30 abril, 2006

this shoe-box was made for livin' music

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© 2005

"an evening with Nancy Sinatra".
o meu primeiro concerto na Casa da Música.
fez um ano. ainda não tinha eu blogue.
bang bang!

29 abril, 2006

minha morte alheia

um poema de Affonso Romano de San'Anna

Quando eu morrer
alguns amigos vão levar um baque enorme.
E na hora da notícia ou do enterro
sentirão que alguma coisa grave aconteceu para sempre.

Depois
irão se esquecendo de mim,
da cor do luto
- e da melancolia,
exatamente
como eu fiz
com os outros que em mim também morreram.

O morto, por pouco, é pesado e eterno.
Amanhã
a vida continua com buzinas, provérbios,
sorveteiros nas esquinas,
esplêndidas pernas de mulheres
e esse ar alheio
de que a morte
não apenas se dilui aos poucos,
mas é uma coisa que só acontece aos outros.

de A Catedral de Colônia (1985), recolhido do nº 8 de aguasfurtadas

28 abril, 2006

entre sombras

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© Novembro, 2004

27 abril, 2006

teu nome, mãe

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teu nome hoje tão raro,
palavra de três sílabas certas e belas,
nome de lendária cidade
onde as caravanas demandavam na milenar rota da seda,
nos mil segredos do oriente.
cidade plantada em chão pedregoso,
entre o Mediterrâneo e o Eufrates,
terra da mítica Zenóbia que enfrentou Roma,
a célebre cleópatra da Síria, rainha esplendorosa do deserto.

tu que não viste nada, nem nada pudeste saber disto,
tu que não passaste além das praias de Vigo,
tu que também deves ter tido, ainda que efémeros,
os teus sonhos com as terras prometidas da emigração,
as franças e as alemanhas da tua desesperada geração.
tu a quem muitas ambições cercearam,
tu que não foste rainha de coisa alguma.

tu, linda minhota,
descalça e rota por ribeiros e montados,
entregando o pão que o diabo amassou,
pelas serras frias do Barroso.
o pão que tu mesmo não tinhas para comer,
flor sem sonhos
no silêncio uivado dos perdidos montes.

tu, fruto de um crime.
filha de pai anónimo.
filha de um qualquer fidalgote de província,
como um desses saídos das novelas de Camilo.
filha de um silêncio condenado.
o que no sangue será ilegítimo?

sozinha criança que cresceste sem infância,
que depressa te fizeste mulher, em duras penas.
tu que aos treze anos já servias senhores ingleses
na longínqua Lisboa.
como um pecado capital.
não, nada na tua vida foi um oásis,
teu malfadado destino não fez sequer jus à glória
remota de teu nome.

não te souberam amar.
não te soube amar, também eu.
e perdoa se não é justo dizer isto em voz alta.

lembro o teu olhar indecifrável, quase frio,
o teu olhar suave mas distante,
numa candura sem culpa.
os olhos vivos numa revolta conformada,
as palavras de amansada amargura.

não, também eu não te soube dar ternura,
também eu não te soube inventar o amor.
nunca soube entender meu próprio e estranho sangue,
minha estouvada sorte.

não me chores.
não chores quem mal te soube chorar.
também farei por não chorar.
o meu olhar nasceu do teu, apenas isso eu sei.
o teu olhar, esse, continua talvez agora no meu,
porventura é coisa que não chegarei a saber.

tu, mãe, a quem escrevo,
neste dia em que nasceste sem o favor dos anjos,
estas palavras marejadas de lágrimas,
em vez das flores no pobre cemitério,
lugar simbólico da tua partida.

e um dia futuro, por ti,
se algum bom deus quiser,
estarei sentado a tomar um chá,
à sombra das ruínas ilustres da Gran Columnata,
na luz cor de açafrão do fim de tarde,
e então, pacificado, recordarei
teu rosto jovem
num céu prodigioso de palmeiras.

