31 maio, 2006

"à escuta de tudo aquilo que quer passar em silêncio"

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© Porto, 2006

30 maio, 2006

o segredo de um coração traído

Hoje, ao fim da tarde, em Lisboa, o livro de um amigo.
Um livro ilustrado com as suas maravilhosas, fantásticas
pinturas. Um livro em que as imagens têm o mesmo protago-
nismo que as palavras.
Um novo livro, depois do belíssimo e bem-sucedido "Nem Tudo
Começa Com Um Beijo" de há um ano atrás, e ainda de
"Comandante Hussi", primeira obra desta singular parceria.
Sábado, dia 3 de junho, também pela tardinha, será no Porto,
na FNAC de Sta Catarina. Depois haverá festa junto ao mar.


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29 maio, 2006

o sal sobre o sul

o sal sobre o sul
o mel larvar o mal
sabre sobre a carne
sabor são do mar
o sol em marte


tal verão azul
a luz insana da cal
meu corpo inane
o amor a lavrar
em toda a parte

28 maio, 2006

um desastrado que vive nas nuvens

- Ó pai, sabes quem vive nas nuvens?
- Quem vive nas nuvens?
- Sim...são os anjos que vivem nas nuvens.
- Sim, sim... diz-se que por lá vivem os anjinhos...
- E também lá vive o pai-natal. Quando o céu está vermelho é
porque ele deixou queimar o arroz de tomate.
- Mas eu acho que se fosse assim, o céu ficava mais cinzento
que avermelhado.
- Então é porque se calhar deixou entornar a massa à bolonhesa!
- Vamos mas é acabar com a conversa, senão ainda vai começar a
chover a potes!

27 maio, 2006

devaneio balsâmico

À espera, numa farmácia.
Senhoras idosas com todas as maleitas do mundo.
O tempo demorado como na província.
Quase desesperado, ponho-me a ler a publicidade.
"Lip Balm".
- E hoje o que necessitam os seus lábios?
- Sei lá! Dos seus!

26 maio, 2006

aqui não há patinhos feios

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© Porto, 2006


E parabéns à Silvia, pelos dois anos do seu vivíssimo blogue.
Onde emoções e razões nos desafiam à flor da pele.
Uma mulher a crescer. A saber-se. Sem filtro.
Uma rapariga com a força do norte.
Pena é que o Porto esteja sempre a perder pessoas assim, para
essa aranha devoradora que tantas vezes me (a)parece Lisboa...

25 maio, 2006

In the mood for...

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"Há uma preciosidade imediatamente implicada em tudo o que
Joana Rêgo faz. A sua arte é marcada, antes de mais, pela depu-
ração perfeccionista de quem procura no detalhe uma satisfação
rigorosa. O rigor, aqui procurado, passa por uma condição gráfica
evidente, onde o quadro assume uma componente eminente-
mente estética, alheando-se de uma tentativa mais fácil de se
ater em emoções. Este afastamento em relação à expressividade
não retira, quanto a mim, a condição poética do trabalho desta
artista. A delicada harmonia das suas formas, a melódica compo-
sição das minúsculas estruturas narrativas em que resultam as
partes integrantes de cada quadro, mais a preferência por um
certo belo flagrante e assumido, tornam o espectáculo da sua
pintura uma experiência de profundo lirismo.(...)"

excerto de "Ourivesaria Alimentar", texto de valter hugo mãe
sobre a pintura de Joana Rêgo, que define com precisão aquilo
que também sinto em relação a esta artista plástica, cuja obra,
também por amizade, venho acompanhando nos últimos anos.

A ver a partir das 22 horas do próximo sábado, dia 27 de Maio,
na Galeria Nuno Sacramento, em Aveiro, esta sua nova exposi-
ção de pintura: "In the mood for..."
Estará patente até 30 de Junho.
A não perder. Tal deleite.

24 maio, 2006

poema de um tempo distante

Ontem soube que um dos meus poetas mais queridos, José
Agostinho Baptista, um dia já aqui evocado neste meu es-
paço, tinha sido o vencedor do Grande Prémio de Poesia da
Associação Portuguesa de Escritores, 2004, que distinguiu o
livro Esta Voz É Quase O Vento.

