29 abril, 2006

minha morte alheia

um poema de Affonso Romano de San'Anna

Quando eu morrer
alguns amigos vão levar um baque enorme.
E na hora da notícia ou do enterro
sentirão que alguma coisa grave aconteceu para sempre.

Depois
irão se esquecendo de mim,
da cor do luto
- e da melancolia,
exatamente
como eu fiz
com os outros que em mim também morreram.

O morto, por pouco, é pesado e eterno.
Amanhã
a vida continua com buzinas, provérbios,
sorveteiros nas esquinas,
esplêndidas pernas de mulheres
e esse ar alheio
de que a morte
não apenas se dilui aos poucos,
mas é uma coisa que só acontece aos outros.

de A Catedral de Colônia (1985), recolhido do nº 8 de aguasfurtadas

8 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

fabuloso

29 abril, 2006 13:44  
Blogger hfm disse...

Gosto tanto dele. Lembrei-me de um livro de crónicas dele que um amigo brasileiro me enviou. Vou pensar em colocar algumas no Alicerces. Obrigada.

29 abril, 2006 15:02  
Blogger Mónica (em Campanhã) disse...

faz um arrepio lento (não conhecia)

29 abril, 2006 15:04  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

mais um daqueles poemas que só é poema porque o autor partiu as linhas ao digitar...

29 abril, 2006 17:05  
Blogger isabel mendes ferreira disse...

e eu tb. gosto. muito. obrigada.

30 abril, 2006 12:48  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

é mau sinal, vocês, no fundo, defendem o poder cultural, o instituído pelos media e pelas universidades.
nunca saberiam distinguir um zé ninguém na Lapa, quase mendigo, que seria o futuro Seu Jorge, nem tampouco um barbeiro-cabelereiro no Minho, um futuro António Variações. Lamento muito e pelo VOSSO PRIMEIRO DE MAIO.

30 abril, 2006 14:15  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

Afonso com dois efes, Santana, com ' e dois ennes, marido de Marina Colasanti, um blefe autêntico, enquanto Zé Agrippino viola as leis da sanidade mental no Embu.
Depois a giraça da Filomena Mónica dirá que não entende como um comerciário pode ter sido um génio da literatura. A burguesia tem uma visão distorcida do artista. TEMOS QUE TER COMPAIXÃO da burguesia.

01 maio, 2006 15:47  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

Quando eu morrer alguns amigos vão levar um baque enorme.E na hora da notícia ou do enterro sentirão que alguma coisa grave aconteceu para sempre.Depois irão se esquecendo de mim,da cor do luto - e da melancolia,exatamente como eu fiz
com os outros que em mim também
morreram.

02 maio, 2006 21:10  

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