30 setembro, 2008

pois

um poema do nosso grande Alexandre
o'Neill



O respeitoso membro de azevedo e silva
nunca perpenetrou nas intenções de elisa
que eram as melhores. Assim tudo ficou
em balbúrdias de língua cabriolas de mão.

Assim tudo ficou até que não.

Azevedo e silva ao volante do míni
vê a elisa a ultrapassá-lo alguns anos depois
e pensa pensa com os seus travões
Ah cabra eram tão puras as minhas intenções

E a elisa passa rindo dentadura aos clarões.

29 setembro, 2008

um dos que eu amo, eu que não sou moderno


Jonathan Richman "Abdul & Cleopatra"

27 setembro, 2008

poema que me sobrou do verão

neste algarve
tudo me parece alarve
tudo a ler sobre a peida da nereida
os amores em saldo do ronaldo
cristianas gentes

tanta bola de berlim no olhar
amargo a discorrer de mim
tantos correios nas insípidas manhãs
tantos rios de flores sem mal
tanta saudade retornada
tanta coscuvilhice demente
tanta palavra chinesa tatuada
tantas caras desfiguradas por botox
tanto desbotado lux

este all garve
resort da pouca sorte
hall de um país sem garbo

26 setembro, 2008

"hymns for a dark horse"

Não li nada, não vi nada, nenhuma crítica, nenhuma imagem,
nenhum vídeo. Não sei quem são, não os procurei, não sei donde
vêm, não sei quem admiram, não calculo aonde vão chegar.
Tal como Beirut, de quem também nada sabia, trouxe logo o disco
para casa. Estes Bowerbirds são já a minha paixão deste outono a
começar.
O disco roda pela segunda vez e eu sinto que há muito respiro
esta música. Cheira-me a festa e a nostalgia. Palmas e lágrimas
enchendo a minha alma outonal. Nem tento entender as palavras,
não preciso disso, deixo-me ir apenas atrás dessas vozes joviais,
dessa corrente humana de uma beleza quase impossível (eu sei,
eu sei, tenho tendência para hiperbolizar, mas hoje deixem-me
lá!).
Será sempre assim comigo, apaixonar-me como um adolescente,
um parvo e efervescente adolescente, como se a música popular
pudesse tornar imorredoira a nossa juventude, como se a felici-
dade só fosse possível bebida nas canções amadas.
De disco em disco, até à desilusão final.

24 setembro, 2008

Felicidade, de Henri Michaux

Às vezes, num repente, sem causa visível, percorre-me um
grande arrepio de felicidade.
Vindo dum centro de mim, tão interior que eu o ignorava,
ele leva, embora rodando a extrema velocidade, um tempo
considerável a alcançar as minhas extremidades.
Esse arrepio é perfeitamente puro. Por mais extensamente
que circule dentro de mim, nunca encontra nenhum órgão
inferior, nem qualquer outro, de resto, nem encontra ideias,
nem sensações, de tal modo é absoluta a sua intimidade.
E tanto Ele como eu estamos perfeitamente sós.
Talvez que, percorrendo todas as partes de mim, ele me
pergunte à passagem: «Então, como vai isso? Posso fazer
alguma coisa por si, neste sítio?» É possível. E que à sua
maneira me console as entranhas. Mas eu não sou posto ao
corrente.
Eu gostaria de proclamar a minha felicidade, mas que dizer?
É uma coisa tão estritamente pessoal.
Dentro em pouco, o prazer é demasiado intenso. Sem eu dar
por isso, no espaço de segundos, torna-se um sofrimento atroz,
um assasssinato.
A paralisia! digo cá para mim.
Faço depressa alguns movimentos, rego-me com muita água
ou, mais simplesmente, deito-me de barriga para baixo, e a
coisa passa.



um magnífico texto retirado de "As Minhas Propriedades" (Fenda
Edições), livro que, por este caminho, ainda acaba todo transposto
aqui, neste meu canto blogosférico.


