30 novembro, 2007
29 novembro, 2007
28 novembro, 2007
sociedade (num café do século passado)
- O amigo, por aqui?
- Sim. Parou de chover agora, resolvi vir por aí abaixo.
Pequeno silêncio naquele canto do café. Um, leva o copo de
cerveja choca à boca. O outro, esmigalha aos poucos um jesuíta
entre os dedos. No fim, chupa-os.
- Mas o que é que havia aqui ontem?
O primeiro velho grunhe uma interjeição qualquer, não
percebe a pergunta.
- O que é que havia ontem? Disseste que tinhas vindo cá.
- Eu não sei se vim cá ontem... Não sei bem se foi ontem. Já
não me lembro dos dias...
Sacode as migalhas das calças. Levanta uma perna a custo,
apoia-a noutra cadeira. Observa a bainha das calças. Está
suja de lama. Diz qualquer coisa imperceptível, movimenta
a perna, rodando-a, para o outro ver. Rosna qualquer coisa de
novo. Desta vez entende-se.
- Filha-da-puta! Viu-me e nem ligou! Molhou-me todo!...
Que se foda! Ela e quem lhe deu o carro!
Um terceiro velho está a fazer o seu pedido ao balcão.
Chega à mesa, de pratinho na mão, o guardanapo a adejar,
ameaçando levantar voo.
- Hoje vai de rabanadas!
- Já é natal outra vez??
Silêncio seco e breve. Depois, responde a queixar-se:
- É o que me impinge ali o Fernandinho. Pedi uma coisa mole,
por causa dos dentes, mas isto é mais caro que os pastéis, são
quarenta escudos.
Come. A fina rabanada está a acabar-se depressa. Os lábios
lambuzados tremem-lhe. A língua escura percorre-os. A manga
puída do casaco completa a tarefa, fazendo desaparecer o último
vestígio de açucar.
- É bom. Mas é um roubo... Uma simples fatia de pão, quarenta
escudos!
Chega um quarto homem. É muito alto, um pouco mais novo
que os demais, caminha resolutamente, sem a menor dificuldade,
por entre as desordenadas mesas da cafetaria. Traz o guarda-
-chuva na mão esquerda, a gabardine fechada, levanta o braço
direito até à altura do queixo, diz como se falasse para um
microfone:
- Boa-tarde, meus senhores!
Depois, com o guarda-chuva empunhado, aponta para o
primeiro velho.
- O senhor faltou aqui há dias.
É o segundo velho que se interpõe, clarificando a questão:
- Ele só vem cá às segundas e às sextas, para distribuir os
prémios.
Suspira, enfadado, o que acabara de chegar.
- Pois, a lotaria! Que números! Puto de azar! Seiscentos e
trinta quatro. Em vez do três havia de ser o sete... Sempre
eram sessenta contos. Caralho de azar! Pobre tem que ser
sempre pobre.
- Sim. Parou de chover agora, resolvi vir por aí abaixo.
Pequeno silêncio naquele canto do café. Um, leva o copo de
cerveja choca à boca. O outro, esmigalha aos poucos um jesuíta
entre os dedos. No fim, chupa-os.
- Mas o que é que havia aqui ontem?
O primeiro velho grunhe uma interjeição qualquer, não
percebe a pergunta.
- O que é que havia ontem? Disseste que tinhas vindo cá.
- Eu não sei se vim cá ontem... Não sei bem se foi ontem. Já
não me lembro dos dias...
Sacode as migalhas das calças. Levanta uma perna a custo,
apoia-a noutra cadeira. Observa a bainha das calças. Está
suja de lama. Diz qualquer coisa imperceptível, movimenta
a perna, rodando-a, para o outro ver. Rosna qualquer coisa de
novo. Desta vez entende-se.
- Filha-da-puta! Viu-me e nem ligou! Molhou-me todo!...
Que se foda! Ela e quem lhe deu o carro!
Um terceiro velho está a fazer o seu pedido ao balcão.
Chega à mesa, de pratinho na mão, o guardanapo a adejar,
ameaçando levantar voo.
- Hoje vai de rabanadas!
- Já é natal outra vez??
Silêncio seco e breve. Depois, responde a queixar-se:
- É o que me impinge ali o Fernandinho. Pedi uma coisa mole,
por causa dos dentes, mas isto é mais caro que os pastéis, são
quarenta escudos.
