31 outubro, 2005

i don't like milk

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© 2005

30 outubro, 2005

loja de um outro século

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A propósito da abertura de uma nova livraria no Porto, a Index,
devidamente assinalada nos blogues Tatarana e Dias Felizes, e
à qual, desde já, desejo o melhor e o mais tranquilo dos sucessos,
lembrei-me então das que já vi desaparecer; particularmente,
d' A Loja do Século, ali bem perto do Coliseu, pequeno e delicado
espaço, amorosa e humildemente imaginado e alimentado por
mãos amigas, mas que na voragem dos tempos e dos mercados,
creio, não conseguiu sobreviver.

Livraria de um outro século.
De um tempo que parece já tão distante.
Contudo, devem-se ter lá vivido dias felizes.
O cartãozinho, esse, é um pequeno tesouro.

29 outubro, 2005

esta manhã

O sino não tem parado de tocar toda a manhã, porventura
por causa dos ventos loucos que varrem os céus.
Até os cães se calaram como ratos.
Restam as árvores, na sua sua dança feliz e destemida,
coreografia secular, os braços quase nus
zombando do deus das tempestades.

esta gente não tem guita nenhuma

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© Porto, Setembro 2005

CM - a Casa de Moloi

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© 2005

" Oh, não!
O Mostrengo me persegue!
Onde eu vou morar?!
O Mostrengo me persegue, oh, não!! "

Palavras de Moloi.
Para rir, que não dói.
A escutar e a ver em http://moloi_filminhos.blip.tv
Neste cinzento outubro, agora que rio, ele lá no rio de janeiro,
solarengo... Gozando com seu mostrengo, esse novo adamastor.
A casa aqui abandonada, a casa da música de moloi.

28 outubro, 2005

red points

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© 2005

lisboa, 43 anos depois do terramoto

Excerto final da carta escrita por Carl Israel Ruders, em
Lisboa, a 30 de Dezembro de 1798.

"(...) Ontem cheguei à cidade propriamente dita e fui levado ao
nosso Vice-Cônsul, que teve a amabilidade de me mandar
mostrar o caminho para casa do Sr. S. O meu acompanhante
levou-me por um atalho, do qual nunca mais penso servir-me.
Passou pelas partes menos asseadas de toda a Lisboa. Havia
ainda montes de entulho do grande terramoto e uma sujidade
que, sem dúvida, tem sido constantemente acrescentada duran-
te os últimos tempos. Muitas das janelas das casas velhas e
degradadas não tinham vidros, mas em seu lugar havia roupas
esfarrapadas e fraldas de criança. De vez em quando, uma
mulher deitava fora lixo e água fétida. Tudo isto não me deu a
melhor ideia de policiamento. Penso que não terei motivo para
mais tarde mudar de ideia; no entanto, tenho de admitir que
durante os meus passeios vi muitas partes desta cidade, onde
tanto a regularidade da construção e o esplendor dos edifícios
como evidente bem-estar dos habitantes despertaram a minha
admiração.
Nestes dias fiz poucas visitas. Ainda tenho de continuar
hospedado em estalagens, que aqui não estão em muito bom
estado, mas espero, no entanto, arranjar amanhã um quarto,
através dos esforços dos meus conterâneos que aqui vivem.
Continuarei a dar notícias. (...)"

27 outubro, 2005

aurora

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© Porto, 2005

Procura-se

Procuro um quarto de flores flamantes,
para matar um velho segredo.

26 outubro, 2005

folgas (no lost days)

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© 2005

Dias cheios. Dias de filmes.
E um outono ainda quente.
As raparigas ainda andam com os ombros nus. Radiantes.

Leio as palavras de Gus Van Sant: "não compreendo o suicídio, e
essa questão assombra-me. temos de ir, de facto, longe demais,
acho eu, para podermos contemplar essa hipótese", e imagino
que ele seria o realizador ideal para um filme de uma história que
cruzou tangencialmente a minha vida.
Uma sombra.
Funda.

25 outubro, 2005

aves sem tv em casa

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© Outubro, 2005

24 outubro, 2005

ditado

O menino aí, se faz favor, venha já ao quadro e escreva cinco
vezes a frase que lhe vou ditar.

Você foi o pior dos meus erros.
Você foi o pior dos meus erros.
Você foi o pior dos meus erros.
Você foi o pior dos meus erros.
Você foi o pior dos meus erros.

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© 2005

Creio que a professora deve ter tido algum desgosto amoroso.
Ou então, anda a adulterar Simone com um bocadinho de Ágata.

23 outubro, 2005

kimmo, que mimo!

