não ter dinheiro
"Depois de a sua vida ter mudado tanto desde que se tornou
uma escritora conhecida, procura manter algo das suas raízes?
O que tento fazer - e é cada vez mais difícil - é lembrar-me de
como era ser pobre. O que é interessante no facto de ter dinheiro
é que se torna impossível conceber o que é não ter dinheiro. Eu
andei em Cambridge sem pagar. Agora, o Governo quer intro-
duzir uma propina de mil libras, que, é claro, depois aumentará...
Outro dia tentei explicar a uma pessoa que se eu tivesse tido de
pagar mil libras não teria lá andado. Ela disse-me para não ser
ridícula. Não percebeu que quando uma pessoa não tem mil
libras não tem mesmo mil libras e não pensa sequer em pedi-las
a um banco, porque não quer ter dívidas. Nem acha que valha a
pena gastá-las, porque de qualquer maneira não entende o que
Cambridge é, ou que tipo de pessoas vão para lá, ou o que é um
diploma... São camadas sobre camadas de não entender. O
dinheiro é como o poder: corrompe. Já não me lembro de enfiar
um cartão numa máquina e de ficar preocupada se vão sair cinco
libras ou não. Mas costumava ser o meu dia-a-dia. O problema
de não ter dinheiro é pensar em dinheiro o tempo todo: como
vamos conseguir fazer as compras, como vamos pagar as com-
pras... O que recordo da minha infância, que de um modo geral
foi feliz, é essa preocupação constante com o dinheiro. O que se
julga ser a maior diferença entre as pessoas - como a raça, ou a
religião - tem muitas vezes a ver com o dinheiro."
(palavras da escritora Zadie Smith, excerto da entrevista de
Luís M. Faria publicada esta semana no suplemento Actual do
Expresso)
uma escritora conhecida, procura manter algo das suas raízes?
O que tento fazer - e é cada vez mais difícil - é lembrar-me de
como era ser pobre. O que é interessante no facto de ter dinheiro
é que se torna impossível conceber o que é não ter dinheiro. Eu
andei em Cambridge sem pagar. Agora, o Governo quer intro-
duzir uma propina de mil libras, que, é claro, depois aumentará...
Outro dia tentei explicar a uma pessoa que se eu tivesse tido de
pagar mil libras não teria lá andado. Ela disse-me para não ser
ridícula. Não percebeu que quando uma pessoa não tem mil
libras não tem mesmo mil libras e não pensa sequer em pedi-las
a um banco, porque não quer ter dívidas. Nem acha que valha a
pena gastá-las, porque de qualquer maneira não entende o que
Cambridge é, ou que tipo de pessoas vão para lá, ou o que é um
diploma... São camadas sobre camadas de não entender. O
dinheiro é como o poder: corrompe. Já não me lembro de enfiar
um cartão numa máquina e de ficar preocupada se vão sair cinco
libras ou não. Mas costumava ser o meu dia-a-dia. O problema
de não ter dinheiro é pensar em dinheiro o tempo todo: como
vamos conseguir fazer as compras, como vamos pagar as com-
pras... O que recordo da minha infância, que de um modo geral
foi feliz, é essa preocupação constante com o dinheiro. O que se
julga ser a maior diferença entre as pessoas - como a raça, ou a
religião - tem muitas vezes a ver com o dinheiro."
(palavras da escritora Zadie Smith, excerto da entrevista de
Luís M. Faria publicada esta semana no suplemento Actual do
Expresso)
5 Comentários:
pato fu e clã no ROCK IN RIO. Dupla muito acertada.
mas é preciso ter dinheiro.
Em Serralves a festa é grátis e non-stop. E haverá WIRE...
E teatro e dança e novo circo e cinema e toda a sorte de músicas...
Será preciso é ter tempo...
;)
E não é que concordo plenamente com a Sra.?
Esquecemo-nos rápidamente o que significa não ter... E o facto mais triste, é que realmente o tudo gira em torno dessa moeda de troca.
que mensagem tão honesta e real :) um beijinho, francisco.
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