24 março, 2007

a beleza na poeira dos dias

Nove e trinta. É tarde, estamos atrasados. Afivelo com pressa o
cinto de segurança em volta da cadeira da criança. Um raio de luz
cegante está a entrar pelo carro, revelando, ao nosso olhar huma-
no, a dança caótica das partículas de pó suspensas no ar leitoso da
manhã. A criança de três anos não mostra surpresa ou qualquer
espanto. Alegre, diz de súbito: "Pai, olha aqui a minha vida a voar!"

Sentei-me, agora calmamente, ancorado num sorriso perplexo
mas também de satisfação: "Com tanto coração na cabeça, as
palavras só lhe podem nascer assim iluminadas... tão vibráteis
e puras..."
Olhando pelo retrovisor, vi ainda as mãos dela brincando no apa-
rente vazio do ar, fazendo acelerar e rodopiar esses breves e ínfi-
mos seres, repentinamente animados. E ousei pensar, então, que
a minha vida podia ficar por ali mesmo, sublimada nesse etéreo
momento, eternizada nesse pequenino nada: a minha mão estáti-
ca sobre a caixa de velocidades, num congelado ponto-morto, o
olhar extático num espelho de múltiplos planos. Para quê arran-
car? Para quê partir dali?

4 Comentários:

Blogger MOLOI LORASAI disse...

a questão pertinente é quem educa quem

24 março, 2007 10:29  
Anonymous Anónimo disse...

educamo-nos...:))))



sempre em partidas e chegadas. umas mais próximas. outras sempre ao longe.


_______________


bom fim de semana. a todos. ao F e ao M. e à princesa dos dias.

isa.

24 março, 2007 11:10  
Blogger Mónica (em Campanhã) disse...

o que nós nos esforçamos para conseguir dizer uma coisa assim tão iluminada e eles, assim, num instante

26 março, 2007 00:15  
Anonymous Anónimo disse...

pronto. vou daqui a chorar... (*)

27 março, 2007 18:44  

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