08 setembro, 2006

zéfiro

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(desenho de Carlos Zéfiro)


Aqui faço, assim, a minha homenagem a esse ilustrador auto-
didacta brasileiro, que durante décadas publicou sob anonimato,
depois da minha foto de há três dias atrás com o cd "Barulhinho
Bom" da Marisa Monte ter sido banida pelo Photobucket...

"Tempo, o Vento e a Ninfeta"
um texto de Key Imaguire Junior (arquitecto, escritor e estu-
dioso das histórias em quadradinhos)

"Conheci Carlos Zéfiro em 1992, na mostra curitibana da Bienal
Internacional de Quadrinhos. Nada a ver com a figura do
"velhinho safado" à Bukovski, nem com aqueles personagens do
Crumb - olhos arregalados, suando, lingua de fora, pant, droll,
com a passagem de uma guria de short e botas. Parecia mais um
burocrata de interior, daqueles que passou a vida sentado numa
escrivaninha, diante de uma Remington Rand preta, dactylogra-
phando infindáveis processos administrativos. Magrelo, óculos
fundo-de-garrafa, terno surrado - contava como produzia e dis-
tribuía seus disputados "catecismos" com um ar de garoto que
assaltou a despensa em busca de biscoitos - não o do Joãozinho
que espia as amigas da irmã no banheiro pelo buraco da fechadu-
ra. Apesar de sua produção se estender ao longo das décadas de
cinquenta e sessenta, a descoberta do Clark Kent do Carlos Zéfiro
era, então, coisa recente. As antologias do Otacílio d'Assunção e
Joaquim Marinho, ambas de 1983, ainda desconheciam o alter
ego Alcides Caminha. Causou preocupação, essa primeira expo-
sição zefiriana: antes de mais nada, a gente conhece os rela-
tivismos da democracia brasileira. Depois, muito próxima do
Pinocchio. E se, por exemplo, todas aquelas cenas explícitas, pro-
vocassem ereções em todas as versões do boneco de pau expos-
tas? Bem na hora em que estivesse passando uma turma de
criancinhas? Que fariam as professoras para conter o súbito
acesso de priapismo coletivo? Complicado. Felizmente, no labi-
rinto espacial que é o Centro de Criatividade da Fundação Cul-
tural de Curitiba, havia um tipo de "bunker" que pôde ser re-
servado para o autor. O próprio Ota montou a exposição, volta e
meia interrompendo o trabalho para uma corrida ao banheiro. O
valor dos quadrinhos de Zéfiro é relativo - está mais para os
lados do objeto de estudo. Tanto como autor como quanto dese-
nhista, não tem qualidades excepcionais - foi um naïf do erotismo
quadrinizado. Tinha uma certa habilidade manual - sem troca-
dilho - uma certa facilidade para o desenho, e usou isso para
ganhar dinheiro. Os eight pages americanos tãopouco eram obras
primas - sabe-se lá se ele viu algum e daí tirou a idéia. A produ-
ção americana era mais forçada no sentido caricatural - havia
deboche, talvez de cunho moralista, onde Zéfiro punha mesmo
era o seu tesão. O sexo explícito quadrinizado só irá adquirir fo-
ros de arte nos anos setenta, com a produção de Guido Crepax.
Não me encham o saco - é claro que não estou fazendo compa-
rações, apenas mencionando referenciais. Depois de algumas ho-
ras acompanhando os eventos inaugurais daquela Bienal, a maio-
ria dos quais acompanhando a "lenda viva", eu estava convencido
de que aquele respeitável senhor não era o Zéfiro coisa nenhuma
- mas alguém que, de olho em quinze minutos de celebridade, se
fazia passar por ele. Como uma velhinha assanhada que de re-
pente surgisse dizendo: - Olha, eu sou Betty Page, a modelo de-
saparecida na década de cinquenta... Mas foi aí que "ela" apare-
ceu. Franguinha proto-adolescente, lindona, num jeans stone
washed ao qual se poderiam aplicar algumas dezenas de adjeti-
vos sinônimos de espetacular, sensacional, extasiante - botinhas
de saltos altíssimos e uma blusa de alcinhas à qual, para ser sin-
cero, só consigo aplicar um adjetivo: inútil. Absolutamente inútil.
Ela passou por nós dois toda sorridente, irradiando charme, e
entrou no bunker onde estavam os vinte anos de sacanagem do
Zéfiro, como quem veio especialmente para essa finalidade. Ele
acompanhou-a com o olhar, sem perder nada do complexo ges-
tual de ondulações, meneios e trejeitos, por cima dos óculos. E
naquele olhar deu prá ver que quem estava ali era realmente o
Grande Patriarca da Pornografia Brasileira..."

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Oi cara, visita www.carloszefiro.com

17 março, 2007 16:18  

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