quem morará no Brasil no ano 2022?
Deve estar a curtos momentos de sobrevoar o Atlântico.
Está indo para o Rio.
Deixa assim o nosso país, agora definitivamente, e depois de
mais de vinte anos aqui a morar, terra que por convicção
escolheu para viver, nos primórdios desses já longínquos anos
oitenta. Deixa-o por imperativos de índole diversa, por razões
e factos que não consegue contrariar.
Menino do Rio, está indo para lá como que chorando, deixando
Portugal a contragosto.
Está indo mas sempre com a promessa de voltar.
Poucas horas antes da partida, deixou-me em mãos, entre outros,
um livro de Millôr Fernandes, "Pif-Paf", uma antologia organi-
zada por João Pereira Coutinho para o Independente.
Deixo-lhe aqui uma poesia daí retirada, em jeito de homenagem.
"Saudação aos que vão ficar"
Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem, cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas
ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura? E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil
ao ano dois mil?
Está indo para o Rio.
Deixa assim o nosso país, agora definitivamente, e depois de
mais de vinte anos aqui a morar, terra que por convicção
escolheu para viver, nos primórdios desses já longínquos anos
oitenta. Deixa-o por imperativos de índole diversa, por razões
e factos que não consegue contrariar.
Menino do Rio, está indo para lá como que chorando, deixando
Portugal a contragosto.
Está indo mas sempre com a promessa de voltar.
Poucas horas antes da partida, deixou-me em mãos, entre outros,
um livro de Millôr Fernandes, "Pif-Paf", uma antologia organi-
zada por João Pereira Coutinho para o Independente.
Deixo-lhe aqui uma poesia daí retirada, em jeito de homenagem.
"Saudação aos que vão ficar"
Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem, cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas
ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura? E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará então a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil
ao ano dois mil?
3 Comentários:
então,moloi está mesmo de partida
pensei que fosse mais um mundo por si imaginado...
e aqui fica outra, com palavras (obviamente) roubadas
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
E agora?...
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