeiros dias do Oriente.

* Voltarei a estas fotos quando conseguir ser mais fiel à luz e às cores originais...

a linha amarela

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© Macau, 1999

que meus olhos vêem?

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© Macau, 1999

sedas

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© Macau, 1999

ma cão

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© Macau, 1999

27 junho, 2005

esta dor

esta dor
que ainda há pouco não estava aqui.
caída do céu.
e apetece dizer: os meus olhos à chuva.
estriados. estropiados.
boulevard of fucken dreams.
esta dor que escrita não dói.
esta dor, esta longa perda,
estas lágrimas.
those litlle things like cinematic rain.
esta dor só,
aguçada pedra,
i'm so
sorry.

26 junho, 2005

Aí, seu "Tomzi"!

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© Porto 2005

Tom Zé e sua trupe entram no palco montado nos jardins do Palácio de Cristal.
Entram escarnecendo, fingindo escarnecer da Mulher, de todas as mulheres.
Havia gente que não sabia ao que eles vinham. A meu lado uma mulher, atónita, escandalizada , vira-se para uma amiga e comenta "como era possível aquilo, ele que tem uma mulher tão bonita, vi-a no programa do Jô Soares...".

Mas rápidamente todos se renderam à música daquele louco vestido de mendigo, àquele teatro pobre, puro, quase naïf. Àquela opereta popular. Àquele pagode de mil roupagens.
Todo o mundo se meneou, abanou, aplaudiu, riu, pulou e até cantou.
E o céu do Porto até ficou "mais consistente" como disse Tom Zé, pondo toda a gente a cantar "Foi o Bush, foi o Bush, foi o Bush..."

Só de pensar que este homem, o mais verdadeiro e inventivo dos tropicalistas, tem quase setenta anos...este "manoeloliveira" da música brasileira...até a idade de meu pai parece inverosímil...O homem sofre mesmo de juventude!

Um dia irei a Irará.

25 junho, 2005

palavras

o pano seco das palavras púberes
o pão-doce das palavras curvas
o pano-cru das palavras lisas
o panorama das palavras turvas
o pai-nosso das palavras míseras
o pão seco das palavras concisas
o pai rude das palavras cruas
o peão mudo das palavras nuas

24 junho, 2005

a mais bela festa do mundo


versos de MOLOI

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© Porto 2005

23 junho, 2005

intervalo

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22 junho, 2005

para miúdos e graúdos

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21 junho, 2005

Disseram que eu nasci cristianizado

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© Brasil 1995

multiplicados minutos

Multiplicando os minutos,
atinjo a velocidade da luz,
não me importa o desejo
de assim morrer.


Multiplicando os minutos,
finjo a sensualidade da lua,
sonhos sombrios e lácteos,
não me importa ir.


Multiplicando os minutos,
quando o infinito chegar,
serei mais do que posso
fazer por mim.


Multiplicando os minutos,
os minutos serão segundos,
serei pleno no sol,
ficarei então só.

20 junho, 2005

ele vem aí, ele vem aí

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Para Moloi ainda, que já tentou explicar-me o que era uma harmonia e que até já comprou bilhete para o concerto nos jardins do Palácio, deixo estas palavras de Tom Zé:

"HARMONIA INDUZIDA"

"Para uma velha aspiração: tentar um canto popular com mais de um centro de referência tonal: um jogo de simultaneidades como aquele que a gente já vê em algumas histórias em quadrinhos, filmes, e em outros brinquedos. Persigo isso também através de uma harmonia induzida, que acontece quando o acompanhamento fica parado na tônica, e o cantor, com a cumplicidade do ouvinte, canta o tempo todo "corrigindo" a harmonia. Tudo aqui seria melhor jogar fora, não fosse uma tendência inata de praticar brincadeiras semelhantes àquelas que vi, ouvi e das quais participei na infância, com a música sertaneja. Aquela mais crua, que da própria incipiência tira soluções proveitosas. Essa incipiência é a veia do meu interesse."

o melhor disco do ano

é "estudando o Pagode, Na Opereta Segregamulher e Amor" do genial TOM ZÉ.