Come. A fina rabanada está a acabar-se depressa. Os lábios
lambuzados tremem-lhe. A língua escura percorre-os. A manga
puída do casaco completa a tarefa, fazendo desaparecer o último
vestígio de açucar.
- É bom. Mas é um roubo... Uma simples fatia de pão, quarenta
escudos!
Chega um quarto homem. É muito alto, um pouco mais novo
que os demais, caminha resolutamente, sem a menor dificuldade,
por entre as desordenadas mesas da cafetaria. Traz o guarda-
-chuva na mão esquerda, a gabardine fechada, levanta o braço
direito até à altura do queixo, diz como se falasse para um
microfone:
- Boa-tarde, meus senhores!
Depois, com o guarda-chuva empunhado, aponta para o
primeiro velho.
- O senhor faltou aqui há dias.
É o segundo velho que se interpõe, clarificando a questão:
- Ele só vem cá às segundas e às sextas, para distribuir os
prémios.
Suspira, enfadado, o que acabara de chegar.
- Pois, a lotaria! Que números! Puto de azar! Seiscentos e
trinta quatro. Em vez do três havia de ser o sete... Sempre
eram sessenta contos. Caralho de azar! Pobre tem que ser
sempre pobre.
27 novembro, 2007
Poesia, s.f.
do encantador-mor das palavras da nossa língua,
o fascinante poeta brasileiro Manoel de Barros
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de
um homem
Designa também a armação de objectos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc.
geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas
loucos e bêbados
o fascinante poeta brasileiro Manoel de Barros
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de
um homem
Designa também a armação de objectos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc.
geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas
loucos e bêbados
26 novembro, 2007
um mundo pouco rosa

© Hospital S.João, Porto, 2007 (fotos de telemóvel)
"(...)
Ele: E não há nada que eu possa fazer enquanto espero...? Tenho
mesmo de estar aqui à espera das análises 3 horas?
Eu: Bem,... não é obrigado a nada, se quiser assinar um termo de
responsabilidade e ir embora...
Ele: Não há assim uma Internet, um Messenger que eu possa usar,
têm aí os computadores (a apontar para aquele onde eu estava a
ver a radiografia de uma doente)...
Eu: Pois, mas estes, como compreenderá são para nós trabalharmos...
Ele: Enfim, é uma tristeza, não há condições... A pessoa quando
vem ao hospital, mesmo que não esteja doente, sente-se mesmo
doente..." *
* Texto parcialmente retirado de um dos meu blogues predilectos. Onde vale
a pena a consulta. O olhar perspicaz da autora, a clínica concisão dos seus
textos, a precisão sapiente das suas palavras.
24 novembro, 2007
não sei falar de control (ainda)
"É claro que não consigo ver Control como um filme. O tempo
que o filme recria foi o meu também; os Joy Division eram os
músicos de que eu mais gostava; eu tinha a mesma idade que
eles; vivia lá nos mesmos lugares; e, mais do que tudo, a músi-
ca deles afectou muito a minha vida."
(Miguel Esteves Cardoso, 10/Nov./2007, Expresso)

© 2007
"Joy Division é só um lugar da música. Onde não há mais
ninguém e é terrível viajar de passagem, é geral ficar e não
poder fugir. Joy Division é só os escombros de uma paisagem,
todas as nenhumas tonalidades do negro fixo, a sorte, e a parte
branquíssima da solidão. Onde não há mais ninguém e o animal,
permanentemente ferido, acha o seu uivo final. Joy Division é
apenas um problema que se pôs à música. E se é trágico que
não tenha solução, é certamente belo conhecê-lo inteiramente.
E dizê-lo.
Que são esses pedaços e cacos que trazem na palma da mão
como se fossem sementes para plantar, bagos para comer?"
(Miguel Esteves Cardoso, Música e Som, Nov./Dez. 1981)
que o filme recria foi o meu também; os Joy Division eram os
músicos de que eu mais gostava; eu tinha a mesma idade que
eles; vivia lá nos mesmos lugares; e, mais do que tudo, a músi-
ca deles afectou muito a minha vida."
