não era Proust, mas Shepard
meus livros de férias, parte doze.
© Praia das Maçãs, Julho 2005
"(...)
- Posso contar-te uma história?
- Claro, porque não? Que espécie de história vai ser essa?
- A história de como é que teve início esta minha atitude de
troça em relação aos Franceses.
- Oh, céus!
( O mergulhão salta para fora de água, mas eles já perde-
ram os dois a conta aos segundos.)
- Eu estava em Paris. Isto foi há muito tempo, nos anos
sessenta, vagueando ao acaso com uma rapariga.
- E que rapariga era essa?
- Não interessa.
- Era aquela rapariga que tinhas conhecido, que consumia
efedrina cristalizada, numa tenda índia em Woodstock?
- Não. Era uma rapariga que tinha encontrado por acaso. Não
me lembro.
- Lembras-te. Tu lembras-te de todas as tuas raparigas.
- Posso contar isto ou não?
- Claro. Sou toda ouvidos.
- Uma noite eu tinha saído já tarde, para dar uma volta.
- Sem a rapariga?
- Exactamente. Ela ficou. Queria ler, ou não sei o quê.
- Proust, aposto.
- O quê?
- Em Busca do Tempo Perdido?
- Ora, esquece. Pensei que talvez gostasses de ouvir isto.
- Eu quero ouvir isso. Só estou a tentar reconstituir o quadro.
Tu foste passear pelas ruas de Paris no meio da noite, e dei-
xaste ficar a tua namorada a ler Proust. E depois que mais?
- Está bem. Ora isto foi ainda nos tempos em que eu bebia.
E andava simplesmente à deriva pelas ruas. Fartava-me
de andar à deriva, naquele tempo.
- O que andavas à procura?
- Nada. Vagueava, simplesmente. Gostava de vaguear.
- Andavas à procura de mulheres.
- Eu tinha uma mulher.
- Andavas à procura de mais mulheres. Não estavas satis-
feito só com uma. Querias mais.
- Por favor, dás licença que eu continue, sem estar sempre
a ser desviado por todos os pequenos...
- Claro. Continua. Só estou a tentar manter o controlo da
história. (...)"
" O Grande Sonho do Paraíso ", Sam Shepard
© Praia das Maçãs, Julho 2005
"(...)
- Posso contar-te uma história?
- Claro, porque não? Que espécie de história vai ser essa?
- A história de como é que teve início esta minha atitude de
troça em relação aos Franceses.
- Oh, céus!
( O mergulhão salta para fora de água, mas eles já perde-
ram os dois a conta aos segundos.)
- Eu estava em Paris. Isto foi há muito tempo, nos anos
sessenta, vagueando ao acaso com uma rapariga.
- E que rapariga era essa?
- Não interessa.
- Era aquela rapariga que tinhas conhecido, que consumia
efedrina cristalizada, numa tenda índia em Woodstock?
- Não. Era uma rapariga que tinha encontrado por acaso. Não
me lembro.
- Lembras-te. Tu lembras-te de todas as tuas raparigas.
- Posso contar isto ou não?
- Claro. Sou toda ouvidos.
- Uma noite eu tinha saído já tarde, para dar uma volta.
- Sem a rapariga?
- Exactamente. Ela ficou. Queria ler, ou não sei o quê.
- Proust, aposto.
- O quê?
- Em Busca do Tempo Perdido?
- Ora, esquece. Pensei que talvez gostasses de ouvir isto.
- Eu quero ouvir isso. Só estou a tentar reconstituir o quadro.
Tu foste passear pelas ruas de Paris no meio da noite, e dei-
xaste ficar a tua namorada a ler Proust. E depois que mais?
- Está bem. Ora isto foi ainda nos tempos em que eu bebia.
E andava simplesmente à deriva pelas ruas. Fartava-me
de andar à deriva, naquele tempo.
- O que andavas à procura?
- Nada. Vagueava, simplesmente. Gostava de vaguear.
- Andavas à procura de mulheres.
- Eu tinha uma mulher.
- Andavas à procura de mais mulheres. Não estavas satis-
feito só com uma. Querias mais.
- Por favor, dás licença que eu continue, sem estar sempre
a ser desviado por todos os pequenos...
- Claro. Continua. Só estou a tentar manter o controlo da
história. (...)"
" O Grande Sonho do Paraíso ", Sam Shepard
1 Comentários:
meu amigo, é claro que já tinha passado por cá (e achei lindo aquele post para a Paula) e ainda não tinha tido portunidade de botar faladura.
beijitos
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