26 abril, 2006

lisboetas

Sábado à tarde, a primavera parecia ter chegado de vez, as
pessoas demandavam a proximidade do mar, ou a torpe rotina
dos eternos shoppings, esperavam as emoções fáceis da festa
que se aproximava...
Praias e futebol era o que se respirava.
Tempo ideal para uma ida ao cinema.
Fim de tarde. Cinco pessoas na sala.
Cinco pessoas cinco, cheias de sorte.
Cinco pessoas a ver este magnífico filme de Sérgio Trefaut.
Este filme sublime. Delicado. Dedicado. Atento.
Este tocante filme sobre os nossos imigrantes.
Um filme que toca algumas das nossas feridas.
Um filme que se demora admiravelmente sobre os rostos.
Os novos rostos deste país.
Pessoas que não esquecerei tão cedo.

Que esperar deste país ainda subterrâneo, no futuro?
Estará Portugal a mudar?
Quem somos nós?
Que faremos aqui?

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25 abril, 2006

tanto tempo

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(imagens - do 1º de maio de 74 - que ilustram a canção "Tanto Mar"
retiradas do DVD "Vai Passar", dedicado à obra de Chico Buarque.)

"Foi bonita a festa , pá
fiquei contente
'inda guardo renitente
um velho cravo para mim

Já murcharam a tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente
nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
navegar, navegar

Canta a Primavera, pá
cá estou carente
manda novamente
algum cheirinho de alecrim"

a revolução pelo Chico

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(Do DVD "Vai Passar", o terceiro de uma série retrospectiva sobre a
obra de Chico Buarque. Aqui o compositor refere-se à sua canção
"Tanto Mar", cuja primeira versão fora censurada pela ditadura bra-
sileira. Foi gravada na íntegra, pela primeira vez, num espectáculo
ao vivo com Maria Bethânia. A segunda versão foi gravada em 1976,
sendo já um reflexo do que se passara em Novembro de 75 em
Portugal, e do fim do período mais revolucionário que por cá se tinha
vivido.)


" Com relação a Portugal já havia um precedente, mesmo porque
Calabar tinha essas implicações... Na época, Portugal ainda vivia
debaixo do fascismo, né?... Marcelo Caetano.... E Calabar mexia
um pouco com esse problema. E tinha aquela canção que dizia:
"Ah, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, um dia vai tornar-se
um imenso Portugal"... E isso era uma ofensa, entende, a Portugal
e ao Brasil, né? Então, quer dizer, eles vestiram a carapuça...
Mais tarde veio a revolução portuguesa, em 1974, aí a música que
já estava proibida, ficou mais proibida ainda. Porque o Brasil
tornar-se um imenso Portugal, virou uma afirmativa muito sub-
versiva, muito perigosa. E é claro que a revolução portuguesa
mexeu muito com os brios das pessoas aqui no Brasil. Assunto
"Portugal" ficou sendo muito perigoso, muito delicado. Era um
tabu falar de Portugal. Eu por outro lado, estava bastante empol-
gado com aquilo, né? E fiz essa canção "Tanto Mar". Que foi
proibida. Agora, que ela foi liberada, eu me senti até... Como é
uma música, essa sim bastante circunstancial, se referindo
mesmo à revolução portuguesa de 74, que já não é... que já mu-
dou de caminho, etc... Eu me senti agora obrigado a mudar a sua
letra, ela ficou alterada, não é mais como era, entende? A letra se
refere a Portugal, assim um pouco... Um tempo passado, pro-
jectando também para um futuro, assim, de... de esperança."

24 abril, 2006

doce surpresa

- Papá, eu e a mãe temos uma surpresa para ti!
- Ai é...
- Adivinha lá, é uma coisa de comer!
- Que será? Deve ser uma coisa boa...
- Apresento-te aqui... os CHICOS de Limão!!
- Biscoitos?! Que nome tão giro têm!
- Ora! Têm o nome igual ao teu!
- Achas que são docinhos ou amargam como os limões?
- Claro que são docinhos. Abre lá que eu quero comê-los.
- Acho que primeiro merecem uma fotografia...

Enquanto trato disso, põe-se a cantarolar à volta da mesa.
- Eu vou comer o meu pai! Eu vou comer o meu pai!
Abro por fim o saco dos biscoitos, e corro aqui para o teclado
para escrevinhar umas frases, antes que me esquecesse da cena.
Lá de baixo, da sala, ouço-a gritar:
- És muito saboroooooso... pai!
Mais tarde, quando me preparava para guardar isto como draft,
ela chega ao pé de mim e diz:
- Ó pai, não queres provar um? Não queres saber se gostas de ti?

Nham, nham.
Tenho escrito.