E os ventos da memória levaram-me até a um inverno antigo.
Um tempo solitário numa cidade distante que passei a amar.
Um tempo e um lugar em que já tudo se afastou.
Estava em Barcelona. Gozava uns dias de liberdade e reflexão,
depois de um longa convalescença, depois de uma espécie de
milagre que me livrou da morte.
Uma tarde, numa esplanada a curtir o sol do fim de tarde medi-
terrânico, a ler As Canções Da Terra Distante, senti-me levado,
não sei já por qual perversa tentação, a fazer um poema com
palavras que não fossem minhas, a elaborar uma montagem de
frases ou versos literalmente roubados, a tornar assim também
meus esses 22 versos ou frases, praticamente um por cada um
dos vinte textos que davam corpo ao livro que estava a ler.
Creio ter conseguido um poema novo, autónomo, de alma plena
ainda que com sangue alheio.
Com o sangue de um poeta maior.
Mas sangue onde me senti.
Por isso, nunca me consegui desfazer desse texto.


Eu não dizia nada. Eu já não sei que perfil
decidia aquela face de tremenda solidão.
Onde te escondes, minha alma?
Ontem e hoje é apenas um rio que corre em mim.
Desastrosa vida. Agora é fácil. É fácil morrer.
Matou-me o amor.
O amor é apenas uma ilha onde cabe a dor da vida.
Já estava escrito que morria.
E o mar aprisiona os rapazes na maré que sobe pelas suas vidas.
(O teu nome breve escrito aqui, escrito em mim.)
Agora pareço o que sou, o que pouco valho, o que pouco digo.
Eu estou aqui mas não sei quando.
Só outro vinho distrairá o teu sonho de amantes,
o teu desgosto.
Estremeço. Só eu sei como cantava. Aos teus pés secaram
todas as lágrimas. Será isto a morte?
Há um tom fúnebre que desce sobre a minha vida.
Os meses fecham-se à volta do coração.
Ele sabe que pode matar, que pode morrer espantosamente:
quem eras tu, donzela de satã, arrebatando a minha lira?
Queria uma estação de cerejas eternas. Toda a virtude
reside nas fontes sem mácula do coração que ama,
do coração solitário.
Ignorar o meu nome, a minha casa, as minha sementes.
Quem escreve, escreve só, no ocaso das cidades.
Que espero ainda?

Barcelona, janeiro 95

23 maio, 2006

no silêncio majestoso da montanha,

a respiração inocente da terra,
meu coração em júbilo,
a pedra anoitecida.

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© Maio, 2006

22 maio, 2006

a ver filmes em postais antigos

roubar ou então pedir emprestado
(frase que me assalta de novo)
a vidas de insuspeitos destinos.
a felicidade plena e fugaz,
apenas entrevista, plasmada
em antigas fotos a preto-e-branco.


como eu gostava de estar em Cannes.
a ver filmes, claro.
o tempo todo do mundo para a fome de cinema.
o tempo todo para o cinema por fome de mundo...

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(Cannes, La plage / photographie véritable, data desconhecida)

21 maio, 2006

hora h

reaprender devagar a ler palavras antigas.
palavras de um verão antigo. lembrar os nomes das cidades
desejadas. lembrar o sabor da sede. as viagens começadas
nas palavras. e depois na boca a saliva.
um verão que ardia. fugiu-se desse calor. fugiu-se também de
amores magoados. a procurar razões nos subúrbios do amor.
linhas paralelas que encontrassem um qualquer futuro. mas
nunca as feridas loucas da paixão. um comboio que começou na
sua boca seca.
reler de mansinho suas palavras como que sensoriais, as suas
frases sempre muito photográficas:

"Levo vinte maços de cigarros e um caderno sem história. Um
gancho para atar o calor, preso ao cabelo."


daqui um beijo com rumo a sul e um travo de gin.
para ti, mulher azul.


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© Praga, Agosto 1990

20 maio, 2006

os olhos mareados de nuvens

calor que me chega num soluço
deus suave no esplendor do céu
choro de poeta não será solução
assim o poema a decantar ao sol

amor que procuras triste marujo
noite e incêndio no colossal farol
sereias em meus olhos de moço
livres os versos em voo pleno

sob o intangível e azul chapéu
aves silentes ou meu canto sujo
porto e abrigo de qual coração?
dor que chega em doce veneno

19 maio, 2006

"the only thing to come now is the sea."