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Com muitas noites assim como a de sexta passada, depressa a
Casa da Música estará mais do que paga.

22 outubro, 2005

morno porno

morno
porno.
rimar sem
adorno.


torso,
dorso.
brincar sem
remorso.

21 outubro, 2005

mais ou menos pobre, mais ou menos nobre

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© Porto, 2005

20 outubro, 2005

à chuva

dei por mim na rua a cantarolar uma coisa estúpida:
chove, chove, balão chove.
ninguém gritou bravo.

franceses impressionistas

nestas noites perdidas gosto de ficar a ouvir os impressionistas
franceses. as lágrimas nunca chegam a ser cinza.
anjo que não me guardo.

19 outubro, 2005

viver na baixa como atitude

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© Porto, 2005

18 outubro, 2005

ontem como hoje

Mais um excerto da carta escrita por Carl Israel Ruders, em
Lisboa a 30 de Dezembro de 1798.

"(...) Junto à Torre de Belém havia, à nossa chegada, algumas em-
barcações que, por causa das festas, não tinham conseguido a cha-
mada Praktika, ou verificação das certidões de sanidade. Pela
mesma razão, nós tivemos também de ficar no mesmo sítio até ao
terceiro dia depois do Natal, ou seja, até ao dia 27, quando, na
companhia do Comandante, fui a terra e apresentei o meu passa-
porte, tendo conseguido autorização para visitar a cidade. Não é
possível imaginar uma cidade mais majestosa do que Lisboa, tal
como esta se apresenta ao navegante que chega. Todas as suas
colinas, enfeitadas por edifícios notáveis a vários níveis, que,
juntos, formam um vasto anfiteatro causam no espectador uma
profunda impressão. O grande número de navios de todas as
partes do mundo, o número ainda maior de barcos a remos e
veleiros de vários modelos que atravessam o rio vindos de inú-
meros pontos diferentes e o constante movimento de carga e
descarga dos navios, tudo isto, em contraste com a alta margem
oposta, escalvada e despovoada, de Além-Tejo, aumenta a ale-
gria do navegante que chega após a experiência monótona que
é uma passagem pelo mar Espanhol. Mas este rio, que, graças ao
comércio, constitui a riqueza de Lisboa, e que com as suas marés
facilita as comunicações com as localidades vizinhas, é muitas ve-
zes perigoso, sobretudo nesta época do ano. Não raramente, os
golpes de vento repentinos, vindos das altas margens, fazem que
os barcos batam uns nos outros, ficando danificados em maior ou
menor grau. Há também exemplos de navios grandes se terem
virado, quando na carga há mercadorias pesadas soltas. O grande
número de cabos com que estão amarrados enredam imediata-
mente os barcos que neles tocam, e dizem que é difícil salvar uma
pessoa que caia à água. Aqui em Lisboa há em todas as pontes
um grande número de barcos a remo. Os homens que os condu-
zem conhecem a fundo estas águas e a arte de navegar. Com eles,
raramente há acidentes. Já experimentei, porém, à minha custa,
a necessidade de combinar com eles o preço da passagem antes
de embarcar, porque eles tentam enganar os forasteiros, são nor-
malmente exigentes e obstinados e têm um feitio rude.
Todas as embarcações que chegam são obrigadas a ancorar
junto à Torre de Belém, que tem duas baterias e está rodeada de
água por todos os lados, e só podem continuar até à cidade depois
de inspecção prévia. Em caso de desobediência, são ameaçadas
por balas de canhão, que, para começar, são disparadas à frente
da proa. Aqui estão preparados os visitadores. Uma dessas
pessoas é imediatamente colocada a bordo depois de o Capitão
apresentar os seus papéis no forte. O rio, que aqui é bastante
estreito, tem na sua margem esquerda um edifício, altíssimo e
de um comprimento de várias centenas de alnas, cuja arqui-
tectura é uma mistura de gótico e de árabe. É um mosteiro para
frades da ordem dos Jerónimos, com uma grande e magnífica
igreja, onde estão sepultadas muitas pessoas da família real. O
edifício, fundado em 1491 pelo rei Manuel, foi acabado pelo seu
filho e sucessor João III. De ambos os lados há casas mais pe-
quenas. Um pouco mais adiante está o Real Jardim de Animais,
onde se encontra um grande número de animais ferozes. Ao
lado do jardim passa o caminho para a Ajuda, onde podem ser
visitados o Real Jardim Botânico e os Gabinetes de Arte e
História da Natureza, assim como a bela igreja que o marquês
de Pombal mandou construir em memória do assassínio aqui
preparado contra o rei José I. (...)"

17 outubro, 2005

loft's and little things

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© Porto, 2005

pois não!

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© Porto, 2005

casa de um sonho impossível

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© Porto, 2005

16 outubro, 2005

dez

Ontem decidi finalmente ver o filme de Kiarostami.
Com menos se faz mais. Gesto puro de cinema.
Amor da liberdade.
Filme para ir provocando o futuro por vir.
(Cruzando quantos séculos?)
Classificação: obra-prima. Dez em dez, seria sempre pouco.

porto de muitos segredos

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© Porto, 2005

nina lugovskaia

Aos treze anos, a 24 de Março de 1933, escrevia no seu diário:

"Eles recusaram-se a pôr o carimbo no passaporte do pai.
Que tempestade na minha alma! Não sabia que fazer.
Invadiu-me uma raiva impotente. Comecei a chorar. Caminhei
de um lado para o outro pelo quarto, praguejei, cheguei à
conclusão de que é preciso matar estes patifes. Parece ridículo,
mas não é uma brincadeira. Durante alguns dias, estirada na
cama, imaginei como farei para o matar [Estaline]. As suas
promessas de ditador, patife e bandido, vil georgiano que
estropia a Rússia. Como é possível? A Grande Rússia e o grande
povo russo caíram por inteiro nas mãos de um velhaco."

Haverá adolescentes assim hoje? Cultos, lúcidos, escritores de
diários?
Haverá algum jovem, algures, a manifestar a sua vontade de
eliminar os facínoras e os fascistas deste mundo?
Na Coreia? Na Venezuela? Em Cuba? No Irão? Por aí fora?
Haverá porventura alguma criança em todo o mundo que se
tenha imaginado já a matar o senhor Bush?
Andaremos todos muito anestesiados com sms's, e-mail's, blog's?
A verdade da vida esquecida entre linhas?

" Eu Quero Viver - Diário de Uma Adolescente na Rússia
Bolchevique", assim se chama o livro agora publicado em Portugal,
ontem referenciado no "Mil Folhas".

15 outubro, 2005

agora que o furacão enfim levou o verão

e voltaram de mansinho os primeiros friozinhos outonais,
já me chegam também as saudades do riso excitado
das crianças na praia, suas alegrias fáceis e imortais,
o voo tresloucado das gaivotas invejosas da felicidade
dos homens, a brisa perfumada pela esteva,
o sabor sumarento das ociosas manhãs,
o mar ali mesmo à mão, como um deus à nossa mercê.

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14 outubro, 2005

para quem gostar de cartas antigas (parte um)

aqui deixo dois excertos de uma carta do viajante Carl Israel
Ruders, à sua chegada a Lisboa a 30 de Dezembro de 1798.

"(...) Poucos dias antes do Natal começámos a demandar a costa
portuguesa, e vimos na véspera de Natal, numa manhã sola-
renga e bela, os grandes promontórios cabo da Roca e cabo
Espichel. Era nossa esperança conseguir chegar a Lisboa antes
do anoitecer, para, em terra, celebrar as festas, mas Neptuno
não nos quis deixar sair do seu reino nesse dia. Cobriu-nos de
nevoeiro e despertou uma tempestade que durou toda a Noite
Santa. No dia 25, mandou de novo o tempo levantar. Bóreas
soprou nas nossas velas. As divindades do rio Tejo enviaram
um piloto ao nosso encontro a mais ou menos duas milhas de
terra, e ao meio-dia fundeámos junto à Torre de Belém.
Uma vez por outra já tenho ouvido em discursos públicos
verbosas descrições da sensação que o marinheiro experimen-
ta ao chegar, são e salvo, ao porto tão desejado, após uma longa
e difícil viagem; mas sentia-me pouco ou nada interessado.
Agora fui eu quem experimentou esta sensação. Mas acho
melhor não falar mais do assunto, porque os senhores, que pru-
dentemente não fazem outras viajens marítimas além daquelas
que os remadores de Estocolmo lhes conseguem proporcionar,
não deverão poder compartilhar da mesma sensação. Vou,
antes, tentar dar-lhes uma ideia da extraordinária localização
de Lisboa. Quanto mais nos aproximamos da ponta noroeste do
estuário do rio Tejo, mais nos agrada a vista pitoresca das suas
colinas, da agradável verdura, dos edifícios esporádicos, entre
os quais sobressaem lindas igrejas rurais. As escuras ondas do
Atlântico misturam-se aqui com as águas turvas e amareladas
do rio Tejo. Pouco a pouco, o rio vai estreitando, tendo do seu
lado direito uma margem montanhosa, alta e nua, cujas rochas
íngremes, umas por cima das outras, não obstante oferecem
algo de sublime à nossa imaginação. Mas os nossos olhos re-
pousam com maior satisfação na margem esquerda, onde
aldeias bem construídas, castelos, fortalezas, igrejas, mosteiros,
belas quintas e campos cultivados alternam em mútiplas en-
costas. Por causa do forte vento do norte e da maré, mantive-
mo-nos ao abrigo desta margem e passámos pelo forte de São
Julião, recortado na rocha, que, do lado norte, defende a cha-
mada barra. Este banco de areia, em que as ondas batem com
uma força terrível, e onde no Inverno muitos navios naufra-
gam, oferece duas entradas. A mais estreita é junto ao referido
forte, e a passagem por aqui torna-se mais perigosa pelo facto
de, durante a mesma, o Piloto estar ocupado a responder a
perguntas do forte. A outra entrada, mais larga, passa junto à
fortaleza em frente, o Bugio. Embora esta barra inspire sem-
pre grande medo aos navegantes, deve, no entanto, servir
como muro de protecção para Lisboa, no caso de uma frota
inimiga tentar entrar. (...)"

