cantar a iemanjá pela manhã
A casa vazia num morno silêncio. As mulheres da casa deixaram
o homem a dormitar sozinho pela manhã de sábado.
Depois do pão seco torrado com manteiga, do leite com café de
sempre e dos restos do ípsilon de ontem, sento-me ao computa-
dor sem qualquer vontade de 'blogar'. Nenhum novo comentário.
Nenhum pequeno mimo. Na moldura da janela, uma gaivota risca
um voo oblíquo descendente. É estranho como esta imagem é
afinal tão urbana, tão quotidiana que nem costumamos reparar
nela. Gaivotas lá fora no azul envergonhado deste inverno em
despedida. Uma jovem mulher de roupão branco, sacode à janela
o edredon de plumas também branco. Tudo é alvo no meu olhar.
(Todo o pensamento leve?)
Sábado de manhã num dia em que sem tem que trabalhar à tarde
e pela noite fora. É uma pequena tristeza que vem.
Manhã assim da minha preguiça. Não me apetece produzir
nenhum 'post'. Resolvo-me pela via mais fácil. Ponho a tocar o
ipod. Como quase sempre, está em modo aleatório. Escolherei
para o blog a primeira música a rolar. Tom Waits. Espera Tom,
mas hoje não. Portishead. Também não, ainda por cima o
Francisco José Viegas 'postou' um vídeo da Beth Gibbons. Beirut,
não. Ursula Rucker, não, não. À quinta, um sonzinho breve de
chuva e uns delicados acordes num violão convencem-me. É
mesmo isto, ir para o chuveiro a cantar à deusa iemanjá. Seguir
estes estrangeiros profundamente tocados pela música e palavras
dessa parceria genial, essa espécie de prece do amor... Se uma
japonesa canta assim inspirada, eu também cantarei. Uma doce
tristeza que me vem.
4 Comentários:
é o que dá ver gaivotas pela manhã ;-)
como escreves bem Francisco!
Obrigada por me deliciares com os teus textos.
beijoca
Joana
Obrigado, lindas, pelos mimos!
E beijos.
(São onze da noite. Só agora, na verdade, consegui "pôr" a música aqui a rolar... e tudo por causa de um maldito "&"...que só agora descobri ser o cerne do problema...
minhas desculpas a quem antes perdeu tempo a tentar ouvir a música)
Ouvi canção e a coisa que mais me impresionou nela (além da voz) foi como se tornou uma canção quase japonesa, apesar de ser cantada em português. Manteve a brasileirice , claro, mas mudou de rosto.
Ficou bom, muito bom, muito interessante.
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