de Henri Michaux
"Às vezes, num repente, sem causa visível, percorre-me um 
grande arrepio de felicidade. 
Vindo dum centro de mim, tão interior que eu o ignorava, 
ele leva, embora rodando a extrema velocidade, um tempo 
considerável a alcançar as minhas extremidades.
Esse arrepio é perfeitamente puro. Por mais extensamente 
que circule dentro de mim, nunca encontra nenhum órgão 
inferior, nem qualquer outro, de resto, nem encontra ideias, 
nem sensações, de tal modo é absoluta a sua intimidade.
E tanto Ele como eu estamos perfeitamente sós.
Talvez que, percorrendo todas as partes de mim, ele me 
pergunte à passagem: "Então, como vai isso? Posso fazer 
alguma coisa por si, neste sítio?" É possível. E que à sua 
maneira me console as entranhas. Mas eu não sou posto ao 
corrente.
Eu gostaria de proclamar a minha felicidade, mas que dizer? 
É uma coisa tão estritamente pessoal.
Dentro em pouco, o prazer é demasiado intenso. Sem eu dar 
por isso, no espaço de segundos, torna-se um sofrimento atroz, 
um assassinato.
A paralisia! digo cá para mim."