01 maio, 2007

havia de ser dia da reflexão, II

«(...) O avanço do que se chamava - e se chama ainda - civiliza-
ção significava a destruição do indígena, quer pelos meios já re-
feridos quer pela catequese que, feita com a melhor das inten-
ções, mas com a mais cerrada ignorância da antropologia cultural,
fazia desabar o edifício de valores em que se albergava o índio,
sem lhe dar outro compatível com seus hábitos, a sua psicologia,
as suas aspirações, e o punha presa fácil da apatia mental, de um
desânimo que facilmente passava a biológico: sem alvo para a
vida, o índio morria de tristeza, como hoje morrem de tristeza
os povos altamente desenvolvidos e industrializados: quem se
priva de tempo e sonho nada mais tem a fazer do que marcar
a data do enterro.
Só veio a situação a modificar-se com a vida magnífica que foi a
do marechal Cândido Rondon, de ascendência indígena, que tive-
ra no interior a visão de um Brasil autêntico que poderia ser, co-
mo na intuição dos portugueses antigos, como que um Paraíso
terrestre,e aprendera no Rio de Janeiro, em todo o seu período
de formação militar e dentro dos princípios positivistas que fi-
zeram a República brasileira, tudo o que havia a tomar e tudo o
que havia a repelir na civilização industrial. O que havia que to-
mar era tudo o que podia podia libertar o homem das tarefas que
diminuem o espírito, exactamente como os aventureiros das ban-
deiras tinham levado ao índio o anzol, a tesoura e o facão, ou o
que ao espírito dá segurança, como as práticas de mapa com que
os portugueses tinham ajudado a firmar-se uma elementar mas
bastante correcta cartografia índia. O que havia a repelir era a
submissão à máquina, a invasão das horas de ócio, do sagra-
do do diálogo do homem consigo mesmo: coisa em que, nos
primeiros tempos, colabora muito a preguiça indígena com a
preguiça lusitana: ao homem que afinal descobrira o mundo
badalando a perna sobre a borda do barco oferecia o tupi o
balanço na rede e a doce embriaguêz do fumo.»


de Agostinho da Silva, excerto de «Sobre índios e suecos», Vida
Mundial, nº1644, 30 de Abril de 1971 (sublinhados meus).

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

em tempo idos entrevistei-O...com gatos e silêncios no fim de uma tarde com o tejo em fundo.

tão intraduzível como Marg.Yourcenar....ambos ternos selvagens e doces cultos e generosos...

voltei para AGRADECER. eu é que tenho de agradecer.

os cravos as palavras o silêncio a dádiva.

______________


a G e n e r o s i d a d e.

__________________


y,

01 maio, 2007 18:50  
Anonymous Anónimo disse...

A Generosidade da Isa.
Será que a Isa estava na palestra do A.S. no restaurante macrobiótico do Largo da Estefânia?

01 maio, 2007 21:14  
Anonymous Anónimo disse...

n ã o. de todo...


:))))))))))))))

____________________

y.

01 maio, 2007 23:25  
Blogger isabel mendes ferreira disse...

se bem pergunto...quem é A.S.

Moloi?


santa ignorância....a todos os niveis. de macrobiótica. tb.

e vou.



beijo-Os.

02 maio, 2007 18:46  

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