café amargo
Peço um café cheio. Estou em pé, ao balcão. As mesas estão todas
ocupadas, gente mansamente excitada. Para muitos, o lazer e o
prazer de mais um fim-de-semana prolongado.
Para além da janela, a primavera ainda indecisa, mas está sol.
Pouso os jornais sobre a pedra fria do balcão, com mil receios de
mandar para o chão os pires ordenados em filinha, como se
fossem pára-quedistas prontos a saltar no vazio.
Peço também um copo de água. A olhar a relva ajardinada do
exterior, lembro-me de não ter visto ainda este ano, os perfu-
mados cravos, nem sequer as alegres papoilas. As rubras flores
desta época. Só me recordo de ter visto nas bermas das estradas
as ubíquas maias, mil veredas e colinas atapetadas de amarelo.
Abro o pacote de açúcar. Estou entretido a pensar se irei este
ano comemorar o vinte-e-cinco de abril. Se fará sentido tentar
arranjar algum cravo, o simbólico cravo. Mexo a colher, fazendo
desaparecer o belo creme. Ao mesmo tempo, começo a ler "O
patriotismo português", a crónica que fecha o Público de sábado,
do Vasco Pulido Valente.
"Vêm aí as comemorações do "25 de Abril"..."
O café está a saber-me mal. Confiro se é mesmo Buondi. Aperto
o saquinho de papel o mais possível, até ao último e milimétrico
grão de açúcar.
"Salazar criou um Portugal de hipocrisia,
pobreza e respeitinho, que é melhor esquecer.
E, para cúmulo, o PREC transformou a liberta-
ção final numa querela rancorosa e a democra-
cia que dali saiu andou até agora, indecente-
mente, aos trambolhões."
Sorvo a custo o gole final, a boca azeda, nunca o café me soube tão
amargo. Digo que quero pagar. Quero sair dali, quero ir lá para
fora, inclinar a cabeça para o azul magnífico do céu, polvilhado de
inspiradoras nuvens brancas.
Já nem quero ler o "Casino Portugal" do Miguel...
É que estes dois gajos têm quase sempre a maldita da razão!
Vou deixar de comprar jornais ao fim-de-semana.
Quem sabe se assim o bom tempo chegará mais depressa...
Quem sabe se assim o calor chega mais depressa ao meu amar-
goso coração...
ocupadas, gente mansamente excitada. Para muitos, o lazer e o
prazer de mais um fim-de-semana prolongado.
Para além da janela, a primavera ainda indecisa, mas está sol.
Pouso os jornais sobre a pedra fria do balcão, com mil receios de
mandar para o chão os pires ordenados em filinha, como se
fossem pára-quedistas prontos a saltar no vazio.
Peço também um copo de água. A olhar a relva ajardinada do
exterior, lembro-me de não ter visto ainda este ano, os perfu-
mados cravos, nem sequer as alegres papoilas. As rubras flores
desta época. Só me recordo de ter visto nas bermas das estradas
as ubíquas maias, mil veredas e colinas atapetadas de amarelo.
Abro o pacote de açúcar. Estou entretido a pensar se irei este
ano comemorar o vinte-e-cinco de abril. Se fará sentido tentar
arranjar algum cravo, o simbólico cravo. Mexo a colher, fazendo
desaparecer o belo creme. Ao mesmo tempo, começo a ler "O
patriotismo português", a crónica que fecha o Público de sábado,
do Vasco Pulido Valente.
"Vêm aí as comemorações do "25 de Abril"..."
O café está a saber-me mal. Confiro se é mesmo Buondi. Aperto
o saquinho de papel o mais possível, até ao último e milimétrico
grão de açúcar.
"Salazar criou um Portugal de hipocrisia,
pobreza e respeitinho, que é melhor esquecer.
E, para cúmulo, o PREC transformou a liberta-
ção final numa querela rancorosa e a democra-
cia que dali saiu andou até agora, indecente-
mente, aos trambolhões."
Sorvo a custo o gole final, a boca azeda, nunca o café me soube tão
amargo. Digo que quero pagar. Quero sair dali, quero ir lá para
fora, inclinar a cabeça para o azul magnífico do céu, polvilhado de
inspiradoras nuvens brancas.
Já nem quero ler o "Casino Portugal" do Miguel...
É que estes dois gajos têm quase sempre a maldita da razão!
Vou deixar de comprar jornais ao fim-de-semana.
Quem sabe se assim o bom tempo chegará mais depressa...
Quem sabe se assim o calor chega mais depressa ao meu amar-
goso coração...
2 Comentários:
se eu adivinhasse, tinha pedido a H que te fotografasse um campo de papoilas que vimos ontem em Palmela
a familia acaba de chegar de métola onde nos enchemos de gritos vermelhos em campos nada quaisquer...e vacas e mémés e "olha um coelho grande" (que era uma lebre). o alentejo está verde, florido de branco, amarelo, anil e vermelho e muito perfumado...recomenda-se.
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