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Fica assim declarado o meu amor incondicional ao mais iconoclasta dos compositores musicais brasileiros. Para que se saiba. Eu que não tenho o mais mínimo conhecimento de música. Eu que vim do sujo rock...melómano medíocre...ignorante das clássicas músicas...
E deixo aqui transcrito, amplificado, especialmente para meu amigo Moloi, douto conhecedor das músicas do Brasil, mas a quem escapou, vá lá saber-se porquê!, este seu conterrâneo fã do pagode e das músicas pobres do povo pobre, uma das canções desta opereta:

"PAGODE-ENREDO DOS TEMPOS DO MEDO"

Vinicius de Moraes, Baden Powell, Comissão de frente
Antonio Carlos Jobim, Menescal,
Ronaldo Bôscoli, Nara Leão,
Carlos Lira, Miéle e o feminino João.

Doutor, você é bom de colarinho Ala Coluna Prestes
Mas não fez a bossa-nova sozinho.
O que te ilude é Roliúde, Ala Cinema Novo
Roliúde-ude,
A Cinderela bugue-ugue,
Bugue-ugue bugue,
Prefiro meu pagode-wood,
God me sacode,
Te deixo com teu rock-bode.

Doutor, este teu papo não cola: Ala Semana de 22
Você vaiou a bossa-nova n'O Pato.
A gente, além de não ter escola,
Essa cultura de massa é um saco-de-gato.

Saco-de-gato, saco-de-gato Ala Poesia Concreta
Saco-de-gato, saco-de-gato.

19 junho, 2005

o canto dos humanos

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© 2005

18 junho, 2005

certos sonhos

desertos que se calam.
nuvens que não choram.
certos sonhos que estiolam.
ventos que me não levam.
o instante do meu devir.
um céu azul com deus a rir.

17 junho, 2005

uncut story

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A minha filha no admirável mundo novo das primeiras palavras:
- Ó papá, aquele ali é que é o livro do Astérix?
- Qual...hã...não, filhinha...aquilo é outra coisa...
- Ah...estava a ver que o Astérix também se queria apaixonar pela Capuchinho Vermelho...

E assim me deixou, saindo saltitante da sala. Fiquei a magicar num melhor final para esta historieta.
- Não, filha...o Astérix não mora aqui em casa e aquelas acolá são matrioskas.
- Então, a Capuchinho Vermelho está grávida!, porque dentro dela há uma matrioska mais pequenininha...A Capuchinho saiu de dentro da avózinha ou a verdadeira Capuchinho é a que está dentro da Capuchinho? Que confusão!!
- Isso deve ser obra do Casanova...
- Quem??
- Um amoroso penitente...
- Quer uma casa nova? Quem é esse, pai?
- Um senhor de atalaia para tudo que é rabo de saia!
- Mães, filhas e avós??
- O amor é fogo, um jogo de sinais reversos...
- Ó papá, tu agora é que pareces um perverso!
- São coisas do imaginário da cabeça perdida de um português...
- Para mim, parece que tu estás a falar é russo...

Assim me calo. É tudo. Que venham as chuvas de verão.
End story.

16 junho, 2005

Sob a minha varanda...

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© 2005


... o colorido perfume da lavanda!

Não sabe o que perde, quem por aqui não anda...



15 junho, 2005

em silêncio

em suspense me sigo.
em silêncio me fodo.
em silêncio me tolho.
em silêncio me rogo.
em surdina me digo.
em silêncio me colho.
em silêncio me calo.
ensurdecido o estalo.

14 junho, 2005

pela janela do carro...

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© Porto, Junho 2005

Silêncio por favor, há gente limpando a noite desvairada.
O lixo recolhido entre dois cigarros e um sonho breve.
Pode um pobre homem qualquer,
sonhar com a mais bela das mulheres?
Os semáforos estão todos no vermelho.

