16 outubro, 2006

enquanto

Enquanto os morcegos na noite nascente
lutam suicidas contra a luz eléctrica,
e os cães ladram segredos à lua em aparição,
enquanto famílias inteiras suspendem o apetite
perante um beijo faminto na tv,
enquanto as palavras violentas de uma canção
sublimam no éter a beleza do acaso,
as palavras, as minhas palavras, afogam-se por inércia,
e o corpo cresce-me em desespero.

Reparem: falo em desespero.
Como um animal a esquartejar,
abandono as mãos lúcidas
derramando a dor espessa
sem o mínimo grito.
No corpo há sempre razão.
Só depois, o medo da noite,
o medo de perder num sono profundo
todos os rostos que conhecemos.

5 Comentários:

Blogger Pinky disse...

As dores caladas são sempre as mais difíceis de suportar, Francisco. Mas, entretanto, vai escrevendo poemas...
;)

16 outubro, 2006 14:37  
Blogger Eduarda disse...

Que bonito Francisco. Obrigada por compartilhares connosco.

16 outubro, 2006 14:40  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

BONITO?moloi é caipira.

16 outubro, 2006 14:58  
Blogger isabel mendes ferreira disse...

o corpo cresce-me....em dores.




gostei.mt.


mt e mt.


beijo.

16 outubro, 2006 18:52  
Blogger MOLOI LORASAI disse...

é o velho conto, que sempre continha uma mensagem: o dia que for verdade, ninguém vai acreditar...porque é bonito, porque é literatura.

16 outubro, 2006 21:51  

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