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© 2006

18 maio, 2006

roubar ou pedir emprestado

roubar ou pedir emprestado
o amor
o nome das flores
a carne vívida de um sorriso

roubar ou pedir emprestado
a botânica alegria
sob a pele de um corpo sábio
o bálsamo luminoso de um olhar

roubar ou pedir emprestado
o calor insano do verão
um coração
que me roube

17 maio, 2006

uma aventura poética

La première fois que jái vu Édouard Boubat, c'est sur une photo.
Cette photo était le seul ornement d'un mur, celui de la chambre de la
soeur d'Édouard. Frère et soeur avaient des chambres d'étudiants con-
tiguës, sous les combles. Et cette photo, je l'ai longtemps regardée. Cela
se passait sous l'Occupation.
Second image: jeunes filles, jeunes gens, nous dévalons bruyamment un
escalier noir comme l'enfer, sans crainte de nous rompre le cou. Première
à descendre (derrière moi les rires et les chants des amis, celles-ci sorties
comme moi de l'École d'arts appliqués de la rue Duperré, ceux-là de
l'école Estienne), j'aperçois du haut du premier étage et dans un rectangle
de lumière qui m'èblouit - l'embrasure de la porte d'entrée - un long jeune
homme vêtu de vert. Je le "remets" tout de suite. Me frappent instantané-
ment et avant même de l'avoir approché, son attitude rêveuse, son "inno-
cence" et un air de bienveillance sereine épandu dans toute sa pérsonne.
Un pressentiment me dit, à moi qui n'en ai jamais et qui en outre ne me suis
jamaias intéressée aux représentants de l'espèce masculine, que ce jeune
homme m'est destiné et qu'il vient de m'être livré dans un emballage de soleil.
En outre, nourrie que je suis de Dostoïevski et, à cette époque, outrageuse-
ment romanesque, il me semble que quelque prince Muichkine vient de faire
son apparition dans ma vie.
(...)
Autre image: l'hiver. La nuit est tombée. L'une des deux modélistes avec qui
je travaille rue Saint-Florentin (un journal de mode m'a engagée comme
dessinatrice) me dit qu'un jeune homme me demande. Seul dans la cour
pavée, immobile soul la neige qui tombe tellement dru qu'il semble que rien
ne pourra plus arrêter cette hémorragie blanche, le "jeune homme" est là. Il
est venu me chercher. À l'effet de surprise s'ajoute une sensation de froid -
je suis si légèrement vêtue - mais Proust n'a-t-il pas dit que le froid est le
cadre le plus émouvant pour le bonheur? Lorsque Édouard me voit, il se-
coue d'un geste large son chapeau pour le débarraser des flocons qui le
recouvrent. Ce chapeau, c'est le borsalino de Papa que je lui prête de-ci
de-là.(...)

J'ai beau interroger ma mémoire, je ne me souviens pas du moment où,
pour la première fois, j'ai vu Édouard avec son Rolleicord. Ce dont je me
souviens cependant, c'est que ses premiers modèles ont été des jeunes
filles, et Séguis et moi en particulier.
(...)
Nous vivons très exactement à trois dans quatre chambres, dont deux
communiquent. Édouard et moi, nous nous sommes mariés à l'automne.(...)
C'est à peine si nous avons vu Édouard prendre des photos. Mais quand,
avec des pinces à linge, il en accroche les tirages encore ruisselants d'eau
dans la cuisine, sur le fil où nous pendons nos modestes lessives, Séguis et
moi réagissons d'emblée.
Car si décoder un bordereau de Sécurité sociale ou an avis d'imposition
nécessite pour elle et moi un long temps de réflexion, dans le domaine
artistique nous sommes incomparablement plus promptes. Nous ouvrons
les yeaux à l'ingénu. Et, tout aussi ingénument, il nous fais confiance. Nous
trouvons que ce qu'il fait est bien! Sans l'ombre d'une hésitation, il aban-
donne son emploi de photograveur et décide de se consacrer à la photo-
graphie. Actif, confiant, serein, préservé par état de grâce des préoccu-
pations adventices du doute et de l'orgueil, il se voue à sa quête. Et cette
première impression d'innocence qu'il m'avait faite, je l'ai retrouvée dans sa
manière d'aborder le modèle et de le saisir. Ni violence, ni rapt: ses modè-
les sont toujours consentants.(...)

