31 agosto, 2008

a lei de ney

"Sou pop e, para mim, pop quer dizer sem um limite."

(retirado da entrevista de Ney Matogrosso publicada no Ípsilon
de sexta passada)



Gosto de pensar que esse é também o meu lema.


E não tenho agora nem tempo nem meios para dizer muito mais do
que isto. Escrevo em computador alheio. O meu portátil continua no
estaleiro. Sem data de regresso.
Meu sincero agradecimento a todos os que continuam a passar por

aqui.

27 agosto, 2008

o mais belo dos poetas


Breve Sonata Em Sol [Um] (Menor, Claro)
de Rui Belo


A solidão da árvore sozinha
no campo do verão alentejano
é só mais solitária do que a minha
e teima ali na terra todo o ano
quando nem chuva ou vento já lhe fazem companhia
e o calor é tão triste como o é somente a alegria
Eu passo e passo muito mais que o próprio dia

25 agosto, 2008

Dignidade profissional

uma curta história do autor húngaro
István Örkény




Eu sou um carácter forte!
Sei dominar-me.
Não o deixava transparecer, mas estavam em jogo o
trabalho de longos anos, o reconhecimento do meu
talento, todo o meu futuro.
- Sou um artista imitador - disse.
- O que é que sabe? - perguntou o director.
- Imito o canto dos pássaros.
- Infelizmente - fez um gesto de renúncia com a mão -,
isso já passou de moda.
- Como? O arrulhar da rola? O chilrear do milheiro nos
caniçais? O gorjeio da codorniz? O grito da gaivota? O
cantarolar da cotovia?
- Passou - disse o director aborrecido.
Aquilo magoou-me. Mas penso que não o mostrei.
- Adeus - disse eu com cortesia, e saí a voar pela janela
aberta.

23 agosto, 2008

antes do ouro

o rezinguento povo
clama por medalhas - fado
pouco novo.

depois da prata

olímpica tempestade num copo
de água - o país mesquinho
veio à tona.

20 agosto, 2008

a palavras de outros sempre recorro

mal intitulado 'post', eu sei - e enchendo assim este
vazio de continuar sem computador -, para um
poema sem título

de António Dacosta







As PALAVRAS que digo
Os sinais que faço
Preservam o tempo
O eco e a memória


Por isso a ti recorro



E à terra peço folhas e raízes

18 agosto, 2008

ainda bem, Vanessa, que a tua mãe foi nessa de te chamar Vanessa

14 agosto, 2008

Lugar

um poema de
Manuel António Pina


Quem está aqui
cada vez mais longe?
O que fala foge
para dentro de si.

Quanto tempo passou
pelo que já não sou
em que outro lugar
onde não estou a estar?

Alguém brinca infinitamente
num jardim e em mim
lembrando-se de isto em mim,
imaterial e ausente.

E sinto em alguém
que tudo é tudo
e eu também,
vasto e profundo.

13 agosto, 2008

césar em meu socorro*



Primeira lição
de Ana Cristina César

Os gêneros de poesia são : lírico, satírico, didático, épico,
ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e
pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os
vesrsos sentimentais eram declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a
morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o
epitáfio e o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma
pessoa morta.




* O computador continua no estaleiro. O blogue seguirá assim
intermitente, ao sabor de diversas contingências.

10 agosto, 2008

as plantas falam

- Papá, as plantas falam?
- Não, filha. Mas podemos falar com elas.
- Mas elas ouvem?
- Elas não ouvem mas acho que são capazes de sentir. Sempre
ouvi dizer que devíamos falar com as plantas, que elas gostavam
da nossa companhia.
- Então porque é que estás sempre a falar com essa planta e
dizes que ela está a morrer?
- Se calhar aqui o bonsai não gosta do que eu lhe digo. Ou então,
não gosta da minha voz.
- Eu gosto, pai. Só não gosto quando estás a cantar.
- Ah, talvez seja isso... o bonsai também não goste de ouvir as
minhas cantorias...
Ela já não quis saber destas últimas palavras. Ao fundo da sala,
ouço-a:
- Mana, as plantas falam?

08 agosto, 2008

ai podes (#3)

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© 2008

06 agosto, 2008

intermitência

outra vez sem com
puta
dor.

05 agosto, 2008

luar intenso.
cigarras arruinando
o marinho silêncio
de meu desejo.


extático choro
de inquietude.

03 agosto, 2008

ai podes (#2)

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© 2008

02 agosto, 2008

6.97 euros

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"Maiden", John Wesley


Um dos meus novos livros, no regresso das férias.
Por um preço quase inacreditável, consegui este fabuloso
"Works on Paper" de John Wesley. Uma óptima edição da
germânica Kerber dedicada ao pintor norte-americano
nascido em 1928. Um dos grandes da Pop Art, mas muito mais
do que isso.
A imagem que teria preferido colocar aqui no blogue não a
consegui encontrar na net. A ver vamos, um destes mais vaga-
rosos dias. Em alternativa, seguindo os ventos da época estival,
deixo-vos uma outra de que gosto bastante. Ainda por cima,
senhora para ter a minha idade.

01 agosto, 2008

a sombra quadriculada
sobre a cal.
o calor a zumbir.
e cactos.

minha sede
imaculada.