13 outubro, 2005

palhaços há muitos

Hoje de manhã, ao ouvir a costumeira crónica matinal do
Fernando Alves, quase sempre muito bela, ficaram-me
inusitadamente a bailar na cabeça as suas últimas palavras,
uma espécie de pergunta atirada ao ouvinte.
E passo a citar de memória: " Diz-me, assim de repente, o
nome de um palhaço português? "
Esquecendo o teor poético do desafio e embarcando antes na
nau do sarcasmo, leva-me a dizer que o que não faltam por aí
são portugueses palhaços.
A lista seria aliás infindável.
Só não sei a quem, em primeiro lugar, colocaria no nariz, a de-
vida bolinha n

12 outubro, 2005

aviso à minha invicta cidade

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© Porto, 2005

11 outubro, 2005

como os outros

falo.
só.
a sinistra mão.
a furtiva lágrima.
depois, calo.

10 outubro, 2005

vómitos. náuseas contantes. indisposição. irritação.
vidinha. cansaço. hoje não tenho corpo para mais.
vou ouvir um qualquer disco do Caetano.
e depois dormir. boa-noite.

09 outubro, 2005

sabias, papá?

sabias que eu ouço o meu cérebro?

08 outubro, 2005

jardim do meu futuro

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© 2005

07 outubro, 2005

tendinha

tendinha dos clérigos mas também tendinha de heréticos!
uma casa de putas das mais reles, transformada num
antro de boa música.
tendinha também de milagres, pois dancei como já não
havia memória.
é isto que eu sempre gostei no Porto, o inesperado a cada
esquina, as subterrâneas forças...
a província e nova iorque no mais suspeito dos espaços.
a mais cosmopolita das aldeias de toda a Aldeia Global.
não é para todos!

coincidências do outro mundo

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© Porto, 2005

E o mais incrível é que, quando preparava o enquadramento
desta foto, um amigo meu liga-me do outro lado do Atlântico a
pedir-me para eu ir ao GoogleEarth e tentar descobrir uma zona
sombreada nos EUA, a famosa zona 51, uma área militar secreta
a norte de Las Vegas...
Nós, portanto, a falarmos de segredos militares, de voos secre-
tos, de bases inacessíveis, de segredos de estado, de controle do
espaço, de poderes ocultos, do poder oculto dos impérios, etc...
E eu com medo que o meu ET se fosse embora!

06 outubro, 2005

uma imagem vale mil perguntas*

Por detrás de um rosto quantos outros se escondem?
Que interesses espreitam para além do olhar?
Que ambições não se desvelam?
A fachada, nunca perene, é serena ou apenas solene?
O sorriso é plasticamente inocente ou naturalmente de plástico?
A cara retocada será o lúcido espelho da alma?
Quantos não se dão bem nesse papel?
Quem não se sente bem na sua pele?
Na hora da vitória ou da derrota,
Quem deixará cair a máscara?


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© Porto, Setembro 2005


* A minha reflexão política. (Quanto à imagem, digamos que a
ocasião fez o ladrão, é fruto claro do acaso e surge aqui
apenas como leitmotiv).