C'est au large de l'île de Groix, au cours de ce séjour en Bretagne où, du
Pouldu, nous avons poussé jusqu'à Pont-Aven, guidés par le souvenir de
Paul Gauguin, d'Émile Bernard et de Paul Sérusier, qu'a été prise la photo
qui est au Metropolitan Museum de York. Appuyée contre le bastingage,
Séguis a son visage très interiorisé des jours où elle est "hors de la réalité et
du présent". Pour ce qui est de mon image, le vent, qui nous est favourable,
lui donne hardiesse et souffle. Photographie que j'ai retrouvée en carte pos-
tale chez des bouquinistes ou en poster au Centre Beaubourg...que les
Canadiens ont appelée Solitude; les Suédois, Liberté...
Il m'a souvent été demandé ce que je pensais de cette photo. Je trouve, ci-
tant Proust à nouveau, qu'elle est un peau chargée de la "substance transpa-
rente de nos minutes les meilleures", celles que nous avons partagées au fil
de nos jeunes années, Boubat, Séguis et moi (avant que le cours des cho-
ses ne nous disperse), pris dans l'enchantement de ce que nous avons vécu
alors et qu'il faut bien appeler une aventure poétique.

Lella F.


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(sobre foto de Édouard Boubat, do livro "Lella", edição Paris
Audiovisuel/Maison Européenne de la Photographie, 1998)




16 maio, 2006

anos-luz

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(sobre foto de Édouard Boubat, do livro "Lella", edição Paris
Audiovisuel/Maison Européenne de la Photographie, 1998)


"LE BAISER VOLÉ"
Aujourd'hui, il y a une lumière particulière.
Maintenant elle est frissonnante.
Cette lumière vient de parcourir (dans l'obscurité) des millions et des

millions des kilomètres pour éclairer cet arbre, ce visage.
Quelquefois une autre lumière nous touche; d'où vient-elle?
Dans un conte, l'oiseau dessiné s'envole du papier. Mais l'oiseau
photographié poursuit son vol.
Pris et Preneur sont unis dans l'instant sublime de la prise de vue, puis

chacun va son chemin.
Après la guerre j'ai encore vingt ans. Tout est possible. J'ai faim de vivre.
Le dimanche je me promène avec les amies de ma soeur. Les jeunes filles

en fleurs sortent de l'école de dessin.
Nous allons au concert du Châtelet en suivant les quais de la Seine.
Nous ne vivons pas une histoire; nous sommes dans notre propre vie,

innocents.
Nous ne nous regardons pas vivre.
J'ai vendu mes grands dictionnaires pour acheter un Rollei. Je ne choisis pas

d'être photographe. Nous sommes dans nos photos. Je m'embarque dans
cette aventure sans carte, sans référence, sans garantie, sans métier (est-ce
vraiment un métier?). Plus tard on me demandera souvent: "Comment
avez-vous commencé?"
(...)
"Un début dans la vie", un titre de Balzac.
Quand on me demande mon secret, je devrais répondre: je chéris les

commencements; les matins de ciel bleu dans une ville étrangère; une faim
nouvelle.
(...)
"En avant: route", Rimbaud.
En poésie il n'y a ni commencement ni fin. Et la photographie partage ce
privilège. Simplement la saisie de l'instant.
Salut l'histoire! Il n'y a plus d'histoire (je veux dire: pas de déroulement, pas
de roman).
Seulement des éclairs, des éclats de lumière.
Une ouverture vers l'infini.
Ce signe 8 (mystère) gravé sur l'objectif.
Tes photos, tu ne les fais même pas, elles sont volées; comme un baisier volé;
avec ton désir et le consentement (non avoué) de l'autre. Plus de vis-à-vis.
Embrasseur et embrassée s'unissent. Photographe et photographiée se
devinent dans la photographie.
Plus tard le photographe (comme un voleur de temps) court encore vers
l'instant irrattrapable.

Édouard Boubat,
3 juillet 1986

15 maio, 2006

Lella

Como sabias, Cristina?
Como sabias deste meu longo desejo?
Deste meu secreto noivado?

Eu sei, eu sei, intuições femininas, insondáveis cumplicidades...

Mas diz-me, amiga, se devo porventura manter a esperança
de algum dia a desposar?
Diz, diz-me se é lícito poder continuar a sonhar com um beijo,
roubado que fosse?

