17 fevereiro, 2010

o bloguista pede desculpas por se pôr na voz de outros*

"Às vezes chegava em casa tarde da noite e encontrava
minha mulherzinha dormindo. Uma criança de menos de
20 anos. Lindas pernas, lindo busto, querendo apenas
aprender a arte de viver mais simplesmente; não querendo
atacar convenções, mas aceitando verdades absolutas que
ainda não haviam começado a esquartejá-la. Eu tirava
meu terno suado. Tentava lavar-me, mas faltava água.
Em silêncio, para não acordá-la, deitava-me na cama.
Ela precisava de amor e de carinho. Mas estaria eu em
condições de dar? Também eu era uma criança tentando
jogar um jogo perigoso para mim, fora de casa. E era eu
quem ela pretendia ter como professor de vida. Como
ousar beijá-la, se durante todo o dia eu nada mais fizera
senão fracassar no jogo da vida? Como ousar ter desejo?
Sentir o sexo, com tanta culpa e tanta falta de talento
para o jogo da vida sobre os ombros? Medo de tocá-la.
Medo de de não poder amá-la e, ainda assim, amando-a
com toda a intensidade. Sua fragilidade, porém, era o
espelho da minha própria fragilidade. Como explicar-lhe
minha falta de condições para o jogo do dinheiro, que é o
jogo da vida?"


excerto de "O Acrobata Pede Desculpas E Cai" de
Fausto Wolff

* Obrigado, Moloi, pela dádiva.

1 Comentários:

Anonymous paulo disse...

quem não traz um violãozinho não pede desculpas...

22 fevereiro, 2010 17:00  

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