que a voz dela é luz
"Todas as quintas-feiras o carro desce os socalcos até
ao Museu de Lamego.
As conversas giram em volta das voltas que a vida dá,
em volta da lua que agora aparece mais cedo, em volta
das cores que se cruzam no céu, em volta das histórias
que inventamos porque nos apetece rir. Os quinze mi-
nutos de atraso com que chegamos à aula, fazem-nos
ser bons portugueses, porque como dizia um amigo
italiano “os portugueses chegam atrasados a tudo, porque
ficam sempre na conversa…e eu acho isso lindo!”.
Quinta-feira é fim-de-dia de História da Música. E a
quinta-feira da semana passada foi fim-de-dia da música
daqui e daí. O professor é um homem grande que gesticula
com o coração ao ouvir os primeiros acordes e que gosta
da velha sala à luz de velas, para ouvir (ouvirmos) melhor
os espaços entre as notas. Não foi ele que o disse, sou eu
que lhe invento estas justificações, porque gosto de as
escrever e porque acho que ele iria gostar de as ler. Na
quinta-feira passada, falámos de Tango, Flamenco, Fado
e Samba. Ouvimos Amália e a mulher por detrás da artista
contada e cantada pelo professor que também foi amigo.
Não sei se o fado é triste. Só sei que há um prazer que se
encaixa quase como um orgulho nacional, no triste fado
que tecemos. Ouvimos a guitarra portuguesa chorar ao
lado do samba que nos puxava o pé para o inquieto. É frio
o Museu de Lamego. E os pés não se compadecem com o
frio. Ao fado, os dedos escondidos nas botas, encolhidos,
tocam a sola que dorme no chão secular que nos acolhe.
Ao samba, já as falanges se esticam, a sola da bota namora
o chão, a marcar o ritmo, a convidar os dedos das mãos a
juntarem-se à festa. Do Brasil o professor trouxe amigos
em fotografias sonoras. Um deles, Chico Buarque, ainda e
quase menino. O Chico ouvi-o eu no Coliseu do Porto. Era
fim de Outubro e fim de ciclo. [...]"
ao Museu de Lamego.
As conversas giram em volta das voltas que a vida dá,
em volta da lua que agora aparece mais cedo, em volta
das cores que se cruzam no céu, em volta das histórias
que inventamos porque nos apetece rir. Os quinze mi-
nutos de atraso com que chegamos à aula, fazem-nos
ser bons portugueses, porque como dizia um amigo
italiano “os portugueses chegam atrasados a tudo, porque
ficam sempre na conversa…e eu acho isso lindo!”.
Quinta-feira é fim-de-dia de História da Música. E a
quinta-feira da semana passada foi fim-de-dia da música
daqui e daí. O professor é um homem grande que gesticula
com o coração ao ouvir os primeiros acordes e que gosta
da velha sala à luz de velas, para ouvir (ouvirmos) melhor
os espaços entre as notas. Não foi ele que o disse, sou eu
que lhe invento estas justificações, porque gosto de as
escrever e porque acho que ele iria gostar de as ler. Na
quinta-feira passada, falámos de Tango, Flamenco, Fado
e Samba. Ouvimos Amália e a mulher por detrás da artista
contada e cantada pelo professor que também foi amigo.
Não sei se o fado é triste. Só sei que há um prazer que se
encaixa quase como um orgulho nacional, no triste fado
que tecemos. Ouvimos a guitarra portuguesa chorar ao
lado do samba que nos puxava o pé para o inquieto. É frio
o Museu de Lamego. E os pés não se compadecem com o
frio. Ao fado, os dedos escondidos nas botas, encolhidos,
tocam a sola que dorme no chão secular que nos acolhe.
Ao samba, já as falanges se esticam, a sola da bota namora
o chão, a marcar o ritmo, a convidar os dedos das mãos a
juntarem-se à festa. Do Brasil o professor trouxe amigos
em fotografias sonoras. Um deles, Chico Buarque, ainda e
quase menino. O Chico ouvi-o eu no Coliseu do Porto. Era
fim de Outubro e fim de ciclo. [...]"
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