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(sobre fotos de Édouard Boubat do livro "Lella", edição Paris
Audiovisuel/Maison Euopéenne de la Photographie,1998)

14 maio, 2006

conversa lunática

- Sabias, pai, que tenho saudades da lua?
- Saudades da lua??
- Sim, saudades da lua. Não posso?
- Mas como podes ter saudades? Alguma vez já foste à lua?
- Claro, quando estava na barriga da mãe!
- Ah!...Está bem...Eu acho que aí estavas mais no centro do
universo...
- Então, pai, ficaste impressionado por eu ter saudades da lua?
- Não, filhinha...Mas achas que estavas melhor lá na lua do que
aqui na terra?
- Não, mas tenho saudades dela.
- Eu espero é que não queiras viver no mundo da lua...
- Não, pai. Eu só quero ter saudades.
- Tudo bem. Eu também gosto da barriga da mãe.

13 maio, 2006

um beijo roubado para vocês

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© 2006 (sobre foto de Édouard Boubat)

Este blogue fez, portanto, um ano.
(Não foi apenas mero fruto das circunstâncias, mas também
uma pequena provocaçãozita, o facto da minha aparição na
blogosfera ter surgido em vésperas do mariano 13 de maio).
Foi longo o caminho. Longo e inesperado. Tão aberto de possi-
bilidades que eu não suspeitava. Como que uma estrada de
margens vertiginosas, povoada de miragens tentadoras.
Foi também muito prazeirento, uma espécie de vício danado.
Creio que lá fui conseguindo cumprir, uns dias melhor, outros
pior, umas vezes apressado, outras menos inspirado, os pro-
pósitos a que me confiei desde o início.
Lá tenho revelado, deixado transparecer meus segredos, meus
gostos, meus estados de alma. Lá tenho jogado com as minhas
fragilidades.
Tentei não falhar nenhum dia. Só não postei nas minhas férias
de verão, e um ou outro dia no Natal e no Carnaval, por não ter
a rede à mão. De resto, foi sempre um belo esforço.

Mas o mais importante de tudo foram vocês. Sobretudo aqueles
que por cá se foram habituando a passar. Que por cá se foram
fidelizando, deixando quase sempre comentários agradáveis.
Que por aqui vieram sempre por bem.

Hoje sinto que tenho amigos que não conheço.
Verdadeiros amigos, ainda que virtuais.
Já não passo sem as vossas atenções, as vossas
emoções, os vossos carinhos.

Agradeço a todos.
Meu abraço a todos os que aqui deixaram os parabéns.
E um beijo muito especial para a Cristina que me tornou o dia
ainda mais feliz.

Peregrino do meu próprio caminho, este blogue se fará andando.
Agora, aviso já, mais calmo, menos preocupado com a obrigação
de vir cá todos os dias, menos obssessivamente, menos compul-
sivamente.
Para ter um pouco mais de tempo para os livros (hoje só o consigo
para os jornais e os blogues!), para os filmes, os discos, as minhas
crianças.
Para poder respirar um pouco mais o silêncio.

Espero que por cá continuem a passear.
Que venham, se sentem, se sintam como numa esplanada,
como numa varanda sobre o mar.

Mais uma vez, obrigado.
Bem hajam.

12 maio, 2006

...

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11 maio, 2006

o Tom certo

E de lá de Irará, dos confins do sertão baiano, chegou este deus
sábio e louco, mostrando aos de cá, em noite magnífica e memo-
rável, com quantos poucos ossos, e o saber curtido na pele, se faz
a alma sofrida e divertida de um génio.

Uma amiga disse que ele era o último cromo do século vinte.
Outro amigo diz que ele é meio crianção, assim como se fosse
uma criança grande, mestre do disparate certeiro.
Ele próprio, melhor que ninguém, sabe o que é, e com mais graça
define o que procura ser - um ludositor, uma espécie de lúdico
compositor. Um autor, acrescento eu, que brinca com a própria
dor de não ser maior, um poeta sem qualquer temor, um ilusio-
nista da música, um brincador de sons e onomatopeias, um pres-
tidigitador das palavras da nossa língua, um agitador-mor de
todos os lugares comuns, o verdadeiro artista popular, um trova-
dor tropicalista do amor.

Tom Zé, um génio no tom certo.
Um caboclo numa lenta luta que deu certo.

Se não é ainda imortal, por lá anda perto.

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© 2006

10 maio, 2006

a árvore e os frutos

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© Porto, 2003

09 maio, 2006

cat's smile

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aqui volto à mulher do sorriso bonito.
sempre o mais doce dos sorrisos,
não importando se trivial ou especial o instante.
o sorriso ímpar, generoso, franco, desarmante.
um sorriso que enche o universo em seu redor.
que finta qualquer dor.

e daqui te lanço, amiga, meu beijo de parabéns.
que tenhas um dia cheio.