23 setembro, 2008

o perigo da criação

Tirei uma a uma, enquanto ia tentando esconder-se, mais de
cinquenta maçãs e pêras de um caixote de madeira. Por fim,
ficou sozinha a bailar no papel amarelecido que servia de forro.
Uma espécie de desespero no som das suas patas felpudas. Era
enorme (não gostaria nada de sonhar com ela). Esmaguei-a
impiedosamente com o pé. A empregada sorriu aliviada, as faces
ruborizadas da excitação. Disse-me que assim já não haveria o
perigo da criação. Disse-lhe, para a sossegar, que em Portugal
eram raras as aranhas perigosas. E contei-lhe de aranhas vene-
nosas que, por exemplo, na Austrália apareciam em muitas casas
nos sítios mais inesperados e mordiam às vezes mortalmente;
falei-lhe ainda de umas aranhas que tinham aparecido ultima-
mente nas sanitas de aviões e que algumas pessoas tinham ido,
por causa disso, parar ao hospital. Exclamou «cruzes, credo» e
depois falou-me de centopeias, de uma prima que tinha sido
mordida, que a ferida demorara três meses a sarar e que tinha
ficado na perna uma marca bem feia para sempre.
Embrulhei a aranha no papel. Disse-me que ia deitá-la na sanita.
«Está bem, morta já não tem importância, nem a sua alminha
deve poder ressuscitar».
Senhor Francisco, com essas coisas não se brinca.

21 setembro, 2008

spirituals, ímans e porrilóquios

disso se faz Senya Semiotyka,
o novo livro do meu amigo Paulo Luís Barata,
poeta cujas palavras são como iluminantes tangentes do caos
desafiando a ordem, carne ou cerne de uma voz muito sagaz...




Mão dupla
Na via do sexo
Colisão
No sexto sentido
Mas há sinais
Pelo teu corpo
Aforismos chineses
Transitando
Por dois olhos
Como planetas azuis
Na trilha do tao
Do caminho perfeito

19 setembro, 2008

amanhã, por uma boa causa

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17 setembro, 2008

questão particular

bosão ou gozão
não sei não
mas deus talvez
não queira mesmo ser
encontrado

14 setembro, 2008

Após o regresso das férias têm sido dias estranhos. Já lá vão
quase dois meses praticamente sem poder usar a net em casa.
Situação quase insuportável. Vicissitudes várias e uma con-
juntura aziaga de pequenas desgraças tecnológicas fazem com
que a minha actividade blogosférica - sobretudo as visitas regu-
lares aos blogues de que gosto muito -, seja de momento muito
reduzida. Por tudo isso - e por tempo indeterminado -, este
blogue só pode continuar arrastando-se assim, aos bochechos.

12 setembro, 2008

Se é a terra

de Luiza Neto Jorge



Se é a terra vértebra
do universo digamo-lo
universalmente

Se dispõe de um eixo digamo-lo
como de farpas de oiro
que dão morte

Se é a terra estreita
e não tem membros
digamo-lo invejosamente
extensos

expondo-nos
longe dos países
ao convívio dos seres
impacientes

11 setembro, 2008

cultura mutante

Bons velhos... novos tempos! Poder ter aqui os geniais e
visionários Mutantes.
Música que não envelhece. Grande som pop.


Os Mutantes "Quem tem medo de fazer amor", 1970

08 setembro, 2008

a pureza da infância

Diz a mais nova para a mais velha das crianças que se afastava
para tentar esconder-se:
- Vou contar até um.
Alguns, não muitos, nanosegundos depois:
- UMMM!

07 setembro, 2008

eu sempre fui mais McEnroe

7-6, 6-1, 6-7, 5-7, 6-4. Quatro horas e dez minutos de beleza
pura. Revi algum desses momentos espectaculares por estes
dias. Há dezoito exactos anos, no torneio dos Estados Unidos,
começava assim o declínio do imperador Borg. O ocaso do senhor
frio. Na altura irritava-me o seu jogo perfeito e glacial. Hoje
simpatizo bastante com a histórica figura, quase tanto como com
o malcriado rapaz americano que, à época, eu juvenilmente idola-
trava. Essa vertigem de subir e decidir na rede...
Não sei se cheguei a ver este jogo, não sei se ele terá sido televi-
sionado. Mas lembro-me bem de ter vibrado com as batalhas que
travaram em Wimbledon, jogos lendários que também ficaram
para a história do ténis mundial.

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© 2008 (fotos de telemóvel)

06 setembro, 2008

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© Porto, Junho 2008

03 setembro, 2008

ritíssima


Rita Pavone "Plip"