31 dezembro, 2008

a ferida duma partida nunca sara

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© 2008

Eu sabia que irias, prima. Há precisamente um ano que escrevi as 
palavras que intitulam este 'post'. Eu sabia que tinha que ser assim.
Eu sabia que não podias fugir a isso. Todos sabíamos.
Eu sabia que um dia o vento te haveria de levar para sul.
É inelutável a força gravitacional da capital cidade. Há anos que,
infelizmente, vejo partir muitos dos nossos melhores. Nunca me
conformo.
Eu sei, é a lei da vida. Eu saber até posso saber, mas não se está preparado.
Nunca se está.
Vou ter saudades tuas. Só queria que soubesses isso, neste meu
jeitinho de chorar apenas pelas palavras.
Eu sei que vais conquistar esses mouros. Que a bela Lisboa 
merece ser amada também por ti. 

Bom ano. Muitos anos bons. Todos.

29 dezembro, 2008

um poema de Antonio Gamoneda

retirado do "Livro do Frio" (edição da Assírio & Alvim 
com tradução de José Bento)

Pranto na lucidez, verdades côncavas:
"Não vale nada a vida, /a vida não vale nada."
Recordai esta canção antes de olhar meus olhos;
olhai meus olhos no instante da neve.

28 dezembro, 2008

o reino maravilhoso

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23 dezembro, 2008

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22 dezembro, 2008

lágrimas

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21 dezembro, 2008

cândidos reis de um nocturno porto

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© Porto, 2008

20 dezembro, 2008

mais um poema de António Dacosta


A FÍSICA desta pedra
O nome daquela árvore
A nuvem e o mar
O que a palavra diz
A hora de nascer
Enfim o mundo e eu
Porquê?

19 dezembro, 2008

em todas as escalas somos humanos (homenagem a Juan Muñoz)


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18 dezembro, 2008

duas cadeirinhas (auto-retrato com Muñoz)

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© Serralves, 17/Dez/08

17 dezembro, 2008

neste dia não consigo fugir a esta canção

16 dezembro, 2008

travelling

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© 2008 (versos de W.B. Yeats na tradução de J.A.Baptista)

15 dezembro, 2008

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14 dezembro, 2008

a roda

de W. B. Yeats
(tradução de José Agostinho Baptista)


No Inverno desejamos a Primavera,
E na Primavera invocamos o Verão,
E quando ressoam as abundantes sebes
Declaramos que o Inverno é o melhor;
Depois nada há de bom
Porque a Primavera não chegou -
Não sabemos que essa inquietude que nosso sangue perturba
É apenas a sua nostalgia do túmulo.

13 dezembro, 2008

mais uma pequena prosa

retirada de "Da rosa fixa" de Maria Velho da Costa

Portugal é uma metáfora tão
obviamente risível que só muito
mais tarde do que até tu pensaste,
pobre, esfriado Fernando, de uma
certeza ténue como a expansão
sob olhos de uma galáxia, pessoa.

12 dezembro, 2008

uma das crónicas americanas

de Sam Shepard


quando dei com a figurante que dobrava a star
ao abrirem-se as portas do elevador
e eu ia a sair
e ela ia a entrar
às 4 da manhã
e reparei que ela estava literalmente pedrada
perguntei-lhe com quê
6 valiuns e vinho branco respondeu
porque tinha sido o último dia de filmagens
por isso pensou que havia de celebrar
metendo-se com alguém da equipa
pedradamente
visto que esta era a sua terra natal
e ela teria de continuar precisamente ali
e a angústia de não passar de uma sósia local
abandonada
numa cidade de onde queria desertar
estava a deitá-la abaixo
se estava
e de repente senti-me mais que envergonhado
por ser actor num filme
por provocar ilusõess tão estúpidas
por isso levei-a para o meu quarto
sem qualquer desejo pelo seu corpo
nenhum
e ela ficou desesperadamente desiludida
tentou atirar-se da janela abaixo
eu disse-lhe olha que não vale a pena
não passa de um idiota de um filme
ela respondeu não tão idiota como a vida.


1/11/81
Seattle, Wa.