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© 2006

23 abril, 2006

café amargo

Peço um café cheio. Estou em pé, ao balcão. As mesas estão todas
ocupadas, gente mansamente excitada. Para muitos, o lazer e o
prazer de mais um fim-de-semana prolongado.
Para além da janela, a primavera ainda indecisa, mas está sol.
Pouso os jornais sobre a pedra fria do balcão, com mil receios de
mandar para o chão os pires ordenados em filinha, como se
fossem pára-quedistas prontos a saltar no vazio.
Peço também um copo de água. A olhar a relva ajardinada do
exterior, lembro-me de não ter visto ainda este ano, os perfu-
mados cravos, nem sequer as alegres papoilas. As rubras flores
desta época. Só me recordo de ter visto nas bermas das estradas
as ubíquas maias, mil veredas e colinas atapetadas de amarelo.
Abro o pacote de açúcar. Estou entretido a pensar se irei este
ano comemorar o vinte-e-cinco de abril. Se fará sentido tentar
arranjar algum cravo, o simbólico cravo. Mexo a colher, fazendo
desaparecer o belo creme. Ao mesmo tempo, começo a ler "O
patriotismo português", a crónica que fecha o Público de sábado,
do Vasco Pulido Valente.
"Vêm aí as comemorações do "25 de Abril"..."
O café está a saber-me mal. Confiro se é mesmo Buondi. Aperto
o saquinho de papel o mais possível, até ao último e milimétrico
grão de açúcar.
"Salazar criou um Portugal de hipocrisia,
pobreza e respeitinho, que é melhor esquecer.
E, para cúmulo, o PREC transformou a liberta-
ção final numa querela rancorosa e a democra-
cia que dali saiu andou até agora, indecente-
mente, aos trambolhões."
Sorvo a custo o gole final, a boca azeda, nunca o café me soube tão
amargo. Digo que quero pagar. Quero sair dali, quero ir lá para
fora, inclinar a cabeça para o azul magnífico do céu, polvilhado de
inspiradoras nuvens brancas.
Já nem quero ler o "Casino Portugal" do Miguel...
É que estes dois gajos têm quase sempre a maldita da razão!
Vou deixar de comprar jornais ao fim-de-semana.
Quem sabe se assim o bom tempo chegará mais depressa...
Quem sabe se assim o calor chega mais depressa ao meu amar-
goso coração...

22 abril, 2006

Susanne Themlitz

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© 2006



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© 2006 (exposição "O Estado do Sono", Culturgest, Porto)

21 abril, 2006

o estado do sono

criaturas estranhas. absortas. letargia. tempo congelado.
hibernação. suspensão. onirismo. personagens intrigantes.
colmeias. apicultura. um avião rudimentar. infância.
filme povoado de estátuas insólitas.
fantásticas ou fantasmáticas.
uma cama que não conseguiu voar?


texto que fiz, em grande parte, a partir das palavras encontradas
- como se o descarnasse - no texto de apresentação, da autoria
de Miguel Wandschneider, da exposição "O Estado do Sono"
de SUSANNE THEMLITZ, artista nascida em Lisboa em 1968.
A ver na Galeria da Culturgest no Porto.


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© 2006

20 abril, 2006

500 anos de esquecimentos

Ontem, passaram 500 anos exactos sobre um dos mais negros
acontecimentos da nossa História. O nosso progom. O nosso
holocausto. Um dos primeiros degraus do nosso tombo, do
declínio, porventura imparável, de Portugal.
Uma história que nunca me contaram, que nunca me ensinaram.
Ignorância minha, é certo, agora resolvida em resultado de
todo o debate e discussão, pelas melhores ou piores intenções,
entretanto despoletados na blogosfera à volta de tão triste data.
Um massacre olvidado, silenciado, escondido.

Ontem, suprema das ironias, foi apenas notícia um ano de
papado de Bento XVI...
Ontem, ironia das ironias, foi sobretudo notícia a abertura do
casino de Lisboa.
O céu sobressaltado num fogo-de-artifício tão pueril como
indecente. Luzes ruidosas, bailando efémeras no céu como um
reflexo perverso daquilo que se passava no chão do Rossio,
velas acesas em memória das vítimas, simples lembrança pelo
destino tão funesto dos nossos compatriotas, singela homena-
gem aos nossos infelizes antepassados.