13 junho, 2005

coro

Hoje, todos nós dizemos: até sempre, camarada!

"Se é tanta a luz", meu filme falhado

" AO LUME " , poema de Eugénio de Andrade

"Nem sempre o homem é um lugar triste.
Há noites em que o sorriso
dos anjos
o torna habitável e leve:
com a cabeça no teu regaço
é um cão ao lume a correr às lebres."

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Hoje morreu um dos poetas da minha vida.
De muitos dos dias da minha vida.
Os poemas das palavras claras, das cristalinas
sílabas, dos sons puros, dos límpidos versos,
das paisagens deste pequeno país,
agraciado pelo sol mediterrânico e pelo atlântico mar.

Em dias longínquos, quis fazer um filme que em parte fosse também uma
homenagem à beleza da sua poesia.
Seriam ditos três dos seus poemas.
Cheguei a rodar algumas sequências.
Depois não tive nem coragem nem talento para mais.
Ficou o meu filme abandonado.
Ficou-me o filme na cabeça.
Para sempre.

"se a luz é tanta,
como se pode morrer?"

santo antónio

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© Porto 2005

meu velho santo antónio
claro que errar humano é
não é coisa só do demónio
pecam os santos todos até!

12 junho, 2005

apenas

não tenho mão de artesão
apenas palavras escuras
para jogar e às vezes cuspir


não tenho medo da solidão
nunca ganharei assim o porvir
apenas certas escusas

11 junho, 2005

ali aconteceu portugal

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© Guimarães 2005

Entre o povo cá fora, alguém se queixava, indignado, que só tinham deixado entrar os que traziam fato-e-gravata ou lindos vestidos. Outros refilavam que só tinha havido convites para políticos e ricaços.
Mesmo assim aplaudiram. Marcelo, Catarina, Nicolau, Aurora e Represas terão sido os mais ovacionados. E houve quem apreciasse a ousadia da Leonor Pinhão, vestida na maior das informalidades, de jeans e óculos escuros. Outros ninguém os conhecia.
No final da cerimónia, os convidados, os ministros e o presidente tiveram que ouvir a gritaria quase imberbe de alguns poucos estudantes. As televisões e as rádios tentavam registar o embaraço dos governantes. Uma mulher rosnava "que querem aqueles comunistas?". Um homem idoso desdenhava também de tal manifestação, afirmando que "deviam era estar em casa a estudar! como é que era possível sete em cada dez estudantes chumbarem a português e a matemática! como podiam estar a gritar se nem sabiam exprimir-se na própria língua materna! querem é dinheiro para andarem na borga!".
O Camões de Pomar, esse, agora sozinho no pavilhão, parecia fumar um cigarro, alheado. Há muito tempo já que não tinha nada a ver com isto.

10 junho, 2005

a mais velha aliança

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© Guimarães 2005

à espera do presidente

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© Guimarães 2005

escape from a landscape

Para a Mimi, que faz hoje anos.
Uma das mais belas mulheres que conheço.


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© Porto, Nov.2004

09 junho, 2005

hoje não direi mais nada

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© Porto 2005


estou cansado. paralisado por palavras que me assaltam. os homens trabalham como cães. onde está o direito à preguiça? cães na sombra. filhos-da-puta. privilégios. regalias. principescas reformas. isaltinos sem moral. jardins de flora única. sócrates pouco socráticos. durões manietados. país escavacado. é a vida. o medo de existir. velhos do velho restelo. cães de guarda. um país sujo. griffes e grafitis. invasão dos chineses. tempos de novas trevas. o não o non e o nee. euro sem europa. a velha tropa. cães como quem? medalhas de mérito, ordens e condecorações espúrias. as eternas comendas. direitos adquiridos. maus hábitos. maus árbitros. quem se fode é sempre o mexilhão. pobre não tem privilégios. greves sem desespero. não somos já nem homens nem mulheres. nem sequer cães. apenas números. números descartáveis. númerosinhos subtraíveis, multiplicáveis, apagáveis. deslocalizações. escravos sem nome. aldeia global. o século do mal. consumo consumo consumo. a merda da vida consumida. a miséria consumada. e ninguém reclama o direito à preguiça. teatros amordaçados. nós não somos formigas. era preciso um brecht para estes tempos. as guerras infames. os cátaros. era preciso um novo pasolini. de que cor são afinal as nuvens? este belo país imundo. este país com o mar na soleira da porta, desaparecerá sob a incúria e a ganância. este calor às vezes parecido com o inferno. haverá gente noutras dimensões?
com puta dor.
hoje não me apetece dizer mais nada.

