30 outubro, 2010

nada ou o silêncio. nada mais que isso. não sei dizer mais do que isto.



Em memória de João Paulo Seara Cardoso.
Uma grande figura da cultura portuguesa.
O fundador do Teatro de Marionetas do Porto.
Um legado notável que nos deixou e que nunca
poderemos deixar morrer.
Um criador que tive o privilégio de conhecer nos
meus verdes anos, nos meus primeiros passos nas
coisas do meio artístico da cidade; um verdadeiro
agitador cultural nesse quase deserto que era o
Porto nos inícios dos anos oitenta...

28 outubro, 2010

adoro o humor deste tipo

"[...]
Além de escritor profissional, e dos bons, Jack Kerouac
inventou o termo beatnik. Passarei a explicar como é
que isto aconteceu.
Quando começou a tornar-se conhecido, os jornalistas
começaram a entrevistá-lo com frequência.
— Sr. Kerouac, como designaria a sua geração? Todos
aqueles escritores que foram para Paris após a Primeira
Guerra Mundial passaram a ser conhecidos por "Geração
Perdida". O senhor tem um nome para a sua?
— Não percebo nada de gerações — disse Kerouac, — a
não ser de pais, mães, tios e tias. O que quer isso dizer?
Eu limito-me a comer e a beber, e a discutir literatura,
pintura, ou qualquer outra coisa que por acaso me
interesse.
— Ouça, Sr. Kerouac, vai ter de dizer-nos qualquer coisa.
Os nossos leitores desejam saber aquilo que pensa. O
senhor é escritor, e nós também.
— Está bem — retorquiu Kerouac. — Sou da Geração Beat.
Então, quando o primeiro sputnik subiu aos céus, a
palavra transformou-se em Beatnik.
Qualquer pessoa que me conheça minimamente sabe que
não sou retrógado, mas, na minha opinião, os beatniks
são pessoas bastante perigosas. Andam todos à cata de
trabalho, e são perigosos. Não acho mal que as pessoas
procurem trabalho, só que o trabalho que os beatniks
querem é o meu trabalho.
Não há nada que me irrite mais do que essas pessoas que
tentam rotular gerações de escritores, como se toda a
escrita fosse produzida numa maternidade. Por amor de
Deus, os escritores não vêm em gerações.
Alguém me perguntou certa vez se eu era um escritor da
classe operária. Ora, sem dúvida que é essa a minha
origem, mas não me considero um escritor da classe
operária, nem um escritor irlandês, nem de nenhum
outra seita em concreto. Considero-me apenas um
escritor. [...]"



Brendan Behan em "Nova Iorque"
(edições Tinta da China, 2010)

21 outubro, 2010

e terna idade

Photobucket
© 2010

19 outubro, 2010

politics and stories

"As an artist I work with lots of different media but mainly what it
comes down to is storytelling. I tell stories. And I love stories.
They're illusions. You can make them up. You can get a lot of
people to believe them. You can even get a lot of people to believe
a story about how they're in great danger and how there's an evil
despot with lots of hidden weapons who wants to kill you. I mean
you can actually start wars with stories. That's how magic they
really are. And if it's a really good story, you can tell it again.
Just add a few new details about mushroom clouds hanging over
U.S. cities and invasions of the homeland. Just change a few names
and places and you can tell the exact same story again and you
can start another war. Because everyone forgot that the first
story wasn't a true story. But of course the point was never that
it was a true story. The point was that it was a good story.
Scary, convincing, and beautiful.
So what do stories mean in a country where the government is
very media-savvy, very story-savvy? What does a true story
mean now?
What's a beautiful story?
Many of the big American stories now, the most-told stories, are
apocalyptic. They're stories about how the world is getting
hotter, more crowded, and dangerous. They're about arctic floods
and disappearing resources and entropy and the world winding down.
And nobody knowns whether all this is fiction or not. But like
many complicated stories about the future, there's no way to
predict which version is more likely. It's just sort of a matter
of preference. It comes down to which story do you like better?
This is another thing I love about stories — they are wild and
alive and always changing.

What are days for?
To wake us up.
To put between the endless nights."


LAURIE ANDERSON em "Homeland"

11 outubro, 2010

um cão em cada dedo *

com um cão em cada dedo
as minhas mãos continuam à espera
de um poema que me leve daqui

era bom caminhar dentro do fumo
acender um cigarro e ser o próprio sopro
erguer-me do outro lado do meu corpo

gostava de me transformar numa palavra
não importa a ferida que possa causar
quando acontece um rosto por acaso










* "um cão em cada dedo" (ed. Incomunidade, 2010),
o segundo livro de Alice Macedo Campos,
depois de "o ciclo menstrual da noite"

03 outubro, 2010

na mesma hora

Photobucket
© Porto, Setembro 2010