29 maio, 2009

o museu de uma vida

Photobucket
© Dezembro 2005 (exposição "Anschool II" de Thomas Hirschhorn, Museu de Serralves)

O museu de uma vida. O museu da minha vida.
O museu para uma vida.
Como seria hoje bem mais pobre se não tivesse tido a sorte de 
poder frequentemente usufruir, tirar proveito, alimentar-me,
perder-me, ganhar-me, isolar-me, questionar-me, rejubilar, 
conviver com as mais diversas exposições que o Museu de 
Serralves foi exibindo ao longo destes dez anos.
O museu para toda uma vida. O museu das nossas vidas.

28 maio, 2009

variações pela cidade

Photobucket
© 2009 (aproveitando-me do anónimo artista que espalhou mil 
estranhos seres alados - origamis? - pelas ruas do centro do Porto)

27 maio, 2009

agonia

de Cesare Pavese
(tradução de Carlos Leite)

Irei pelas ruas até cair morta de cansaço
saberei viver sozinha e reter nos olhos
cada rosto que passa e continuar a ser a mesma.
Esta frescura que sobe e me busca as veias
é um despertar que em manhã nenhuma sentira
tão real: sinto-me simplesmente mais forte
que o meu corpo e um arrepio mais frio acompanha a manhã.

Longe vão as manhãs em que tinha vinte anos.
E amanhã, vinte e um: amanhã sairei para a rua,
lembro-me de cada pedra da rua e das nesgas de céu.
A partir de amanhã as pessoas ver-me-ão outra vez
de pé e caminharei direita e poderei parar
e mirar-me nas montras. Nas manhãs do passado,
era jovem e não sabia, nem sabia querer
que era eu que passava — uma mulher, dona
de si mesma. A rapariguinha magra que fui
despertou dum pranto que durou anos:
agora é como se esse pranto nunca tivesse existido.

E desejo só a cores. As cores não choram,
são como um despertar: amanhã as cores
voltarão. Cada mulher sairá para a rua,
cada corpo uma cor — e até as crianças.
Este corpo vestido de vermelho claro
após tanta palidez voltará à vida.
Sentirei à minha volta deslizarem os olhares
e saberei que sou eu: olhando à volta,
ver-me-ei no meio multidão. Em cada nova manhã,
sairei para a rua em busca das cores.

26 maio, 2009

(o mundo é um medo que se avizinha)




Que hora estranha. Pensas: sozinha.
— Tirando o enredo o mundo é um medo
que se avizinha.
Te aceitaria o mundo aceito?
Nunca. Sozinha.
Ele te cerca de seu segredo
raso e profundo,
tal qual se fosses, cega criatura,
razão segura de seu degredo.





poema de Maria Ângela Alvim

23 maio, 2009

al ela

Photobucket
© Famalicão, 22 maio 2009

22 maio, 2009

guardar a senha no coração desta casa

Guardo o meu coração no coração da palavra. 
E quando ele cantar alguém vai notar. Alguém que lê 
por acaso. Mas em qual palavra guarda-rei meu coração?
Numa também ao acaso. Não a es-colherei dentre todas 
as da Língua. E o acaso faz com que eu o guarde nesta 
palavra: Amor.  Já que o meu coração Aí ficou não mais 
carece de ser guardado. Liberto-o nela. Meu coração voa.






pertencente ao último livro do meu impertinente amigo
Paulo Luiz Barata, "Senya Semiotyka", por ele publicado no Rio de Janeiro, terra natal, em 2008.
Há muitos anos, neste mesmo dia, uma qualquer e inaudita 
constelação astral jogou no universo este ser desafiante e incatalogável, esta espécie de moderno jogral que veio para desafiar as ordens estabelecidas ...

21 maio, 2009

so h.appy birth.day

Photobucket

Photobucket
© 2009

20 maio, 2009

como se pudesse ser assim a pós-modernidade em vez da posteridade

Photobucket
foto de Manuel Renda (o artista ao centro da imagem), 1957 (58?)

19 maio, 2009

cristo como se fosse de christo

Photobucket
Portugal, 1957(58?)

foto de Manuel Renda, inédita, creio, como as muitas outras 
que me foram gentilmente cedidas pela sua sobrinha-neta, minha 
caríssima amiga, Carina Constantino.
Modelador e maquetista, foi ele o destemido artífice, o homem 
que, por vontade própria, verdadeiramente deu corpo ao Cristo-Rei. 
Aqui assim, vaidosamente, o irei desvelando ao mundo.
 

17 maio, 2009




Uma pestana caída
sobre a página de haikus —
versos inglórios.

