28 junho, 2010
25 junho, 2010
logrador
de Antonio Cicero
Você habita o próprio centro
de um coração que já foi meu.
Por dentro torço por que dentro
em pouco lá só more eu.
Livre de todos os negócios
e vícios que advêm de amar
lá seja o centro de alguns ócios
que escolherei por cultivar.
Para que os sócios vis do amor,
rancor, dor, ódio, solidão,
não mais consumam meu vigor,
amado e amor banir-se-ão
do centro rumo a um logrador
subúrbio desse coração.
Você habita o próprio centro
de um coração que já foi meu.
Por dentro torço por que dentro
em pouco lá só more eu.
Livre de todos os negócios
e vícios que advêm de amar
lá seja o centro de alguns ócios
que escolherei por cultivar.
Para que os sócios vis do amor,
rancor, dor, ódio, solidão,
não mais consumam meu vigor,
amado e amor banir-se-ão
do centro rumo a um logrador
subúrbio desse coração.
21 junho, 2010
20 junho, 2010
saramago na espuma dos meus dias
ouvir o rock'n roll de boris vian. ouvir com dolorosa
alegria a justa felicidade de outros tempos mais
esperançosos...
matar a noite de sábado ouvindo música feliz.
que vadiar na rede virtual não é o mesmo que vadiar
em paris. (e tudo o que rima tem que ser verdade).
sonhar o que ninguém sonhará por nós. beber da
água surreal dos sonhos. música, música, embriagar-
-me de música.
ouvir boris vian. há quanto tempo li eu as formigas?
era jovem. agora o que sou? era tão jovem. era jovem
e fazia por ler os livros que não tinha ou não podia ter.
que resta de mim na espuma dos anos?
ouvir boris vian. as canções tão perfeitamente curtas.
(lá estão estes meus malfadados advérbios de modo!)
deixar correr essa espécie de jazz cantado, enquanto
leio blogues. fugir do livro dos rostos amigos. e ler
antes os blogues de que gosto. perder-me dentro deles.
teatro anatómico. menina limão. sushileblon.
(rima e é bom. bim-bom.)
e como o jazz pode ser também divagar, suspiro:
tantos rios no rio...
o rio do paulo não é o rio da mónica...
e do meu rio de há tanto tempo, sobram que descoloridas
memórias?
quatro dias que souberam a quase nada.
lembro melhor paraty. e poder dizer que a minha filha
tem um pouquinho de samba no sangue.
a inspiração dessa viagem pela costa, de são paulo por ali
acima até ao rio de janeiro.
lindo fevereiro.
dias felizes. o novo mundo.
o disco chegou ao fim mas agora a escrita, jabulanina-
mente, não quer parar. que voz faço seguir?
bashung? celentano? vozes perdidas do funk?
micah p. hinson? (não, que isso agora talvez possa doer
demasiado...)
talvez gainsbourg, a voz-fetiche das horas indolentes.
mulher comestível. com a luz acesa. espiral medula.
e para quem falo eu? que necessidade desta escrita?
sinto que, de algum modo, todas estas inócuas
palavras são apenas o pretexto para assinalar aqui
a morte de mais uma figura ímpar do nosso tempo...
(mas como dizer sem vergonha?)
eu nunca li saramago. nunca me apeteceu ler
saramago. quis sempre ir adiando saramago.
bem sei que é prosaico demais dizê-lo assim, mas
nunca senti que fosse a minha praia.
já nem lembro há quanto tempo comprei o ano da
morte de ricardo reis. não sei bem porque o adiei,
porque nunca cheguei a lê-lo.
(e porque pareço eu estar sempre à espera de tempos
perfeitos ou das ocasiões mais adequadas para ler este
ou aquele, isto ou aquilo ?)
em quantos verões foi o memorial do convento na
bagagem? em quantas praias se encheu de areia, sem ter
sido sequer aberto?
