para quem gostar de cartas antigas (parte um)
aqui deixo dois excertos de uma carta do viajante Carl Israel
Ruders, à sua chegada a Lisboa a 30 de Dezembro de 1798.
"(...) Poucos dias antes do Natal começámos a demandar a costa
portuguesa, e vimos na véspera de Natal, numa manhã sola-
renga e bela, os grandes promontórios cabo da Roca e cabo
Espichel. Era nossa esperança conseguir chegar a Lisboa antes
do anoitecer, para, em terra, celebrar as festas, mas Neptuno
não nos quis deixar sair do seu reino nesse dia. Cobriu-nos de
nevoeiro e despertou uma tempestade que durou toda a Noite
Santa. No dia 25, mandou de novo o tempo levantar. Bóreas
soprou nas nossas velas. As divindades do rio Tejo enviaram
um piloto ao nosso encontro a mais ou menos duas milhas de
terra, e ao meio-dia fundeámos junto à Torre de Belém.
Uma vez por outra já tenho ouvido em discursos públicos
verbosas descrições da sensação que o marinheiro experimen-
ta ao chegar, são e salvo, ao porto tão desejado, após uma longa
e difícil viagem; mas sentia-me pouco ou nada interessado.
Agora fui eu quem experimentou esta sensação. Mas acho
melhor não falar mais do assunto, porque os senhores, que pru-
dentemente não fazem outras viajens marítimas além daquelas
que os remadores de Estocolmo lhes conseguem proporcionar,
não deverão poder compartilhar da mesma sensação. Vou,
antes, tentar dar-lhes uma ideia da extraordinária localização
de Lisboa. Quanto mais nos aproximamos da ponta noroeste do
estuário do rio Tejo, mais nos agrada a vista pitoresca das suas
colinas, da agradável verdura, dos edifícios esporádicos, entre
os quais sobressaem lindas igrejas rurais. As escuras ondas do
Atlântico misturam-se aqui com as águas turvas e amareladas
do rio Tejo. Pouco a pouco, o rio vai estreitando, tendo do seu
lado direito uma margem montanhosa, alta e nua, cujas rochas
íngremes, umas por cima das outras, não obstante oferecem
algo de sublime à nossa imaginação. Mas os nossos olhos re-
pousam com maior satisfação na margem esquerda, onde
aldeias bem construídas, castelos, fortalezas, igrejas, mosteiros,
belas quintas e campos cultivados alternam em mútiplas en-
costas. Por causa do forte vento do norte e da maré, mantive-
mo-nos ao abrigo desta margem e passámos pelo forte de São
Julião, recortado na rocha, que, do lado norte, defende a cha-
mada barra. Este banco de areia, em que as ondas batem com
uma força terrível, e onde no Inverno muitos navios naufra-
gam, oferece duas entradas. A mais estreita é junto ao referido
forte, e a passagem por aqui torna-se mais perigosa pelo facto
de, durante a mesma, o Piloto estar ocupado a responder a
perguntas do forte. A outra entrada, mais larga, passa junto à
fortaleza em frente, o Bugio. Embora esta barra inspire sem-
pre grande medo aos navegantes, deve, no entanto, servir
como muro de protecção para Lisboa, no caso de uma frota
inimiga tentar entrar. (...)"
Ruders, à sua chegada a Lisboa a 30 de Dezembro de 1798.
"(...) Poucos dias antes do Natal começámos a demandar a costa
portuguesa, e vimos na véspera de Natal, numa manhã sola-
renga e bela, os grandes promontórios cabo da Roca e cabo
Espichel. Era nossa esperança conseguir chegar a Lisboa antes
do anoitecer, para, em terra, celebrar as festas, mas Neptuno
não nos quis deixar sair do seu reino nesse dia. Cobriu-nos de
nevoeiro e despertou uma tempestade que durou toda a Noite
Santa. No dia 25, mandou de novo o tempo levantar. Bóreas
soprou nas nossas velas. As divindades do rio Tejo enviaram
um piloto ao nosso encontro a mais ou menos duas milhas de
terra, e ao meio-dia fundeámos junto à Torre de Belém.
Uma vez por outra já tenho ouvido em discursos públicos
verbosas descrições da sensação que o marinheiro experimen-
ta ao chegar, são e salvo, ao porto tão desejado, após uma longa
e difícil viagem; mas sentia-me pouco ou nada interessado.
Agora fui eu quem experimentou esta sensação. Mas acho
melhor não falar mais do assunto, porque os senhores, que pru-
dentemente não fazem outras viajens marítimas além daquelas
que os remadores de Estocolmo lhes conseguem proporcionar,
não deverão poder compartilhar da mesma sensação. Vou,
antes, tentar dar-lhes uma ideia da extraordinária localização
de Lisboa. Quanto mais nos aproximamos da ponta noroeste do
estuário do rio Tejo, mais nos agrada a vista pitoresca das suas
colinas, da agradável verdura, dos edifícios esporádicos, entre
os quais sobressaem lindas igrejas rurais. As escuras ondas do
Atlântico misturam-se aqui com as águas turvas e amareladas
do rio Tejo. Pouco a pouco, o rio vai estreitando, tendo do seu
lado direito uma margem montanhosa, alta e nua, cujas rochas
íngremes, umas por cima das outras, não obstante oferecem
algo de sublime à nossa imaginação. Mas os nossos olhos re-
pousam com maior satisfação na margem esquerda, onde
aldeias bem construídas, castelos, fortalezas, igrejas, mosteiros,
belas quintas e campos cultivados alternam em mútiplas en-
costas. Por causa do forte vento do norte e da maré, mantive-
mo-nos ao abrigo desta margem e passámos pelo forte de São
Julião, recortado na rocha, que, do lado norte, defende a cha-
mada barra. Este banco de areia, em que as ondas batem com
uma força terrível, e onde no Inverno muitos navios naufra-
gam, oferece duas entradas. A mais estreita é junto ao referido
forte, e a passagem por aqui torna-se mais perigosa pelo facto
de, durante a mesma, o Piloto estar ocupado a responder a
perguntas do forte. A outra entrada, mais larga, passa junto à
fortaleza em frente, o Bugio. Embora esta barra inspire sem-
pre grande medo aos navegantes, deve, no entanto, servir
como muro de protecção para Lisboa, no caso de uma frota
inimiga tentar entrar. (...)"
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