Hoje, até por revolta com tão indigna agenda, acendo eu a
minha vela por eles.

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© 2006

para lá da moldura da janela

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© Dezembro, 2003

Onde antes havia sublimações há agora evasões...

" O ouriço espinhoso secou, no alto do velho castanheiro manso
cuja copa se escondia para lá da moldura da janela, e a castanha,
brilhante e madura, rompeu a cápsula que a envolvia. Embateu
num galho próximo, mudou ligeiramente de trajectória, arrepiou
algumas folhas longas e dentadas, já amarelecidas, e, desampara-
da, embateu, segundos depois, junto ao caule lenhoso, na manta
morta que lhe amorteceu o impacto.
Os raios de luz, enfraquecidos por uma inclinação que se acen-
tuara nos últimos dias, dispersavam a sua já débil energia, inca-
pazes de conservar morno o entardecer. Um chuvisco juntou-se
ao quadro e as suas gotas, miúdas e espaçadas, depressa despon-
taram o odor inebriante a terra húmida que se misturou com o
perfume adocicado da marmelada ao lume.
Distinguiu um arrulhado, ao longe, sobre o som balsâmico dos
pingos a desfazerem-se no tapete alaranjado de folhas caducas.
Seria uma rola atrasada para a sua grande cruzada migratória ou
talvez uma daquelas que já se escusavam a partir para terras
pouco mais quentes. Quando a passagem da colher de pau pelo
doce viscoso deixou um sulco perfeito que denunciou o fundo da
panela, desligou o aquecimento e desviou o olhar na direcção da
janela, demorando-o nos galhos retorcidos e desarmados, numa
ausência vaga que, antes de ser processada, foi interrompida pelo
ranger de molas que chegava do primeiro andar. Aproximou-se
das escadas e falou para cima:
- Deixei-te um colete de malha em cima da cadeira do quarto.
Veste-o. Enquanto dormias, arrefeceu bastante. (...)"

texto de Bárbara Vale-Frias


19 abril, 2006

cantinho no paraíso

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© Porto, 2006

18 abril, 2006

Doze *

* Um de entre os cem pequenos grandes romances que dão cor-
po a "Centúria", uma obra ambiciosa do milanês Giorgio Manga-
nelli, de um humor a parecer quase absurdo, de uma ironia
clínica mas subtil. Um livro sugerido - se não me trai a memória
de uns bons quinze anos passados! - pelo meu amigo Pedro
Serrazina, livro esse que li com tal comprazimento e do qual
guardo, ainda, os gratos dias de leitura que resolvi voltar a ele
para deixar aqui, uma vez por outra, um dos seus tais cem ro-
mances, pequenos só no formato.

" Um senhor jovem e de aspecto mediamente culto, frequentador
de cinema e amante de chinesices, espera, na esquina de duas
ruas pouco frequentadas, uma mulher que julga fascinante, genial,
de delicada beleza. É o seu primeiro encontro, e ele saboreia a
humidade do ar - é fim de tarde - e compraz-se com os raros
passantes, ornamento dos seus solitários pensamentos. O senhor
jovem chegou cedo, nada o humilharia mais que a ideia de
fazer esperar aquela mulher. Sempre que encontra essa mulher,
que nunca viu a não ser na companhia de estranhos, ele experi-
menta um sentimento misto, que evita à justa o desejo e inclui à
viva força a veneração, o respeito, a esperança de fazer por ela
algo de agradável. Há muito que não experimentava por uma
mulher uma mescla tão rica e feliz de sentimentos. Descobre-se
levemente orgulhoso de si, e percorre-o um arrepio de vaidade.
Naquele momento, quando se apercebe de que está envolvido
por sentimentos a que renunciara, e que não aprecia, dá-se conta
do que está a fazer. Dirigiu-se a um encontro marcado. Nada o
prova, mas este poderia ser o primeiro de uma longa série de en-
contros. Enquanto um leve suor de angústia e de esperança lhe
aflora a fronte, pensa que a esquina daquelas ruas poderia dar
início a uma "história", um inesgotável repositório de recordações.
Algo lhe diz, bruscamente: "Aqui começa o teu casamento". O
passo rápido de uma mulher fá-lo estremecer. "Começa agora?".
Faltam poucos minutos, e algo nos astros, nos céus de estrelas
fixas, na contabilidade dos anjos, no querer dos deuses, na ma-
temática da genética começará a rodar. Ela apoiará a mão no
seu braço e iniciará um percurso que não terá fim. Uma casa va-
zia os espera, felicidade óbvia, lento murchar, crescimento de
filhos, primeiro lento, precipitado depois. Naquele momento, o
seu rosto torna-se manhoso, mau; lembrou-se de que é um covar-
de. Deseja, ao mesmo tempo, salvação e perdição, e ignora qual
seja uma e outra. É um incendiário, e tem sono. A tarde tornou-se
noite, a mulher fascinante não veio. Insulta-a em voz baixa, e quan-
do uma rapariga tímida lhe pede uma informação, finge conside-
rá-la uma prostituta que se enganou no cliente."

17 abril, 2006

dar a dor a beber

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© Porto, Janeiro 2006

16 abril, 2006

páscoa chuventa

cinzenta, pardacenta, amarguenta.
meu dia sem paixão.
(eu sei que o dicionário não tem as palavras que me vão pela
alma...)

15 abril, 2006

um ano de música no ar

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© Novembro 2005

caixa de música

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© Junho 2005

Quem lhe resiste?
Quem não cai sempre no pecadilho de a fotografar como se fosse
o primeiro?
Quem não se deixa seduzir pelo novo ícone do Porto?
Como a Torre Eiffel. Como a Estátua da Liberdade. Como o
Guggenheim em Bilbau. Como o Cristo Redentor no Corcovado.
Como o Taj Mahal. Como o Parténon. Como Macchu Picchu.
Como a Sagrada Família de Gaudi. Como o Big Ben.
Como a Torre de Belém. Como o Arco do Triunfo.
Como o Empire State Building. Como a Torre dos Clérigos.
Quem não cai na tentação de qualquer turista?
Quem não louva a inspiração, o esforço, a loucura esperançosa
dos homens que empreenderam e eternamente surpreendem
com tais maravilhas?
Quem lhe resiste?
Eu não mas sei que por vezes sou um arrebatado...

14 abril, 2006

socorro

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© 2006

13 abril, 2006

o primeiro amor

Também eu não resisti a assinalar aqui a efeméride - o ter feito
hoje 100 anos que o Nobel irlandês nasceu em Foxrock, um
subúrbio de Dublin.
Samuel Beckett, um nome nascido para sempre.
Um livro que faz parte da minha vida, numa edição da Hiena de
meados dos anos oitenta, e tradução de Rui Caeiro. Uma novela
algo autobiográfica, escrita em 1945 mas só publicada em 1970.


"(...)
Mas para passar agora a um assunto mais alegre, o nome da
mulher com quem por essa altura me liguei, o primeiro nome,
era Lulu. Pelo menos era o que ela me dizia e não vejo que
interesse podia ter em mentir-me, a esse respeito. Evidente-
mente, nunca se sabe. Como não era francesa dizia, Loulou.
Eu cá, não sendo também francês, dizia Loulou como ela.
Dizíamos ambos Loulou. Comunicou-me igualmente o seu nome
de família, mas esqueci-o. Devia ter tomado nota num bocado
de papel, não gosto de esquecer os nomes próprios. Conheci-a
quando estava sentado num banco, à beira do canal, de um dos
canais, porque a nossa cidade tem dois, mas nunca soube distin-
gui-los. Era um banco muito bem situado, encostado a um mon-
te de terra e de detritos secos, de maneira que a minha reta-
guarda estava coberta. Os meus flancos também, parcialmente,
graças a duas árvores veneráveis, e até mortas, que defendiam
o banco de um lado e doutro. Foram sem dúvida estas árvores
que sugeriram a alguém a ideia do banco, num dia em que ba-
louçavam com todas as suas folhas. Em frente, a alguns metros,
passava o canal, se é que os canais passam, eu cá não sei nada,
e isso fazia com que também por esse lado eu não me arriscasse
a ser surpreendido. E contudo ela surpreendeu-me. (...)"

