12 outubro, 2008

QUE SE FREUD

um poema de Joaquim Castro Caldas


aos 20 já fodes
ainda não te fodem

aos 30 ainda fodes
mas já te fodem

aos 40 nem odes
nem ais de cima

aos 50 já não fodes
mas ainda te fodem

aos 60 dizem-te
que sabes da poda

aos 70 não te fodem
porque já se fodem

aos 80 que se Freud
porque a morte




* Em memória dessas noites míticas do Pinguim e minha
homenagem tardia a esse poeta franzino de olhos vivíssimos,
a essa voz exaltada que lembro iluminar-se, provocadora, por
entre os risos imberbes e o fumo serpenteado dos cigarros
atentos da audiência sempre festiva. Essa voz que não pedia
licença a nenhuma academia. Essa voz sem pudor dos palavrões
mais tonitruantes. Essa voz de uma lua em fúrias. Essa voz
dessas vozes que sempre fazem falta.

3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Ainda há umas semanas estive no Pinguim.

:D

12 outubro, 2008 20:20  
Blogger isabel mendes ferreira disse...

"Essa voz de uma lua em fúrias. Essa voz...."





onde F.?




por dentro do silêncio?



beijo-O.

13 outubro, 2008 21:39  
Blogger francisco carvalho disse...

Não me referia particularmente à voz deste poema, nem propriamente à sua poesia que conheço ainda mal (tenho apenas - comprado há uns meses por pouco mais de dois euros! - um único livro e não integralmente lido...).
Arroubo poético meu, talvez, mas tentava figurar assim o modo como me lembro dele declamando alguns dos nossos maiores autores, nessas noites tardias e fumarentas, o seu rosto quase pícaro de jogral zangado...
Essas noites de poesia a rolar. Muita solidão. Muita escuridão. Lua em fúrias por contraponto a 'venus in furs'...

beijo

14 outubro, 2008 00:05  

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