(e logo eu que sempre li muito pouco na praia... depois
vieram as crianças e tudo se complicou mais ainda...)
na verdade, sou um péssimo leitor. leio o que posso mas
sou um péssimo leitor. sinto que passo tantos dias a ler e,
apesar de cultivar com particular gosto a poesia, sou sem
sombra de dúvida um muito pobre leitor.
porém, curiosamente, li alguns dos mais recentes nóbeis. li
jelinek, li hertha muller, li-as bem antes do supremo prémio,
li alguns outros crónicos candidatos, mas ao nosso nobel
nunca o li.
um um outro texto avulso. algumas crónicas. alguns textos do
inesperado blogue. partes da sua viagem a portugal.
mas nenhum romance. qualquer dos afamados romances.
não sei muito bem porquê, fui sempre preterindo os seus
livros. e certamente que terei mais algum dos seus títulos a
amarelecer perdido no caos doméstico das minhas estantes
atulhadas...
sempre li e ouvi com inegável interesse as suas entrevistas.
vi os filmes e os documentários que atempadamente se fizeram
sobre a sua vida e sobre a sua obra. posso bem dizer, então,
com toda a sinceridade, que gostava dele. do homem íntegro
e corajoso.
só se fosse muito cego, surdo e mudo poderia não ter a mínima
simpatia ou empatia por tão sábio e distinto homem português.
mas quem dele poderia não gostar? (bem sei que abundam os
sousas laras nesta terrinha!).
quem não invejava a sua história de amor com pilar?
esse tão belo e demonstrado amor.
um amor certamente à medida do seu génio.
hoje será cinza e à terra voltará.
descansará à sombra de uma oliveira que nunca terá idade.
o nome, esse, por cá ficará a ressoar, com aroma de erva bravia,
na eternidade possível do coração dos seus amantes leitores.
talvez eu venha a ser um deles.
a música continua a correr na noite ínsone. lisa canta i can't
get started.
a natureza do mal não será esta noite.
alegria a justa felicidade de outros tempos mais
esperançosos...
matar a noite de sábado ouvindo música feliz.
que vadiar na rede virtual não é o mesmo que vadiar
em paris. (e tudo o que rima tem que ser verdade).
sonhar o que ninguém sonhará por nós. beber da
água surreal dos sonhos. música, música, embriagar-
-me de música.
ouvir boris vian. há quanto tempo li eu as formigas?
era jovem. agora o que sou? era tão jovem. era jovem
e fazia por ler os livros que não tinha ou não podia ter.
que resta de mim na espuma dos anos?
ouvir boris vian. as canções tão perfeitamente curtas.
(lá estão estes meus malfadados advérbios de modo!)
deixar correr essa espécie de jazz cantado, enquanto
leio blogues. fugir do livro dos rostos amigos. e ler
antes os blogues de que gosto. perder-me dentro deles.
teatro anatómico. menina limão. sushileblon.
(rima e é bom. bim-bom.)
e como o jazz pode ser também divagar, suspiro:
tantos rios no rio...
o rio do paulo não é o rio da mónica...
e do meu rio de há tanto tempo, sobram que descoloridas
memórias?
quatro dias que souberam a quase nada.
lembro melhor paraty. e poder dizer que a minha filha
tem um pouquinho de samba no sangue.
a inspiração dessa viagem pela costa, de são paulo por ali
acima até ao rio de janeiro.
lindo fevereiro.
dias felizes. o novo mundo.
o disco chegou ao fim mas agora a escrita, jabulanina-
mente, não quer parar. que voz faço seguir?
bashung? celentano? vozes perdidas do funk?
micah p. hinson? (não, que isso agora talvez possa doer
demasiado...)
talvez gainsbourg, a voz-fetiche das horas indolentes.
mulher comestível. com a luz acesa. espiral medula.
e para quem falo eu? que necessidade desta escrita?
sinto que, de algum modo, todas estas inócuas
palavras são apenas o pretexto para assinalar aqui
a morte de mais uma figura ímpar do nosso tempo...
(mas como dizer sem vergonha?)
eu nunca li saramago. nunca me apeteceu ler
saramago. quis sempre ir adiando saramago.
bem sei que é prosaico demais dizê-lo assim, mas
nunca senti que fosse a minha praia.
já nem lembro há quanto tempo comprei o ano da
morte de ricardo reis. não sei bem porque o adiei,
porque nunca cheguei a lê-lo.
(e porque pareço eu estar sempre à espera de tempos
perfeitos ou das ocasiões mais adequadas para ler este
ou aquele, isto ou aquilo ?)
em quantos verões foi o memorial do convento na
bagagem? em quantas praias se encheu de areia, sem ter
sido sequer aberto?