descanso

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© Ponte de Lima, 2006

12 abril, 2006

religião e moral em tempos de quaresma

- Ó pai, Jesus deve ser o homem com mais namoradas que há!
Abro um sorriso de espanto e incredulidade. Mas não digo nada.
- É, é...tantas freiras que estão casadas com ele!
- Mas não quer dizer que sejam namoradas dele... - acabo por
dizer, com bem pouca convicção.
- Então, o que quer dizer as alianças que têm nos dedos?
- Há muita gente que usa aliança e que não está casada com
ninguém.
- E os freiros também estão casados com Jesus? - inquiriu ela,
na inocência dos seus sete anitos.
- Não são freiros...são freis... ou melhor, são frades.
- Então, se fossem casados com ele, eram frades gays.
- Não digas tolices...
-E, ó pai, a mãe de Jesus chama-se Maria ou nossa senhora de
Fátima?
- Fátima é só porque dizem que apareceu numa terra chamada
Fátima...
- Não dizem...Ela apareceu mesmo aos pastorinhos, tu não
acreditas?
- Nem sempre acredito em todas as histórias que se contam por
aí...
- Tu não és desta família! Tu não és desta religião! Só acreditas
na religião da segunda guerra mundial. Só te interessas por
homens maus.
- Não, meu amor...Andas a aprender mal o que te estão a ensinar
na escola... As guerras não são nenhuma religião.
- Ó pai, isso não se aprende nada na escola!

11 abril, 2006

hera uma vez

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© Paredes de Coura, 2006

10 abril, 2006

no tempo sem pressa

dois iludidos da alquimia das imagens,
perdidos nos caminhos de Santiago,
na sombra cristalina de águas puras,
insana demanda, um filme-promessa.

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© Abril 2006

09 abril, 2006

"The End of the Moon"

"(...) Apaguem as luzes!
Chega aqui, meu amor. Tu sabes que te amo.
Mas quando finalmente começo a chorar,
as lágrimas do meu olho esquerdo correm
porque te amo
e as lágrimas do meu olho direito correm
porque não te suporto.
Por vezes acho que consigo sentir
o cheiro da luz."

pequeno excerto do maravilhoso texto de Laurie Anderson,
que, em dia feliz, me veio parar às mãos por gentileza da
Cristina Fernandes, ou melhor, da Cristina Woehringen...

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fotos promocionais de The End of the Moon: (da esq. para a dir.) a 1ª de Maggie
Soladay, a 2ª e a 5ª de Kevin Kennefick, as outras três de Daniel Colish.

08 abril, 2006

ilu?minados caminhos

e o cara que anda por aí cheio de sabedoria...

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© Porto, Janeiro 2006

hermeneuta Ulisses
navegador do sentido
polar
hermes guia o barco
das almas

poema de Moloi

07 abril, 2006

ver crescer

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© Fevereiro, 2006

06 abril, 2006

coisas simples

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© Porto, 2006

05 abril, 2006

every man for himself

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© 2006 (trabalho sobre as capas do LP de Laurie Anderson, "Big Science")


Isto aqui é sobre o meu tempo.
Isto é o registo do meu tempo, da memória do tempo.
O meu tempo vivido e o apenas sonhado.
Um dos discos que me iluminou a vida.

04 abril, 2006

coração ventoso

as palavras passam ao largo do meu corpo.
passam como peixes de mares exóticos
em documentários de televisão.
passam como títulos de jornais.
como vozes em zaragatas de autocarro.
passam sujas, anódinas, anónimas.
passam absurdas, indecifráveis, deléveis.
passam, sobretudo, rápido.

passam como estrelas cadentes.
como distantes cometas.
feixes de pulsões eróticas.
acometimentos.
passeiam-se como memórias de sonhos.
sempre me ultrapassam.
não chegam a aquietar-se.
a pairar como eternas nuvens.
nunca me chegam as palavras.
nunca chovem.
passam.
meramente passam.
tudo levam.
meu ventoso coração.

03 abril, 2006

todos os tangos do mundo

para bem celebrar os três anos do Bomba Inteligente.
e, ainda que atrasados, os meus parabéns à Charlotte por tão
bela e distinta casa, onde quase sempre acordamos com e
para a pura perfeição...

02 abril, 2006

rapazes a jogar

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© 2006

01 abril, 2006

não, não é mentira!

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imagem recebida por e-mail
(as piores capas de discos de sempre)

Eu também tenho dois amores:
um país que muitas vezes me entristece,
ou o país que ao mesmo tempo me enternece...