vizinhos

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© 2005

08 junho, 2005

estas manhãs

estas manhãs de junho: tucumã.
vinicius como um vício.
depois, o pão torrado, a maçã.
silêncio ruminado, desperdício.

absorto, absorvo.
os olhos sem ver, lento.
voo para dentro do que sinto.
na curva, corvo.

estas manhãs, estes rapaces olhos.
procuram que sombras?
que luz entre os escolhos?

07 junho, 2005

um museu infinito

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verdade ou consequência?

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noite, calor, dádiva

Noite extraordinária sobre a cidade, uma espécie de verão antecipado.
Estou deitado, pela primeira vez na vida, numa rede brasileira que comprei há uns bons doze anos já, na famosa feira de Caruaru.
Calor sobre a minha varanda, algumas estrelas ao alcance dos meus olhos, um pedaço de céu para poder sonhar.
Noite extraordinária na minha vida. Noite mágica, e nunca o saberei dizer quanto.
Apenas que tenho o coração incendiado. Não sei dizer das minhas emoções.
A cidade dorme, são quase três da manhã. Tenho na cabeça, literalmente, música.
No início, uns acordes de travo quase medieval...depois as palavras...
Depois as palavras são as minhas palavras.
As minhas próprias palavras cantadas e musicadas por meu bom amigo brasileiro.
Temos agora uma parceria. Coisa para sempre feita. Plasmada.
Coisa de loucos. Coisa ainda inimaginável. Sentimentos que não sei sequer expressar.
As minhas palavras cantadas!
A rede balouça tranquila. Fecho os olhos. Sinto as estrelas como irmãs cúmplices deste momento. Corre agora uma brisa algo intensa que deixa os cães a ladrar sem tino.
Também eu fico a ladrar cá dentro.
Poucas coisas na vida me poderiam ter deixado mais feliz.
Fosse o que fosse que quis dizer com essas palavras, agora já não me pertencem, estarão por aí para quem as quiser ouvir...

06 junho, 2005

Santos Dias de Serralves

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Se o que vi e o que vivi nestes dias de festa em Serralves, pudesse acontecer mais vezes e em muitos outros sítios que não só esta cidade, não tenho dúvidas que Portugal seria o país certo, o país exemplar, o paraíso quase perfeito...

Por cá, estes dois dias de ininterrupta festa, já são sagrados no nosso calendário anual...

05 junho, 2005

inventando um pequeno drama-vox

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O pai lia o jornal. A menina falava, palrava, cantava, saltava.
- Ouviste, pai?
- Sim...estiveste a saltar até aos cinco...- acabou por dizer, algo alheado.
- Não foi nada disso...não percebes nada por causa desse jornal.
- Então o que foi?
- Vou ter trinta filhos!
- É tola a rapariga...
- É verdade, vou ter mesmo trinta filhos!!
Afastou-se da mesa, aos saltos outra vez. Ao fundo da sala rematou convictamente:
- A sério, promessas são promessas.