15 maio, 2009

o que os olhos sentem

um cacto de longos espinhos
a fazer de coral
peixes em volta vogando
no ar imóvel da tarde macia
meu olhar graficamente agudo
todas as vozes a todas as horas
a berrar o país bizarro
aberrante e ressacado tugal
acabo de limpar
o rabo a pinguins verdes

13 maio, 2009

Diz-me, silêncio, em ruídos permanentes

singelamente confusos primitivos —
que mão estender à voz que ouvida não
fala comigo ou com ninguém, silente:
Devo tocar como quem chama e pede?
Ou agarrar o que não fala ainda
senão por gestos quase imperceptíveis?
Esperarei perguntas sem resposta?
Responderei perguntas não faladas?
Diz-me, silêncio, em ruídos de que és feito,
como entender-te quando és corpo humano.






de Jorge de Sena,
retirado de Poesia-III, edições 70

12 maio, 2009

um, dois, três, quatro... venham mais cinco

O blogue está de parabéns. Eu não.
Quatro anos a trilhar este caminho sem destino.
Quatro anos inesquecíveis. Quase 1500 dias. Quase o mesmo número
de 'postagens'. Perto de 100 mil visitas.
Não é pouco para tão pobre rapaz. (Perdoem lá o tom calimérico, dias
de aniversário deixam-me sempre assim.)

Sirvam-se. Comam. Saboreiem que isto é mais casa de sabores que 
de singulares saberes. Que isto não era nada sem vós. Que isto é
também a vossa voz.


Photobucket
© 2009

11 maio, 2009

na superfície desta espécie de meu caderno

um poema sem título de 
Maria Ângela Alvim



Azul de pálpebra.
Canto de galos.
Roxo de chaga.
Silêncio de gruta.
Horizontes de ausência.
Não reconheço meu mundo.

09 maio, 2009

o grande celentano



Os gloriosos anos 60.
Dedicado a ti, amiga Cat... Mas não tentes dançar como eles... 
24 mil beijos de parabéns.


08 maio, 2009

cristina campo

Amor, hoje teu nome
a meus lábios escapou
como ao pé o último degrau...

Espalhou-se a água da vida
e toda a longa escada
é para recomeçar.

Desbaratei-te, amor, com palavras.

Escuro mel que cheiras
nos diáfanos vasos
sob mil e seiscentos anos de lava —

Hei-de reconhecer-te pelo imortal
silêncio.





(poema sem título retirado de "O passo do adeus" de 
Cristina Campo, com tradução de José Tolentino 
Mendonça, edição Assírio & Alvim)

07 maio, 2009

não fui eu que disse... mas digo

"De uma forma geral todos os bancos se portaram mal. Uns 
passaram a barreira da lei, outros não. Mas todos passaram a 
barreira da ética."

"O sistema de remunerações dos gestores é absolutamente 
escandaloso e foi uma das coisas que mais introduziu um 
elemento de descrédito no sistema."

"Os offshores são exactamente a mesma coisa que a pirataria 
na Somália. São o sintoma de que já estamos num mundo global 
mas ainda não existem leis desse mundo global."




(Afirmações de Mário Parra da Silva, presidente da Associação 
Portuguesa de Ética Empresarial, retiradas do artigo assinado por 
João Silvestre no suplemento de "Economia" do Expresso deste 
passado sábado. Sublinhados meus.)

06 maio, 2009

no tango o rumor da vida

Photobucket
© Melingo no Auditório de Espinho, 5 Maio 09

05 maio, 2009

caloiros, calorias, queima

Photobucket
© Porto, 2009

04 maio, 2009

a lição de estética

de Sandro Penna



"Mas que beleza há na poesia?"
Escuta, quando vês um grande amigo
rodeado de mulheres, quando estás
fascinado com a orquestra, e sob o reflector
resplandecem as cores de uma deusa
que desce seminua à plateia,
onde tu estremeces, escondido
em toda aquela multidão!, quando em noite
escura e serena amigos dançam sem mulheres
numa praça ao som de um
acordeão e tu ficas à parte; pois bem, isso
não é belo para ti? Também é belo
para um velho que se chama
crítico e acha beleza em muitas coisas
e que até se aventurou a descobrir no mundo
e talvez fora do mundo, coisas cada vez
mais belas, mas que diz, com amor: "que belo
é este poema!" E tu,
tu olhas-me sem sequer me dares um beijo?



(retirado de "No Brando Rumor da Vida", com tradução de Maria 
Jorge Vilar de Figueiredo, edição da Assírio & Alvim)

03 maio, 2009

celebração da páscoa ucraniana

Photobucket
© Porto, 2009

02 maio, 2009

i'm gonna run


The Fiery Furnaces"I'm gonna run"

01 maio, 2009

caio imaturo caio



num pegajoso silêncio 
a boca.
as palavras caídas na sopa 
fria.