(Miguel Esteves Cardoso, 10/Nov./2007, Expresso)

© 2007
"Joy Division é só um lugar da música. Onde não há mais
ninguém e é terrível viajar de passagem, é geral ficar e não
poder fugir. Joy Division é só os escombros de uma paisagem,
todas as nenhumas tonalidades do negro fixo, a sorte, e a parte
branquíssima da solidão. Onde não há mais ninguém e o animal,
permanentemente ferido, acha o seu uivo final. Joy Division é
apenas um problema que se pôs à música. E se é trágico que
não tenha solução, é certamente belo conhecê-lo inteiramente.
E dizê-lo.
Que são esses pedaços e cacos que trazem na palma da mão
como se fossem sementes para plantar, bagos para comer?"
(Miguel Esteves Cardoso, Música e Som, Nov./Dez. 1981)
23 novembro, 2007
22 novembro, 2007
21 novembro, 2007
da rosa fixa (prosa 162)
de Maria Velho da Costa
Vidas jogam-se de uma grande agonia
possível ao Sul. A tormenta não é
geográfica. Ao Norte, o urro contido
assemelha o escarvar do cavalo
da insídia. Só o amor é justiça, ó
abandonados.
Vidas jogam-se de uma grande agonia
possível ao Sul. A tormenta não é
geográfica. Ao Norte, o urro contido
assemelha o escarvar do cavalo
da insídia. Só o amor é justiça, ó
abandonados.
20 novembro, 2007
18 novembro, 2007
"Fifth Avenue", um poema de J.M.Fonollosa
Isto de um homem se sentir só, à saída
do trabalho, do cinema, ao ir pra casa...
Saber que ninguém espera que cheguemos,
para alegrar-se ao ver-nos, ou rechaçar-nos,
torna inimiga, deserta
e inóspita a mais povoada rua.
Os amigos... Contam-me problemas
e com a pressa desandam. E uma pessoa fica
de novo e outra vez sozinha, constrangida
a enroscar-se no seu ego e no seu tédio.
Com que vazio deparamos em nós próprios
quando buscamos o nosso eu interno.
Que ser desagradável se contempla
examinando o nosso próprio ser.
E aqui, entre tanta gente, na cidade,
sentimos que nada interessamos a ninguém.
(do livro "Cidade do Homem: New YorK", tradução de
Júlio Henriques)
do trabalho, do cinema, ao ir pra casa...
Saber que ninguém espera que cheguemos,
para alegrar-se ao ver-nos, ou rechaçar-nos,
torna inimiga, deserta
e inóspita a mais povoada rua.
Os amigos... Contam-me problemas
e com a pressa desandam. E uma pessoa fica
de novo e outra vez sozinha, constrangida
a enroscar-se no seu ego e no seu tédio.
Com que vazio deparamos em nós próprios
quando buscamos o nosso eu interno.
Que ser desagradável se contempla
examinando o nosso próprio ser.
E aqui, entre tanta gente, na cidade,
sentimos que nada interessamos a ninguém.
(do livro "Cidade do Homem: New YorK", tradução de
Júlio Henriques)
16 novembro, 2007
15 novembro, 2007
14 novembro, 2007
13 novembro, 2007
pedras cansadas
as pedras cansadas dos homens,
dos fatigados passos dos homens.
o céu azul mas sem laivos de mel.
uma ampulheta que traz o outono.
meu coração imponderável
recortando os instantes supensos.
ruas juncadas de purpúreas folhas.
lágrimas esmaecidas de um deus
qualquer.
dos fatigados passos dos homens.
o céu azul mas sem laivos de mel.
uma ampulheta que traz o outono.
meu coração imponderável
recortando os instantes supensos.
ruas juncadas de purpúreas folhas.
lágrimas esmaecidas de um deus
qualquer.
12 novembro, 2007
11 novembro, 2007
illuminati, de Artur Rockzane
a inquietude devora-me, fascina-me
o paradoxo acomodou-se na minha canção
- uma cigana assim predisse o meu destino
e ando de asilo em asilo em busca d'iluminados.
do livro "Hortênsio Miraflor - Suicídio e Obra"
edições Quasi, 2001
10 novembro, 2007
09 novembro, 2007
08 novembro, 2007
a nossa vida de segredos
"Em tempo algum e com ninguém me foi possível
superar esta separação de solidão que afecta,
imediatamente, tudo o que eu experimento.
