histórias de Ipanema, por Jaguar
"(...) Ele apanhava freqüentemente; cismava de chamar de corno
desconhecidos com o dobro do seu tamanho. Uma vez foi esmurrado
por um sujeito que, cansado de bater, perguntou se queria apanhar
mais.
- Claro que não, corno!
Roniquito, aliás Ronald Chevalier, adorava Mozart. E quando a orques-
tra de Stutgart se apresentou na Sala Cecília, lá estava ele na platéia.
No concerto para flauta e orquestra, no meio do solo do flautista não
conteve a emoção e começou a chorar. O choro foi se transformando
num pranto convulsivo, choviam psius! de todos os lados. A essa altu-
ra ele quase urrava, o que fez com que o diretor da sala, com ajuda
do lanterninha, arrastasse o chorão para fora da platéia. Roniquito
conseguiu se desvencilhar, enfiou a cabeça entre as cortinas e gritou,
com a voz embargada: "Ô alemão!!! Vai tocar flauta bem assim na
puta que o pariu!!!"
(...)
Um dia resolvi fazer o que os cientistas chamam de pesquisa de
campo, no caso acompanhar um dia na vida, ou melhor, uma noite
na vida de Roniquito. A jornada começou às 9 da noite; fomos a
uma exposição na Galeria Bonino (ou seria a Relevo?). Também não
me lembro do nome do artista, era um cara que pintava cardeais
andando de bicicleta. Depois do vernissage fomos convidados para
tomar umas e outras na casa do pintor, uma cobertura na Paula
Freitas. Tomado de súbita fúria, Roniquito começou a xingar o
pessoal que passava na calçada, lá embaixo, chegou a atirar um
sapato dele. O síndico do prédio bateu na porta e fomos expulsos.
A coisa prometia, a noite ainda era uma criança. Fomos jantar no
Zorba, o Grego, ali na Barata Salgueiro. Ele pediu um bife. Quando
o garçom trouxe o prato, Roniquito não gostou. Disse para o garçom:
"sabe o que vou fazer com esse bife?". Diante da resposta polida-
mente negativa, esclareceu: "Vou jogar na sua cara!" Assim o disse
e assim o fez. Eu estava com bons reflexos e desviei para corner a
trajetória do projétil a milanesa, o que não impediu que fôssemos
expulsos de novo. Fomos a pé até o Fiorentina no Leme. Chegando
lá, encontramos Walter Clark, amigo de infância e que tinha feito a
temeridade de chamar Roniquito para trabalhar com ele, o todo-
-poderoso diretor da TV Globo. Estava deprimido, parece que tinha
brigado com a namorada. "O seu problema", disse Roniquito para o
patrão, "é que você é corno!" Walter começou a chorar: "Não faz
assim comigo, Roniquito!"
- É corno sim, corno! - repetia implacável.
Em lágrimas, Walter saiu quase correndo do restaurante. Para não
perdê-lo de vista, Roniquito subiu em cima da mesa aos berros. Até
que se desequilibrou e caiu em cima de uns argentinos que jantavam
na mesa ao lado. O pau comeu e deu-se a terceira expulsão.
(...)"
excerto do conto "Roniquito, ícone de Ipanema" do famoso
ilustrador e jornalista brasileiro Jaguar, nascido em 1932, no
Rio de Janeiro.
O que eu me tenho rido com este livro "Ipanema", integrado na
colecção "Cantos do Rio". O humor carioca é de facto impagável.
Cada história melhor que a outra!
A cidade maravilhosa, essa, é que parece ter perdido já a graça
desses velhos tempos; ainda esta semana, mais tristes e trágicos
relatos nos chegaram pelos jornais...
desconhecidos com o dobro do seu tamanho. Uma vez foi esmurrado
por um sujeito que, cansado de bater, perguntou se queria apanhar
mais.
- Claro que não, corno!
Roniquito, aliás Ronald Chevalier, adorava Mozart. E quando a orques-
tra de Stutgart se apresentou na Sala Cecília, lá estava ele na platéia.
No concerto para flauta e orquestra, no meio do solo do flautista não
conteve a emoção e começou a chorar. O choro foi se transformando
num pranto convulsivo, choviam psius! de todos os lados. A essa altu-
ra ele quase urrava, o que fez com que o diretor da sala, com ajuda
do lanterninha, arrastasse o chorão para fora da platéia. Roniquito
conseguiu se desvencilhar, enfiou a cabeça entre as cortinas e gritou,
com a voz embargada: "Ô alemão!!! Vai tocar flauta bem assim na
puta que o pariu!!!"
(...)
Um dia resolvi fazer o que os cientistas chamam de pesquisa de
campo, no caso acompanhar um dia na vida, ou melhor, uma noite
na vida de Roniquito. A jornada começou às 9 da noite; fomos a
uma exposição na Galeria Bonino (ou seria a Relevo?). Também não
me lembro do nome do artista, era um cara que pintava cardeais
andando de bicicleta. Depois do vernissage fomos convidados para
tomar umas e outras na casa do pintor, uma cobertura na Paula
Freitas. Tomado de súbita fúria, Roniquito começou a xingar o
pessoal que passava na calçada, lá embaixo, chegou a atirar um
sapato dele. O síndico do prédio bateu na porta e fomos expulsos.
A coisa prometia, a noite ainda era uma criança. Fomos jantar no
Zorba, o Grego, ali na Barata Salgueiro. Ele pediu um bife. Quando
o garçom trouxe o prato, Roniquito não gostou. Disse para o garçom:
"sabe o que vou fazer com esse bife?". Diante da resposta polida-
mente negativa, esclareceu: "Vou jogar na sua cara!" Assim o disse
e assim o fez. Eu estava com bons reflexos e desviei para corner a
trajetória do projétil a milanesa, o que não impediu que fôssemos
expulsos de novo. Fomos a pé até o Fiorentina no Leme. Chegando
lá, encontramos Walter Clark, amigo de infância e que tinha feito a
temeridade de chamar Roniquito para trabalhar com ele, o todo-
-poderoso diretor da TV Globo. Estava deprimido, parece que tinha
brigado com a namorada. "O seu problema", disse Roniquito para o
patrão, "é que você é corno!" Walter começou a chorar: "Não faz
assim comigo, Roniquito!"
- É corno sim, corno! - repetia implacável.
Em lágrimas, Walter saiu quase correndo do restaurante. Para não
perdê-lo de vista, Roniquito subiu em cima da mesa aos berros. Até
que se desequilibrou e caiu em cima de uns argentinos que jantavam
na mesa ao lado. O pau comeu e deu-se a terceira expulsão.
(...)"
excerto do conto "Roniquito, ícone de Ipanema" do famoso
ilustrador e jornalista brasileiro Jaguar, nascido em 1932, no
Rio de Janeiro.
O que eu me tenho rido com este livro "Ipanema", integrado na
colecção "Cantos do Rio". O humor carioca é de facto impagável.
Cada história melhor que a outra!
A cidade maravilhosa, essa, é que parece ter perdido já a graça
desses velhos tempos; ainda esta semana, mais tristes e trágicos
relatos nos chegaram pelos jornais...
3 Comentários:
http://www.ling.ohio-state.edu/~culicove/170/Music/Elis%20Regina%20-%20Aguas%20De%20Marco++.mp3
(espero que goste, beijinho)
Como conseguistes este livro?
Acho que no
"Homem do Leme"
um HomeLess
deu pra mim...
Quem acha
sempre consegue...
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