Alguns minutos mais tarde, enquanto escrevia estas palavras, ela de novo:
-Que estás a escrever, pai? Deixa ver...-enquanto me tirava a folha.
-Não, não...não te interessa...são coisas desta senhora...
-Esta quem? Esta M-Í-S-I-A? O que é que ela diz aí no jornal?
Não lhe respondi logo, ela insistiu:
- Já sei! Na primeira frase ela diz "Francisco Carvalho eu amo-te", na segunda frase diz "Francisco Carvalho eu amo-te", na terceira frase "Francisco Carvalho eu amo-te muito"...
- Está calada, filhinha...não digas asneirinhas...
- É, é...eu vi-a na televisão, ela só canta coisas românticas.
- Estás a ver muitas novelas...
Nesse momento chega a casa a mãe. Excitada, a filha tratou de pô-la logo a par das últimas novidades. Quando ia já na quinta repetição, divertidíssima, da frase "Francisco Carvalho eu amo-te", a mãe, também a cantarolar, concluiu:
- Francisco és um petisco, francisco és um bom petisco...
- Oh mãe, olha que o papá disse que gostava da Mísia, que ela era muito bonita...

04 junho, 2005

o tempo a cada segundo

o tempo a cada segundo,
dispara a morte.

por vezes, asas as palavras.
ou só talvez, mãos que não enganam
nada. nem matam.

o tempo que morre a cada golpe
de quem o conta.

por vezes, o sono
vem como desejo de tudo.

por vezes, penas.
asas que escorregam no limiar
dos sonhos.

por vezes, sombras.
o exílio fácil do que temos
medo de reconhecer.

por vezes, aladas casas
as palavras.
outras tantas vezes,
apenas sobras.

03 junho, 2005

o verão a começar

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© Porto, Maio 2005


Pelo chão, escrito está, a primavera a terminar.

Mas estará inscrito no ar que o verão vai magoar?



02 junho, 2005

cinema pobre

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fotos de Miguel Coelho, na rodagem do filme "À Procura da Deriva"

Não são meus amigos, nem sequer os conheço bem, mas honra a minha cidade, que pessoas como estas, lutem por fazer diferente, por fazer um cinema diferente. Gente que tenta ensinar a outros mais jovens, o amor ao cinema, o amor de fazer cinema numa espécie de regresso à pureza das primeiras imagens do mundo. O cinema como arte despojada, orgulhosamente parca de meios.
Eu sei que ninguém descobriu a pólvora. Eu sei que pode nunca sair dali nenhuma obra-prima, ou algo que possa fazer verdadeira história no cinema em Portugal. Eu sei que em todas as gerações houve gente que também o fez. Mas é preciso tentar de novo. Intentar. Sobretudo agora, em pleno século digital, dependentes que estamos de mil e uma realidades e comunicações virtuais. É preciso voltar a aprender a sujar as mãos, a sentir realmente na pele a película, a experimentar o gosto de colar literalmente os nossos próprios filmes.
Eu queria que soubessem que há gente a fazê-lo. Ainda por cima, num dos sítio mais fantásticos e extraordinários da nossa invicta cidade, na Lada. Constituem eles a AICART-Ateliers da Lada, ao Largo dos Arcos da Ribeira, nº114, mesmo junto ao ascensor que lá existe.
Na semana passada, houve uma agradabilíssima exibição ao ar livre, de filmes que resultaram de vários workshops realizados. Com música interpretada no próprio momento. Como sempre nestas coisas, estavam meia dúzia de gatos alegremente pingados. Hoje à noite, haverá nova sessão, de outros filmes, seguida de um tinto de honra.
Volto a dizer, não os conheço nem ninguém me pediu para fazer isto.
Só que eu acho que a cidade os merece.
É sempre preciso que se façam e renovem as imagens e as ficções da nossa cidade.
É sobretudo preciso que se filme no Porto.
Cinema pobre mas rico de imagens.
Como eles dizem no seu Manifesto, "cinema que se destina aos ricos de espírito".

01 junho, 2005

lenta ave

lhano crescer da água
lânguida lava
lúcida mágoa
lenta ave

(que deus sabe)