Que o transporta para uma parte secreta onde
ela se deposita. Nunca consegui escancarar
esta fenda de silêncio onde tudo cai primeiro
em mim.
Ora o amor, é isso: a vida secreta, a vida
separada e sagrada, a vida afastada da socie-
dade. A vida à parte da família e da sociedade,
antes do dia, antes da linguagem. Vida viví-
para, na escuridão, sem voz, ignorando mesmo
o nascimento."
de "A Vida Secreta" de Pascal Guignard
superar esta separação de solidão que afecta,
imediatamente, tudo o que eu experimento.
Que o transporta para uma parte secreta onde
ela se deposita. Nunca consegui escancarar
esta fenda de silêncio onde tudo cai primeiro
em mim.
Ora o amor, é isso: a vida secreta, a vida
separada e sagrada, a vida afastada da socie-
dade. A vida à parte da família e da sociedade,
antes do dia, antes da linguagem. Vida viví-
para, na escuridão, sem voz, ignorando mesmo
o nascimento."
de "A Vida Secreta" de Pascal Guignard
07 novembro, 2007
mais um dos cem pequenos romances de Manganelli
"QUARENTA"
Entre o fim de domingo e o começo de segunda-feira, ele começa
a dispor a semana entretecendo um subtil, árduo cômputo de
encontros. Em geral, dedica a segunda-feira, dia obtuso, que
aguenta o peso instável de uma semana, a uma das suas amigas
chatas: chama chatas às amigas que não propõem problemas
afectivos, sexuais, intelectuais; que ele poderia, de um dia para o
outro, decidir não voltar a ver, com as quais nunca teve nem
sequer uma inócua fraqueza. As amigas chatas são cinco: duas
sofrem de crises depressivas, uma delas é uma angustiada, a
quarta absolutamente néscia, mas disposta a rir com as suas
piadas, a quinta relativamente equilibrada mas demasiado culta.
As depressivas, quando não estão deprimidas, são, uma, amável e
delicada, submaternal, a segunda, bruscamente comunicativa e
sincera, um pouco amaneirada; a angustiada é óptima, fora a
angústia, cautelosa, ágil, inconsistente, submissa. Vamos supor
que escolhe a angustiada e a encontra disponível. Não pode excluir
uma tardia crise de angústia, e para o dia seguinte fixará dois
encontros - com um amigo caprichoso e generoso, e com uma
mulher pacata e um pouco banal, alheia a crises. Decidirá depois.
Na quarta-feira, gostaria de ver uma mulher que o deseja, mas que
não ama, mas não ousa falar-lhe antes de ter arrumado a quinta-
-feira com uma mulher extremamente consoladora, talvez apaixo-
nada, à qual poderá confiar as inevitáveis angústias do encontro
anterior, qualquer que tenha sido o seu desfecho. A sexta-feira é
masculina: tem três amigos, nenhum deles prestigioso; um, um
pouco inteligente de mais para ele, um outro, infeliz e portanto
inclinado à gratidão, um terceiro, aborrecido porque apaixonado,
justamente não correspondido. No sábado, deverá juntar-se a
uma companhia genérica, que geralmente o acolhe sem fazer caso
dele, mas sem má vontade. É o dia anónimo e basta-lhe não ser
obrigado a dançar. Escolhe, pois, companhias de meia idade. Rara-
mente bebe de mais; não faz novas amizades; não chega tarde a
casa. Espera-o o domingo, o terrível dia do Senhor, se não tivesse
morrido, da família, do sexo. Dada a vacuidade estudou o itinerário
da semana; com o único, premeditado objectivo de adiar a revela-
ção e o suicídio, como faz, pacientemente, desde o dia do nasci-
mento.
do livro "Centúria" (edições 70), de Giorgio Manganelli
Entre o fim de domingo e o começo de segunda-feira, ele começa
a dispor a semana entretecendo um subtil, árduo cômputo de
encontros. Em geral, dedica a segunda-feira, dia obtuso, que
aguenta o peso instável de uma semana, a uma das suas amigas
chatas: chama chatas às amigas que não propõem problemas
afectivos, sexuais, intelectuais; que ele poderia, de um dia para o
outro, decidir não voltar a ver, com as quais nunca teve nem
sequer uma inócua fraqueza. As amigas chatas são cinco: duas
sofrem de crises depressivas, uma delas é uma angustiada, a
quarta absolutamente néscia, mas disposta a rir com as suas
piadas, a quinta relativamente equilibrada mas demasiado culta.
