29 agosto, 2009

mais uma leitura estival

" E assim conhecemos Luis Antonio Vera, aliás Verita, pelo afectuoso
e simpático que era, engenheiro agrónomo de profissão, enólogo de
especialização, em França e onde haja bom vinho, homem de eterno
sorriso que nunca na vida tinha tido um problema, e que no seu eno-
lógico e motociclista percurso pelos vinhedos de Europa e meia ia
deixando um rasto de alegria e positivismo absoluta e contagiosamente
maravilhosos. Porque para Verita todo o bem era possível e todo o mal
pura e simplesmente impossível. Verita era um exemplar único de peru-
ano optimista de fio a pavio e de cabo a rabo, de sol a sol e de ano após
ano e de década após década, de manhã, à tarde e à noite. Eu, um dia,
por exemplo, perguntei-lhe por César Vallejo, o mais metafisicamente
triste e pessimista de todos o s peruanos, o que é dizer muito, e que
inclusivamente considerava muito séria e gravemente a possibilidade
de ter nascido num dia em que Deus estava doente...
— Não me venhas com histórias, maninho — interrompeu-me Verita,
acrescentando: — Sem vontade de querer discutir com todo um homem
de letras de câmbio, eh eh, como tu, permite-me que te diga que, por
maior e genial que fosse Vallejo como poeta, só um tomates tristes se
lembraria de pensar uma coisa assim, e ainda por cima pespegá-la num
poema.
— Está bem, mas ele lembrou-se.
— Balelas, maninho. Põe-me tu o Cholo Vallejo à frente e dou-lhe tal
injecção de arrebita fruta que o converto em Walt Whitman. A esse
homem de certeza que lhe faltava uma mulherzinha boa e um desses
vinhos cujo segredo só este peitinho possui."




(excerto do conto "Verita e a Cidade-luz" reunidos no livro "Guia Triste
de Paris"
de Alfredo Bryce Echenique)

1 Comentários:

Blogger MOLOI LORASAI disse...

meu novo blog, o tsUMAni, pede uma visita sua.

31 agosto, 2009 18:27  

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