photo grafias de budapeste
para helena *
© 2008
Os monumentos de Budapeste e as suas animadas ruas são
o bem que me fez uma rapariga de olhos vivos e meigos.
Às vezes, lembro-me de Budapeste a propósito de insólitos
pormenores ou de algumas imagens. Uma mulher louca a
bailar no meio de uma praça muito bela, sid vicious escrito
sobre mármores imemoriais, um bife com molho paprika e
violinos dolentes, o anjo gabriel que nos apareceu, a alegria
estival de um jardim nocturno cheio de gente a dançar, as
vestes garridas das camponesas a vender nas ruas da cidade,
os rolos estragados, as filas para os vistos junto às embaixadas
nesse verão 90 a leste, a beleza dos cigarros nas mãos das
mulheres, nas tuas mãos, eu que nunca fumei; a bucólica paisa-
gem alpina a cobrir toda a parede do quarto alugado, a dona da
casa a bater à porta a perguntar "do you sleep today?", o marido
barrigudo em camisola interior de alças, sentado num banco da
cozinha como que a resmungar, por baixo do bigode longuíssimo,
os bons-dias nessa indecifrável língua magiar, o bar no meio da
sala, com bola de espelhos e luzes azuis e vermelhas, as tuas
revelações minhotas, as parcas anotações do meu caderno de
viagem...
Não tive tempo para ser íntimo de Budapeste mas sei que havia
beleza nas águas serenas do Danúbio. E uma espécie de certeza
nos nossos sorrisos. Uma espécie de eternidade nas nossas
confidências.
Nesse tempo não era refém da memória, bastava-me apenas
acreditar num verão infinito, que a felicidade não fosse talvez
necessária para sermos felizes. Seguir apenas as pegadas das
nossas palavras mais venturosas.
Não sei se Budapeste ficou a morar no nosso coração. Anos
passaram, outros tantos hão-de passar, mas nem quero saber
se morrerei cheio de segredos ou de saudades.
*(inspirado, quase indecorosamente eu sei, no teu muito querido
José Luís Peixoto)
© 2008
Os monumentos de Budapeste e as suas animadas ruas são
o bem que me fez uma rapariga de olhos vivos e meigos.
Às vezes, lembro-me de Budapeste a propósito de insólitos
pormenores ou de algumas imagens. Uma mulher louca a
bailar no meio de uma praça muito bela, sid vicious escrito
sobre mármores imemoriais, um bife com molho paprika e
violinos dolentes, o anjo gabriel que nos apareceu, a alegria
estival de um jardim nocturno cheio de gente a dançar, as
vestes garridas das camponesas a vender nas ruas da cidade,
os rolos estragados, as filas para os vistos junto às embaixadas
nesse verão 90 a leste, a beleza dos cigarros nas mãos das
mulheres, nas tuas mãos, eu que nunca fumei; a bucólica paisa-
gem alpina a cobrir toda a parede do quarto alugado, a dona da
casa a bater à porta a perguntar "do you sleep today?", o marido
barrigudo em camisola interior de alças, sentado num banco da
cozinha como que a resmungar, por baixo do bigode longuíssimo,
os bons-dias nessa indecifrável língua magiar, o bar no meio da
sala, com bola de espelhos e luzes azuis e vermelhas, as tuas
revelações minhotas, as parcas anotações do meu caderno de
viagem...
Não tive tempo para ser íntimo de Budapeste mas sei que havia
beleza nas águas serenas do Danúbio. E uma espécie de certeza
nos nossos sorrisos. Uma espécie de eternidade nas nossas
confidências.
Nesse tempo não era refém da memória, bastava-me apenas
acreditar num verão infinito, que a felicidade não fosse talvez
necessária para sermos felizes. Seguir apenas as pegadas das
nossas palavras mais venturosas.
Não sei se Budapeste ficou a morar no nosso coração. Anos
passaram, outros tantos hão-de passar, mas nem quero saber
se morrerei cheio de segredos ou de saudades.
*(inspirado, quase indecorosamente eu sei, no teu muito querido
José Luís Peixoto)
1 Comentários:
obrigado, francisco. lembrei e a tudo acrescento um gin ao entardecer na ilha e um encontro por acaso, do homem que me doía. a mais bonita das viagens, de comboio. o mais bonito dos cúmplices encontros, tu. verão.
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