25 abril, 2006

a revolução pelo Chico

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(Do DVD "Vai Passar", o terceiro de uma série retrospectiva sobre a
obra de Chico Buarque. Aqui o compositor refere-se à sua canção
"Tanto Mar", cuja primeira versão fora censurada pela ditadura bra-
sileira. Foi gravada na íntegra, pela primeira vez, num espectáculo
ao vivo com Maria Bethânia. A segunda versão foi gravada em 1976,
sendo já um reflexo do que se passara em Novembro de 75 em
Portugal, e do fim do período mais revolucionário que por cá se tinha
vivido.)


" Com relação a Portugal já havia um precedente, mesmo porque
Calabar tinha essas implicações... Na época, Portugal ainda vivia
debaixo do fascismo, né?... Marcelo Caetano.... E Calabar mexia
um pouco com esse problema. E tinha aquela canção que dizia:
"Ah, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, um dia vai tornar-se
um imenso Portugal"... E isso era uma ofensa, entende, a Portugal
e ao Brasil, né? Então, quer dizer, eles vestiram a carapuça...
Mais tarde veio a revolução portuguesa, em 1974, aí a música que
já estava proibida, ficou mais proibida ainda. Porque o Brasil
tornar-se um imenso Portugal, virou uma afirmativa muito sub-
versiva, muito perigosa. E é claro que a revolução portuguesa
mexeu muito com os brios das pessoas aqui no Brasil. Assunto
"Portugal" ficou sendo muito perigoso, muito delicado. Era um
tabu falar de Portugal. Eu por outro lado, estava bastante empol-
gado com aquilo, né? E fiz essa canção "Tanto Mar". Que foi
proibida. Agora, que ela foi liberada, eu me senti até... Como é
uma música, essa sim bastante circunstancial, se referindo
mesmo à revolução portuguesa de 74, que já não é... que já mu-
dou de caminho, etc... Eu me senti agora obrigado a mudar a sua
letra, ela ficou alterada, não é mais como era, entende? A letra se
refere a Portugal, assim um pouco... Um tempo passado, pro-
jectando também para um futuro, assim, de... de esperança."

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