23 janeiro, 2008

silogismos

de Ana Luísa Amaral


A minha filha perguntou-me
o que era para a vida inteira
e eu disse-lhe que era para sempre.

Naturalmente, menti,
mas também os conceitos de infinito
são diferentes: é que ela perguntou depois
o que era para sempre
e eu não podia falar-lhe em universos
paralelos, em conjunções e disjunções
de espaço e tempo,
nem sequer em morte.

A vida inteira é até morrer,
mas eu sabia ser inevitável a questão
seguinte: o que é morrer?

Por isso respondi que para sempre
era assim largo, abri muito os braços,
distraí-a com o jogo que ficara a meio.

(No fim do jogo todo,
disse-me que amanhã
queria estar comigo para a vida inteira)

6 Comentários:

Blogger hfm disse...

Gosto muito de Ana Luísa Amaral e da sua poesia e dos poemas que faz à filha. Conhecia há anos e o trato sempre foi muito bom.

23 janeiro, 2008 11:34  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

é bonito, mas não é poema, é um texto em prosa, partido em frases.

23 janeiro, 2008 13:30  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

o lado secreto da poesia não são rimas e métrica, o lado secreto não vem do EGO.

23 janeiro, 2008 13:32  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

Ana Luisa Amaral escreveu uma tese sobre Emily Dickinson, portanto em terra de cego quem tem um olho é rei.

23 janeiro, 2008 13:51  
Blogger un dress disse...

ana luísa amaral

é uma pessoa linda.


e por acaso e não puro acaso

foi minha professora.


uma

experiência

nada académica

e de rara beleza.


:)

23 janeiro, 2008 22:53  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

eu sou feio, mau e bruto!

24 janeiro, 2008 13:24  

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