(e logo eu que sempre li muito pouco na praia... depois
vieram as crianças e tudo se complicou mais ainda...)
na verdade, sou um péssimo leitor. leio o que posso mas
sou um péssimo leitor. sinto que passo tantos dias a ler e,
apesar de cultivar com particular gosto a poesia, sou sem
sombra de dúvida um muito pobre leitor.
porém, curiosamente, li alguns dos mais recentes nóbeis. li
jelinek, li hertha muller, li-as bem antes do supremo prémio,
li alguns outros crónicos candidatos, mas ao nosso nobel
nunca o li.
um um outro texto avulso. algumas crónicas. alguns textos do
inesperado blogue. partes da sua viagem a portugal.
mas nenhum romance. qualquer dos afamados romances.
não sei muito bem porquê, fui sempre preterindo os seus
livros. e certamente que terei mais algum dos seus títulos a
amarelecer perdido no caos doméstico das minhas estantes
atulhadas...
sempre li e ouvi com inegável interesse as suas entrevistas.
vi os filmes e os documentários que atempadamente se fizeram
sobre a sua vida e sobre a sua obra. posso bem dizer, então,
com toda a sinceridade, que gostava dele. do homem íntegro
e corajoso.
só se fosse muito cego, surdo e mudo poderia não ter a mínima
simpatia ou empatia por tão sábio e distinto homem português.
mas quem dele poderia não gostar? (bem sei que abundam os
sousas laras nesta terrinha!).
quem não invejava a sua história de amor com pilar?
esse tão belo e demonstrado amor.
um amor certamente à medida do seu génio.
hoje será cinza e à terra voltará.
descansará à sombra de uma oliveira que nunca terá idade.
o nome, esse, por cá ficará a ressoar, com aroma de erva bravia,
na eternidade possível do coração dos seus amantes leitores.
talvez eu venha a ser um deles.
a música continua a correr na noite ínsone. lisa canta i can't
get started.
a natureza do mal não será esta noite.
19 junho, 2010
17 junho, 2010
estou de árvore _______________________
não estou nada. nem cansada nem lúcida nem mátrea nem flor nem
ponte nem asa nem dia nem rasgo. nada. volume esquadro seta folha
lume esquadria em falso telhado de pétalas que o vento esmaga. nem
abraço nem água. estou. de árvore.
em "As Lágrimas Estão todas na Garganta do Mar", um livro de
Isabel Mendes Ferreira.
Vinte anos depois, creio, o seu novo livro. Uma longa ausência que
nunca foi silêncio. O arco de um pianíssimo silêncio a reverberar
na escrita nascente. Apenas uma voz a amadurecer, uma voz a
encher-se de mundo, uma voz como se fosse um anjo revelador
das nossas palavras indizíveis. Ignorantes. Como se fosse a árvore
dos nossos impronunciados desejos.
Um rio de palavras musicais.
Um rio que nasceu daqui.
não estou nada. nem cansada nem lúcida nem mátrea nem flor nem
ponte nem asa nem dia nem rasgo. nada. volume esquadro seta folha
lume esquadria em falso telhado de pétalas que o vento esmaga. nem
abraço nem água. estou. de árvore.
em "As Lágrimas Estão todas na Garganta do Mar", um livro de
Isabel Mendes Ferreira.
Vinte anos depois, creio, o seu novo livro. Uma longa ausência que
nunca foi silêncio. O arco de um pianíssimo silêncio a reverberar
na escrita nascente. Apenas uma voz a amadurecer, uma voz a
encher-se de mundo, uma voz como se fosse um anjo revelador
das nossas palavras indizíveis. Ignorantes. Como se fosse a árvore
dos nossos impronunciados desejos.
Um rio de palavras musicais.
Um rio que nasceu daqui.
16 junho, 2010
Vivo
dia a dia
sou
uma mulher-a-dias
Dia a dia
perto porto parto
da eternidade
Adília Lopes
(em "Dobra, Poesia Reunida")
dia a dia
sou
uma mulher-a-dias
Dia a dia
perto porto parto
da eternidade
Adília Lopes
(em "Dobra, Poesia Reunida")