05 outubro, 2005

Helsingör (dedicado à Carla)

"(...) Tanto ontem como hoje tenho passeado por esta cidade.
Não é feia, mas é-me impossível gostar das casas de tantas
cores. Os nossos vizinhos parecem gostar de cores variadas e
garridas, tanto nas casas como nas roupas. Se aqui existem
algumas curiosidades, eu, que estou constantemente atento
ao lado de que o vento sopra e que espero a ordem de partida
do Comandante, não tive oportunidade de as descobrir. As ruas
estão apinhadas de marinheiros, entre os quais sobressaem os
comandantes ingleses com os seus casacos de padrões em
xadrez. Os preços de todos os víveres ultrapassam largamente
os preços mais altos que conheço em Estocolmo. Mas, se por um
lado pagamos bem, por outro, as mercadorias são bastante boas.
A cozinha aqui é excelente e serve para reconfortar os navegan-
tes. Mesmo que amanhã o vento continue desfavorável, tencio-
namos embarcar para estarmos preparados e não perdermos um
único momento propício para chegarmos a climas mais amenos,
sobretudo porque temos ainda de navegar um bocado em di-
recção ao norte, e aqui pisamos ruas cobertas de gelo. Com
grande emoção olho ainda a costa da minha pátria, e, embora
tenha grande desejo de chegar ao meu destino e de não mais ser
baloiçado pelo mar, não consigo evitar, em pensamento, reunir-
-me aos amigos que ficaram na pátria, apesar de sentir grande
prazer em comunicar-lhes por escrito todas as coisas novas que
espero ver no Sul da Europa. (...)"

excerto de carta de Carl Israel Ruders, datada de 19 de Novembro de 1798

Acrescento que o Sul da Europa era Portugal, era a cidade de
Lisboa, aonde se instalaria como Capelão da Embaixada Sueca.
No regresso à terra natal, quase quatro anos depois, escreveu
novamente sobre Elsinore.

"(...) Embora não possa comparar a vida cara desta cidade com a
de Londres ou Lisboa, devo porém testemunhar que os estalaja-
deiros de Helsingör não espantam os viajantes das referidas cida-
des com contas pequenas demais, e que também aqui as pessoas
se esforçam para não degradarem os seus negócios e as suas
mercadorias com preços baixos demais.
Não foi ideia minha desembarcar em Helsingör, porque não sei
o que vim aqui fazer. Cavalos, pequenos e miseráveis em con-
traste com os ingleses, poderei ver durante o resto de viagem. Se
tivesse esperado a bordo até me arranjarem marinheiros que me
transportassem directamente a Helsingör, poderia prosseguir
amanhã a viagem até Skane, em vez de esperar aqui a escrever
cartas que a tempestade acabe. Espero porém dentro em breve
ter a alegria de rever, na minha pátria que já avisto, os saudosos
amigos, etc. (...)"

excerto de carta datada de 8 de Setembro de 1802

Estas cartas estão reunidas num volume da Biblioteca Nacional,
" Viagem em Portugal, 1708-1802,vol.2 " de Carl Israel Ruders.

pick up

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© Porto, Setembro 2005

04 outubro, 2005

pedra

pedra.
silêncio que rumina.
medra.

pedra, outra vez. silente.
mundo chão.
pedras as palavras. não
meças.
ergue-as,
mesmo errante
a mão.

terra. esquife.
poema patife.
meu doce lar,
meu mal.
lucky-boy
a fugir do xerife.

esquivo epitáfio.
equívoco sábio.
a minha conta-doente.
umbigo que não sigo.

digo: um bigo
a lâmina doce do lábio
flor de que perigo.

e depois merda.
fim sem castigo.

03 outubro, 2005

a cidade dos galos

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© 2005

Quais gigantones por animar, estão espalhados pelas ruas do
centro histórico de Barcelos, 14 galos saídos da imaginação dos
mais diversos artistas plásticos, um deles um rapaz de catorze
anos, amante de BD.
O ícone português com nova imagem, a ver se gostamos mais do
tradicional. Desde o "XPTO" ao "Sonâmbulo" ou do "Gaudi" ao
"Avé Maria", aí estão eles para encher de mais cor, estes nossos
dias ainda estivais.
Um bom programa para se levar as crianças. Não há sequer o
risco da gripe das aves mas apenas o perigo do mais maravilhoso
dos contágios...
...o vírus da criação artística!
Viesse a pandemia!!

02 outubro, 2005

samba num domingo desbotado

Comovo-me sempre até muito perto das lágrimas, ouvindo um
belo samba. Um samba bom.
Devo ter um coração meio brasileiro.
Nos meus ouvidos alguém canta que "a alegria é soberana
decisão".
Aí está... esta música decidiu este meu dia feliz, apesar da
cortina de tristeza que toda a minha vida me desbotou os
domingos.

como os galinhos da avó

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© 2005 (pormenores dos galos expostos nas ruas de Barcelos, pintados por artistas plásticos)

não cantes de galo

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© Barcelos, 2005

01 outubro, 2005

Uma

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