As depressivas, quando não estão deprimidas, são, uma, amável e
delicada, submaternal, a segunda, bruscamente comunicativa e
sincera, um pouco amaneirada; a angustiada é óptima, fora a
angústia, cautelosa, ágil, inconsistente, submissa. Vamos supor
que escolhe a angustiada e a encontra disponível. Não pode excluir
uma tardia crise de angústia, e para o dia seguinte fixará dois
encontros - com um amigo caprichoso e generoso, e com uma
mulher pacata e um pouco banal, alheia a crises. Decidirá depois.
Na quarta-feira, gostaria de ver uma mulher que o deseja, mas que
não ama, mas não ousa falar-lhe antes de ter arrumado a quinta-
-feira com uma mulher extremamente consoladora, talvez apaixo-
nada, à qual poderá confiar as inevitáveis angústias do encontro
anterior, qualquer que tenha sido o seu desfecho. A sexta-feira é
masculina: tem três amigos, nenhum deles prestigioso; um, um
pouco inteligente de mais para ele, um outro, infeliz e portanto
inclinado à gratidão, um terceiro, aborrecido porque apaixonado,
justamente não correspondido. No sábado, deverá juntar-se a
uma companhia genérica, que geralmente o acolhe sem fazer caso
dele, mas sem má vontade. É o dia anónimo e basta-lhe não ser
obrigado a dançar. Escolhe, pois, companhias de meia idade. Rara-
mente bebe de mais; não faz novas amizades; não chega tarde a
casa. Espera-o o domingo, o terrível dia do Senhor, se não tivesse
morrido, da família, do sexo. Dada a vacuidade estudou o itinerário
da semana; com o único, premeditado objectivo de adiar a revela-
ção e o suicídio, como faz, pacientemente, desde o dia do nasci-
mento.
do livro "Centúria" (edições 70), de Giorgio Manganelli
06 novembro, 2007
05 novembro, 2007
04 novembro, 2007
03 novembro, 2007
senhas-refeição, de Eduarda Chiotte
O estrangeiro tem uma fome
incrível do nosso romance?
Não é surpreendente
que tendo atravessado as fases clássicas
regrida agora ao estádio oral.
Svevo,
Günter,
Faulkner,
Thomas Wolf,
Fitzerald,
Hemingway,
Green
desejam empanturrar-se de trutas de Penizes,
papos de anjo,
chanfana,
sidónios,
lampreia à bordalesa,
bacalhau.
Precisamente na altura em que os cientistas abordam
a carcinogénese
e técnicos e profissionais de nível superior
os problemas da moderna nutrição,
é que o instinto revela oscilações e anomalias: com
efeito, o figurino alimentar
ramifica-se por milhares e milhares de salários em
atraso. Devotada,
profunda anorexia.
Contudo, neste roteiro gastronómico,
e à medida que vão sendo esclarecidos tais problemas,
surgem, paradoxalmente, escritores ciclotímicos mais
complacentes com o encolher da mesa.
Cuidado, apenas, com o nosso (e seu)
cozido à portuguesa.
incrível do nosso romance?
Não é surpreendente
que tendo atravessado as fases clássicas
regrida agora ao estádio oral.
Svevo,
Günter,
Faulkner,
Thomas Wolf,
Fitzerald,
Hemingway,
Green
desejam empanturrar-se de trutas de Penizes,
papos de anjo,
chanfana,
sidónios,
lampreia à bordalesa,
bacalhau.
Precisamente na altura em que os cientistas abordam
a carcinogénese
e técnicos e profissionais de nível superior
os problemas da moderna nutrição,
é que o instinto revela oscilações e anomalias: com
efeito, o figurino alimentar
ramifica-se por milhares e milhares de salários em
atraso. Devotada,
profunda anorexia.
Contudo, neste roteiro gastronómico,
e à medida que vão sendo esclarecidos tais problemas,
surgem, paradoxalmente, escritores ciclotímicos mais
complacentes com o encolher da mesa.
Cuidado, apenas, com o nosso (e seu)
cozido à portuguesa.