silogismos
de Ana Luísa Amaral
A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?
Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
distraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)
A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.
Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.
A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?
Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
distraí-a com o jogo que ficara a meio.
(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)
6 Comentários:
Gosto muito de Ana Luísa Amaral e da sua poesia e dos poemas que faz à filha. Conhecia há anos e o trato sempre foi muito bom.
é bonito, mas não é poema, é um texto em prosa, partido em frases.
o lado secreto da poesia não são rimas e métrica, o lado secreto não vem do EGO.
Ana Luisa Amaral escreveu uma tese sobre Emily Dickinson, portanto em terra de cego quem tem um olho é rei.
ana luísa amaral
é uma pessoa linda.
e por acaso e não puro acaso
foi minha professora.
uma
experiência
nada académica
e de rara beleza.
:)
eu sou feio, mau e bruto!
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