11 dezembro, 2008

100 anos: singularidade de um rapaz sem igual

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Planificação do filme de Manoel de Oliveira, ANIKI-BÓBÓ
(edição do Cine-Clube do Porto, 1963)

10 dezembro, 2008

círculos, ciclos, circo (fim de tema)

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09 dezembro, 2008

o sol

um poema de Casimiro de Brito


Bebo na palma
das mãos o sol
desfeito em água

O corpo tão fresco
beijar-te os seios
de madrugada

08 dezembro, 2008

"Quem vai proibir que, na lâmpada acesa, se acenda a lâmpada?"

palavras do sábio poeta latino Ovídio (43 a.c./17 d.c.) 
retiradas de "A Arte de amar" na tradução de Carlos 
Ascenso André (Livros Cotovia)

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imagens do filme "too much flesh" de Jean-Marc Barr e Pascal Arnold

07 dezembro, 2008

como dois almiscareiros

mónada nº 634 tirada de "ofício de trevas 5" de 
Camilo José Cela


mademoiselle gigi tem os seios grandes com um ligeiro 
desiquilíbrio relê o cântico dos cânticos: o meu amado é para 
mim um ramo de mirto que repousa entre os meus peitos i 3 teus 
peitos são como duas gazela iv 5 teus peitos são como dois 
almiscareiros vii 4 tua figura é esbelta como a palmeira e teus 
peitos são os seus cachos vii 8 disse para comigo vou subir à 
palmeira para apanhar os seus cachos sejam os teus peitos cachos 
para mim vii 9 muro sou e torres são os meus peitos viii 10 recorda 
a invenção da via láctea as supremas caridades e santa águeda da 
bandeja gabriela d'estrées e sua irmã a maja desnuda os selos dos 
correios da espanha frança itália noruega marilyn monroe com os 
seus balochards grandes com um ligeiro desequilíbrio brigitte bardot 
com as suas gougouttes grandes com um ligeiro desequilíbrio
jayne mansfield com os seus roberts grandes com um ligeiro dese-
quilíbrio sofia loren com a sua salle à manger du petit et salle de 
recréation de papas grandes com um ligeiro desequilíbrio anita 
ekberg com as suas tétasses grandes com um ligeiro desequilíbrio e 
tantas e tantas a todas lhes dá certa graça o desequilíbrio e os 
magnates fazem longas pacientes bichas para o comprovarem

06 dezembro, 2008

haiku de Uda Kiyoko


Aperto nos braços
a alma, os seios e tudo o mais
ao chegar Outono.

zapping days, #15

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05 dezembro, 2008

os seios na dança

"Todas as mulheres, tanto as que estão destinadas à maior
quietude, como as que estão destinadas à maior inquietação,
deviam aprender um passo de dança, criado só para se desen-
volver em todo o potencial a graça dos seus seios. (...)

Os seios sentem a loucura da dança com um frenesi que chega
por vezes a assustar, porque parece que vão pegar fogo, que
vão incendiar-se de tanto roçarem um no outro. (...)

Os seios na dança são como um mar embravecido, e a sua on-
dulação dá uma vertigem que embriaga. (...)

Os seios na dança não são do homem; libertam-se na dança,
oferecem-se no altar dos sacrifícios, na ara em que arde o
fogo, oferecem-se ao Deus varonil que ama essas oferendas, e
ardem na ara como ardiam os carneirinhos que se ofereciam em
holocausto. É na dança que os seios estão mais longe do homem,
quando ninguém se pode aproximar deles, quando estão mais
solitários e mais oferecidos a si mesmos.
Línguas de fogo da dança, suprema voragem, vórtice do espectá-
culo de viver que a vida pode dar, sinal de rebate que convém dar

aos corações para que sejam livres, exaltados e revolucionários!"


excertos retirados de "Seios" de Ramón Gómez de la Serna
(edição Antígona com tradução de José Colaço Barreiros)

04 dezembro, 2008

balkan erotic epic

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um filme de Marina Abramovic (2005)

03 dezembro, 2008

para o senhor austero mais dois poemas do senhor pessoa contra o senhor salazar

Antonio de Oliveira Salazar.
Trez nomes em sequencia regular...
Antonio é Antonio.
Oliveira é uma arvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.


29-03-1935



Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
Mas ninguém sabe porquê.
Mas, enfim, é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé:
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.


29-03-1935


(da Edição Crítica de Fernando Pessoa - Volume I, Tomo V. 
Edição de Luís Prista. Lisboa, I.N.-Casa da Moeda, 2000.)

este senhor salazar

de Fernando Pessoa

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só o azar, é natural.

Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...




Um sonhador nostálgico do
abatimento e da decadência


29-3-1935

02 dezembro, 2008

zapping days, #14

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01 dezembro, 2008

stranger

Os meus anos oitenta
Tuxedomoon. A banda de sempre. A banda que não envelhece. 
A banda para sempre. 
Winston Tong. Um dos meus vocalistas preferidos.
Coisas que não sei explicar.


Winston Tong /Tuxedomoon