o primeiro amor
Também eu não resisti a assinalar aqui a efeméride - o ter feito
hoje 100 anos que o Nobel irlandês nasceu em Foxrock, um
subúrbio de Dublin.
Samuel Beckett, um nome nascido para sempre.
Um livro que faz parte da minha vida, numa edição da Hiena de
meados dos anos oitenta, e tradução de Rui Caeiro. Uma novela
algo autobiográfica, escrita em 1945 mas só publicada em 1970.
"(...)
Mas para passar agora a um assunto mais alegre, o nome da
mulher com quem por essa altura me liguei, o primeiro nome,
era Lulu. Pelo menos era o que ela me dizia e não vejo que
interesse podia ter em mentir-me, a esse respeito. Evidente-
mente, nunca se sabe. Como não era francesa dizia, Loulou.
Eu cá, não sendo também francês, dizia Loulou como ela.
Dizíamos ambos Loulou. Comunicou-me igualmente o seu nome
de família, mas esqueci-o. Devia ter tomado nota num bocado
de papel, não gosto de esquecer os nomes próprios. Conheci-a
quando estava sentado num banco, à beira do canal, de um dos
canais, porque a nossa cidade tem dois, mas nunca soube distin-
gui-los. Era um banco muito bem situado, encostado a um mon-
te de terra e de detritos secos, de maneira que a minha reta-
guarda estava coberta. Os meus flancos também, parcialmente,
graças a duas árvores veneráveis, e até mortas, que defendiam
o banco de um lado e doutro. Foram sem dúvida estas árvores
que sugeriram a alguém a ideia do banco, num dia em que ba-
louçavam com todas as suas folhas. Em frente, a alguns metros,
passava o canal, se é que os canais passam, eu cá não sei nada,
e isso fazia com que também por esse lado eu não me arriscasse
a ser surpreendido. E contudo ela surpreendeu-me. (...)"
hoje 100 anos que o Nobel irlandês nasceu em Foxrock, um
subúrbio de Dublin.
Samuel Beckett, um nome nascido para sempre.
Um livro que faz parte da minha vida, numa edição da Hiena de
meados dos anos oitenta, e tradução de Rui Caeiro. Uma novela
algo autobiográfica, escrita em 1945 mas só publicada em 1970.
"(...)
Mas para passar agora a um assunto mais alegre, o nome da
mulher com quem por essa altura me liguei, o primeiro nome,
era Lulu. Pelo menos era o que ela me dizia e não vejo que
interesse podia ter em mentir-me, a esse respeito. Evidente-
mente, nunca se sabe. Como não era francesa dizia, Loulou.
Eu cá, não sendo também francês, dizia Loulou como ela.
Dizíamos ambos Loulou. Comunicou-me igualmente o seu nome
de família, mas esqueci-o. Devia ter tomado nota num bocado
de papel, não gosto de esquecer os nomes próprios. Conheci-a
quando estava sentado num banco, à beira do canal, de um dos
canais, porque a nossa cidade tem dois, mas nunca soube distin-
gui-los. Era um banco muito bem situado, encostado a um mon-
te de terra e de detritos secos, de maneira que a minha reta-
guarda estava coberta. Os meus flancos também, parcialmente,
graças a duas árvores veneráveis, e até mortas, que defendiam
o banco de um lado e doutro. Foram sem dúvida estas árvores
que sugeriram a alguém a ideia do banco, num dia em que ba-
louçavam com todas as suas folhas. Em frente, a alguns metros,
passava o canal, se é que os canais passam, eu cá não sei nada,
e isso fazia com que também por esse lado eu não me arriscasse
a ser surpreendido. E contudo ela surpreendeu-me. (...)"
1 Comentários:
Tem sido um prazer visitar-te, mas hoje mais do que nunca!
Trouxeste-me à memória os meus dois amores - o primeiro, obviamente, com quem partilhava Beckett até à quase exaustão (se tal fosse possível); e um outro, não menos intenso, o próprio Beckett, que nunca permiti que saísse de mim para ganhar forma na sempre-por-escrever monografia de fim de curso...
Às vezes é bom sacudir o pó às recordações...
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