© Bruxelas, Junho 2000Tive o privilégio de poder estar em Bruxelas para assistir à meia-
-final entre Portugal e a França, no Euro 2000.
Um dia esplendoroso de sol que acabou, para nós portugueses,
numa noite de alguma infelicidade, vítimas dessa mão irrequieta
do alourado Abel Xavier, e dessa invenção efémera que foi o
golo de ouro, ou lá o que era. Cinco minutos antes dessa fatal penali-
dade, João Pinto teve na cabeça a possibilidade de colocar, pela
primeira vez na nossa história, a selecção numa final. Teria saído
de lá um herói. E não teria sequer havido, mais tarde, o triste es-
pectáculo da Coreia. Aí também não teve cabeça. Mas nada a fa-
zer, não se pode reescrever a história. (Por mim, está perdoado,
foi um dos jogadores mais brilhantes que vi jogar, e até acho que
faz muita falta hoje, a esta selecção "sem banco"...)
Voltando ao início, o ambiente fora e dentro do estádio, antes do
jogo, estava fantástico. Emigrantes portugueses e luso-descen-
dentes vindos de todos os cantos da Europa, e alguns até mesmo
das Américas. Muita mulheres bonitas. Muitos sorrisos de pura
alegria. Inesquecível. Como uma onda, esse recalcado orgulho de
ser português, a libertar-se contagiante e a vibrar dentro de um
estádio...
Na bancada onde eu estava, onde estavam aliás portugueses de
todos os sotaques e pronúncias, com a luz do fim de tarde a dou-
rar-nos a pele, o momento de cantar o hino foi, pela primeira vez
para mim, algo verdadeiramente emocionante.
Mesmo assim, não pude deixar de registar esse instante em que
dois rapazes (concerteza filhos de emigrantes, pois mal falavam
português), de charro aceso entre os dedos, puxam de um boné,
e começam a cantar a letra d'
A Portuguesa, inscrita na etiqueta
de tecido cosida no seu interior, um boné provavelmente
made in China ou
Indonesia...
Momento único.
( E os charros que eles fumaram!)