o homem sem cara
"Quando vi na televisão uma reportagem sobre um homem que
perdeu parte da cara e ao mesmo tempo li as notícias sobre o
primeiro transplante mundial de rosto senti que havia matéria
suficiente para escrever uma peça de teatro.
Encontrei ainda informações bizarras quanto ao chamado pro-
gresso da ciência, isto é, o homem a quem fora feito o primeiro
transplante de mão pediu aos médicos para a removerem (por-
que a achava feia e grande demais) ; o homem chinês a quem
foi transplantado o pénis pediu para o retirarem (a mulher não
aceitou o novo órgão).
Compreendi que havia algo de lírico e trágico no meio disto tudo.
Afinal, quem sofre mais: o acidentado ou as pessoas que lhe
são próximas? Quem é ou quem foi a pessoa que doa o rosto?
Como se aguenta psicologicamente um transplante?
Chegámos às profundezas do ser e, como sabemos que arte é
reflexão e inquietação, avançámos, sem medo, para este des-
velar da alma."
© Porto, 2006
As palavras acima são de Fernando Moreira, autor do texto e
também da encenação de "O Homem Sem Cara", peça levada ao
palco, nestes difíceis e chuvosos dias de Novembro, da Sala Latino
do Sá da Bandeira, pelo corajoso Teatro Art' Imagem.
O teatro precisava de assim ser mais vezes. Assim como foi desta
vez: com inteligente e certeira urgência, bem colado à realidade
mas espelhando os nossos medos e angústias ancestrais; dando
eco das nossas mais íntimas e irrespondíveis questões, dos nossos
mais irresolúveis dramas interiores.
E como este espaço também é uma espécie de fiel depositário das
minhas emoções e dos meus humores, faço questão de deixar-te
aqui, caríssimo Fernando, meu agradecido abraço. Estás sincera-
mente de parabéns. (Mas as minhas palavras serão sempre me-
díocres para sublinhar condignamente teu tão versátil e generoso
talento.)
perdeu parte da cara e ao mesmo tempo li as notícias sobre o
primeiro transplante mundial de rosto senti que havia matéria
suficiente para escrever uma peça de teatro.
Encontrei ainda informações bizarras quanto ao chamado pro-
gresso da ciência, isto é, o homem a quem fora feito o primeiro
transplante de mão pediu aos médicos para a removerem (por-
que a achava feia e grande demais) ; o homem chinês a quem
foi transplantado o pénis pediu para o retirarem (a mulher não
aceitou o novo órgão).
Compreendi que havia algo de lírico e trágico no meio disto tudo.
Afinal, quem sofre mais: o acidentado ou as pessoas que lhe
são próximas? Quem é ou quem foi a pessoa que doa o rosto?
Como se aguenta psicologicamente um transplante?
Chegámos às profundezas do ser e, como sabemos que arte é
reflexão e inquietação, avançámos, sem medo, para este des-
velar da alma."
© Porto, 2006
As palavras acima são de Fernando Moreira, autor do texto e
também da encenação de "O Homem Sem Cara", peça levada ao
palco, nestes difíceis e chuvosos dias de Novembro, da Sala Latino
do Sá da Bandeira, pelo corajoso Teatro Art' Imagem.
O teatro precisava de assim ser mais vezes. Assim como foi desta
vez: com inteligente e certeira urgência, bem colado à realidade
mas espelhando os nossos medos e angústias ancestrais; dando
eco das nossas mais íntimas e irrespondíveis questões, dos nossos
mais irresolúveis dramas interiores.
E como este espaço também é uma espécie de fiel depositário das
minhas emoções e dos meus humores, faço questão de deixar-te
aqui, caríssimo Fernando, meu agradecido abraço. Estás sincera-
mente de parabéns. (Mas as minhas palavras serão sempre me-
díocres para sublinhar condignamente teu tão versátil e generoso
talento.)
2 Comentários:
de lírico e de trágico todos temos um.....pouco.
ou não.
por isso uns têm rosto outros máscaras.
Boa tarde Francisco.
obrigado francisco pela tua generosa opinião. Admiração tenho eu pela forma como vês o mundo e o reinventas. Neste aspecto temos uma especie de irmandade. um abraço daqueles
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial