23 setembro, 2008

o perigo da criação

Tirei uma a uma, enquanto ia tentando esconder-se, mais de
cinquenta maçãs e pêras de um caixote de madeira. Por fim,
ficou sozinha a bailar no papel amarelecido que servia de forro.
Uma espécie de desespero no som das suas patas felpudas. Era
enorme (não gostaria nada de sonhar com ela). Esmaguei-a
impiedosamente com o pé. A empregada sorriu aliviada, as faces
ruborizadas da excitação. Disse-me que assim já não haveria o
perigo da criação. Disse-lhe, para a sossegar, que em Portugal
eram raras as aranhas perigosas. E contei-lhe de aranhas vene-
nosas que, por exemplo, na Austrália apareciam em muitas casas
nos sítios mais inesperados e mordiam às vezes mortalmente;
falei-lhe ainda de umas aranhas que tinham aparecido ultima-
mente nas sanitas de aviões e que algumas pessoas tinham ido,
por causa disso, parar ao hospital. Exclamou «cruzes, credo» e
depois falou-me de centopeias, de uma prima que tinha sido
mordida, que a ferida demorara três meses a sarar e que tinha
ficado na perna uma marca bem feia para sempre.
Embrulhei a aranha no papel. Disse-me que ia deitá-la na sanita.
«Está bem, morta já não tem importância, nem a sua alminha
deve poder ressuscitar».
Senhor Francisco, com essas coisas não se brinca.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

ergh! imagino... deve ser uma daquelas imagens que não te saem da cabeça!

29 setembro, 2008 19:21  

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