08 maio, 2006

si belle

Não quero que você me coma
Não quero que você me engula
Não quero que você me acorde
Não quero que você me endurma
Não quero que você me assista
Não quero que você me assuma
Não quero que você me corte
Não quero que você me inclua...

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Fragmento da canção "Instante de Dois" e artwork do cd "The Shine
of Dried Electric Leaves", da bela e mui talentosa CIBELLE, por estes
dias a chegar ao Porto. Esperemos que a bom porto.


Não ouço outra coisa. Por estes dias, aliás, não consigo ouvir
outra coisa. Algúem, sem o saber, pergunta-me:
- Já ouviste o novo disco da Cibelle?
- Já o tenho.
- Já saiu?... Eu já saquei algumas músicas na net.
- Eu já o comprei. É muito bom. Eu que até nem gostara
especialmente do primeiro, agora fiquei rendido.
- Não o achas muito minimalista?
- Muitas vezes menos é mais. E também não tenho nada
contra minimalismos.

07 maio, 2006

vésperas

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© 1998

06 maio, 2006

Paris, 1922

palavras. palavras desenhadas de uma forma bela.
caligrafias. palavras ao vento. palavras abandonadas.
palavras esquecidas, perdidas na memória dos tempos.
palavras amigas. palavras sentidas.
palavras resgatadas do passado.
as palavras belas do português antigo.
bohemia. officiaes. augmentar. phenómeno.
palavras sobreviventes. seculares. perenes.
sinais longínquos ainda impregnados de vida.
coisas que me fascinam.
filmes que imagino.
alguém a morar nas ruas tranquilas do Quartier Latin.
noites de boémia animadas por estudantes, dandys de toda a
espécie, soldados americanos, jovens operárias tornadas
esteno-dactilógrafas. a mítica Paris. a vida na raiz da noite.
fortunas estouradas.
meus sonhos de pequenos nadas.

palavras que as leve o tempo.

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(postal comprado numa loja de coleccionismo, do qual ocultei o
destinatário)

05 maio, 2006

o ritual da beleza

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04 maio, 2006

indecisão

como um reflexo
talvez
os olhos não mergulham
ainda
na cativante memória
pantanosa
afogueada
as palavras não se suspendem
no mistério do inexistente
quase nada
da alma não transparece luz

e as próprias palavras
assim errantes
assim morrem sem terem sido
a manchar as lápides
de fantasmas
varrendo os silêncios seculares
de tormentas

03 maio, 2006

music is my secret password

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02 maio, 2006

noite de travessia feliz

"(...)
Pero yo la amaba
Yo veía las cosas más sencillas
Volverse misteriosas
Quando Ella las tocaba
Las estrellas de la noche
Quien sino Ella, las sembraba
Los días de esmeralda
Los pájaros tranquilos
Los rocíos azules
Ella los creaba
Yo me emocionaba
Con sólo verla pisar la hierba

Ah, si tus ojos me miraran todavía! "

(fragmento do poema "Viento del Olvido" de Manuel Scorza,
autor peruano, que abre "Travesías", o novo disco de
Susana Baca)

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© 2006


À espera da límpida voz de Susana Baca.
Ontem à noite, na inevitável Casa da Música.
O caloroso canto negro das américas.
O vivo espírito da canção afro-peruana.
Uma rainha vestida de vida, presunçosa de felicidade.
A elegância pura do corpo.

Pena que a sala não estivesse cheia.
Que o público não conhecesse as canções.
Que a ninguém tivesse fugido os pés para celebrar
tais ritmos da terra...

01 maio, 2006

multi-assalto

Um dia destes, ao passar por uma caixa multibanco, reparo
numa mensagem estranha estampada no écran:
Levanta Portugal.
Como?? O que raio quer isto dizer?
Que se eu levantar uns eurozitos é que o país levanta os pés
do pântano onde se enterrou?
Gastar dinheiro é que é a solução?
Terá começado o mundial da Alemanha?
Será uma mensagem do Scolari?
Ou estará já em vigor a cobrança de uma taxa, em cada vez que
se usar o cartão em que nos deixaram viciar?
Os bancos que continuem desmesurada e descaradamente a
lucrar, a lucrar, a lucrar e nós vamos ver onde isto vai parar...