30 junho, 2009

make up

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"Make Up", 2007 de Simin Keramati (n. 1970, Teerão)

29 junho, 2009

deixei a luz em

dias como este, conheço o
olhar sem imagens dentro,
sei do frio quando lento
se caminha a rua, quando nada
difere do que a alma
sente, esse fim do
amor, a respiração que
recua


valter hugo mãe


de "três minutos antes de a maré encher"

28 junho, 2009

casa da felicidade

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Monobloco com participações especiais de Zé Renato e Roberta Sá
Casa da Música, 27 Junho 09

26 junho, 2009

escutar

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© Porto, 2009

25 junho, 2009

roteiro sentimental

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© Porto, 2009

23 junho, 2009

pop ular e pra pular

Ó meu querido e caprichoso S. João!
Guarda lá pra depois a chuva e o frio
que é certa a noite de folia e diversão
e o Porto quero correr de fio a pavio!

22 junho, 2009

este nosso mar

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© Porto, Maio 2009

20 junho, 2009

loving

you

19 junho, 2009

Irão em convulsão,
o mundo clama — a mosca
na mão de Obama.

18 junho, 2009

o escrínio

um postal da cidade do incomparável 
Manoel de Barros





Um poeta municipal já me chamara a cidade de escrínio.
Que àquele tempo encabulava muito porque eu não
sabia o seu significado direito.
Soava como escárnio.
Hoje eu sei que escrínio é coisa relacionada com jóia,
cofre de bugigangas...
Por aí assim.
Porém a cidade era em cima de uma pedra branca
enorme
E o rio passava lá embaixo com piranhas camalotes
pescadores e lanchas carregadas de couros vacuns fedidos.
Primeiro vinha a Rua do Porto: sobrados remontados na
ladeira, flamboyants, armazéns de secos e molhados
E mil turcos babaruches nas portas comendo sementes
de abóbora...
Depois, subindo a ladeira, vinha a cidade propriamente
dita, com a estátua de Antônio Maria Coelho, herói da
Guerra do Paraguai, cheia de besouros na orelha
E mais o Cinema Excelsior onde levavam um filme de
Tom Mix 53 vezes por mês.
E tudo o mais.
Escrínio entretanto era a Negra Margarida
Boa que nem mulher de santo casto:
Nhanhá mijava na rede porque brincou com fogo de dia
— Mijo de véia não disaparta nosso amor, né benzinho?
Yes!
Um dia Nhanhá Gertrudes fazia bolo de arroz.
Negra Margarida socava pilão.
E eu nem sei o que fazia mesmo.
Veio um negro risonho e disse sem perder o riso:
— Vãobora comigo, negra?
E levou Margarida enganchada no dedo pra São Saruê.
Daí eu fiquei naquele casarão que tinha noites de medo.
Nhaná sonhava bobagens que eu fugi de casa pra ser
chalaneiro no Porto de Corumbá!
O mijo de Nhanhá sentia, no pingar, um vazio inédito e
fazia uma lagoinha boa no mosaico...
Desse tempo adquiri a mania de mirar-me no espelho
das águas...




(retirado de "Poemas Concebidos Sem Pecado", 
Editora Record, 1999)

16 junho, 2009

meia-noite, 16 de junho

(sempre "a teus pés", de Ana Cristina César)


Não volto às letras, que doem como uma catástrofe. Não
escrevo mais. Não milito mais. Estou no meio da cena, entre
quem adoro e quem me adora. Daqui do meio sinto cara
afogueada, mão gelada, ardor dentro do gogó. A matilha de
Londres caça minha maldade pueril, cândida sedução que dá e
toma e então exige respeito, madame javali. Não suporto
perfumes. Vasculho com o nariz o terno dele. Ar de Mia Farrow,
translúcida. O horror dos perfumes, dos ciúmes e do sapato
que era gêmea perfeita do ciúme negro brilhando no gogó. As
noivas que preparei, amadas , brancas. Filhas do horror da noite,
estalando de novas, tontas de buquês. Tão triste quando
extermina, doce, insone, meu amor.

14 junho, 2009

fairytale in the supermarket

12 junho, 2009

nas asas do amor errante

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© 2009 (à esquerda, foto minha digitalmente alterada 
da obra/instalação assinada por Inês Miguel na festa 
"12 Horas no Coração da Baixa")

10 junho, 2009

era uma vez este país

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© 2009

08 junho, 2009

(em lenta câmara)

"Jane era a guardiã dos filmes da família. Costumava vê-los sozinha, 
quando não tinha mais de sete anos. Ia buscar o projector de 8mm, 
montava-o, punha o quarto às escuras. A família, antes dela nascer. 
A família, depois dela nascer. Todos a correr para a câmara, quando 
o pai gritava acção. O pai dizia que gostava que tudo tivesse muito 
movimento. O passeio a West Point, antes dela nascer. A ida ao 
Canadá, quando ela tinha oito anos. A irmã, quando era adolescente 
e detestava ser fotografada. Essa irmã em bebé, um anjinho a sorrir 
para a câmara, papá. A outra irmã a chorar, o sol a iluminar-lhe o 
cabelo brilhante. Está sentada numa cadeira estofada, quase toda à 
sombra, lágrimas pela cara abaixo, a boca vermelha e lassa de fadi-
ga. A luta entre a irmã e a mãe. A mãe afastando a câmara com a 
mão, fugindo com a cabeça para o lado. O pai bronzeado, depois de 
uma viagem que tinha feito sozinho às Bermudas, quando a mãe 
estava grávida dela. Cenas dessa gravidez. Ela move-se pesadamente 
em direcção à câmara, as filhas correndo para ela, saltando em frente 
dela. São pequenas e activas, ela é grande, os movimentos contidos, 
forçados. Em câmara lenta, é claro que os movimentos e gestos
revelarão mais, como se houvesse ali a mão de Proust e não apenas
a da tecnologia. Jane não põe o projector em câmara lenta quando é 
pequenina. À velocidade normal, viu-se a si própria, seis meses de 
idade, a tomar o biberão dado pela mãe que está olhar para a câmara, 
papá, de modo a que o biberão não se enfie pela boca de Jane, mas 
acena perto dele."


(excerto de "Casas Assombradas" de Lynne Tilman)

06 junho, 2009

no lado a da noite b fachada




"Estando D. Filomena sentadinha em seu balcão
passou por ali um soldado logo lhe apertou a mão
aperta aperta ó soldadinho agora tens ocasião
que o meu marido foi à caça lá para os montes de aragão
se tu queres que ele cá não volte deita-lhe uma maldição
os corvos lhe tirem os olhos as águias o coração
e os cães com que ele caça o tragam de procissão"



("D. Filomena", canção tradicional, versão de Adélia Garcia 
adaptada por b fachada)

05 junho, 2009

Depois de fazer
a cereja baloiçar,
rebento-a na boca.





um pequeno tesouro de 
Mayuzumi Madoka

04 junho, 2009

definição do nada

por Francisco Brines



Não se trata de um vazio, que é carência
nem do reverso da luz;
pois tudo o que nega constitui.
Tão-pouco do silêncio, que embora não seja supressão,
difunde numa infinidade uma natureza extensa.
Porque falamos desde este fiel engano da ficção da palavra
podemos enunciar esta pausa solene:
não se trata da existência certa do conceito de Deus como Impossível.
Nem sequer é tão-pouco a prévia negação de alguma insuficiência.

Pensais que ele é um frio, mas essa é a vossa carne.
Nada nega e afirma sua firme coerência.

02 junho, 2009

memórias da festa

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© Serralves em Festa, Maio 2009

01 junho, 2009

em certa medida contas acertadas com o passado

"Imaginem um Funk profundamente abatido, uma música de dança
que se move sempre a partir da consciência da solidão e da tristeza.
Como Funk, impoluto, tribal, impossível de não dançar. Como Fado,
trágico, carente, místico, impossível de não magoar. É precisamente
essa a sabotagem dos A Certain Ratio: utilizar as formas exuberantes
da alegria para transmitir os conteúdos ensimesmados da tristeza.
E ao fazê-lo (eis o fascínio principal) esvaziam ambas as coisas e 
denunciam a fragilidade do pensamento dominado pelo binómio 
forma/conteúdo.
E dança-se. E sofre-se. E descobre-se.
Uma espécie de Fado, numa espécie de Funk, numa espécie de 
Música."



escrevia assim desta forma apaixonada, para o desaparecido Se7e
o nosso inevitável M.E.C., a meio ano de distância desse mítico 
Festival de Vilar de Mouros, quando teve nas mãos um exemplar, 
ainda de rótulo branco, dessa obra-prima que é Sextet, anun-
ciando-o como o "primeiro disco de música popular de 1982" e 
provavelmente o último...

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© A Certain Ratio, Serralves em Festa, 31 maio 2009