a beleza na poeira dos dias
Nove e trinta. É tarde, estamos atrasados. Afivelo com pressa o
cinto de segurança em volta da cadeira da criança. Um raio de luz
cegante está a entrar pelo carro, revelando, ao nosso olhar huma-
no, a dança caótica das partículas de pó suspensas no ar leitoso da
manhã. A criança de três anos não mostra surpresa ou qualquer
espanto. Alegre, diz de súbito: "Pai, olha aqui a minha vida a voar!"
Sentei-me, agora calmamente, ancorado num sorriso perplexo
mas também de satisfação: "Com tanto coração na cabeça, as
palavras só lhe podem nascer assim iluminadas... tão vibráteis
e puras..."
Olhando pelo retrovisor, vi ainda as mãos dela brincando no apa-
rente vazio do ar, fazendo acelerar e rodopiar esses breves e ínfi-
mos seres, repentinamente animados. E ousei pensar, então, que
a minha vida podia ficar por ali mesmo, sublimada nesse etéreo
momento, eternizada nesse pequenino nada: a minha mão estáti-
ca sobre a caixa de velocidades, num congelado ponto-morto, o
olhar extático num espelho de múltiplos planos. Para quê arran-
car? Para quê partir dali?
cinto de segurança em volta da cadeira da criança. Um raio de luz
cegante está a entrar pelo carro, revelando, ao nosso olhar huma-
no, a dança caótica das partículas de pó suspensas no ar leitoso da
manhã. A criança de três anos não mostra surpresa ou qualquer
espanto. Alegre, diz de súbito: "Pai, olha aqui a minha vida a voar!"
Sentei-me, agora calmamente, ancorado num sorriso perplexo
mas também de satisfação: "Com tanto coração na cabeça, as
palavras só lhe podem nascer assim iluminadas... tão vibráteis
e puras..."
Olhando pelo retrovisor, vi ainda as mãos dela brincando no apa-
rente vazio do ar, fazendo acelerar e rodopiar esses breves e ínfi-
mos seres, repentinamente animados. E ousei pensar, então, que
a minha vida podia ficar por ali mesmo, sublimada nesse etéreo
momento, eternizada nesse pequenino nada: a minha mão estáti-
ca sobre a caixa de velocidades, num congelado ponto-morto, o
olhar extático num espelho de múltiplos planos. Para quê arran-
car? Para quê partir dali?
4 Comentários:
a questão pertinente é quem educa quem
educamo-nos...:))))
sempre em partidas e chegadas. umas mais próximas. outras sempre ao longe.
_______________
bom fim de semana. a todos. ao F e ao M. e à princesa dos dias.
isa.
o que nós nos esforçamos para conseguir dizer uma coisa assim tão iluminada e eles, assim, num instante
pronto. vou daqui a chorar... (*)
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial