Raúl Rivero
"(...) A televisão cubana emite toda a semana propaganda contra
os EUA e ao sábado passa normalmente dois trillers americanos
- que são vistos por toda a gente em Cuba. Normalmente, são
filmes péssimos, desses de tiros, mortos e gangsters, mas aca-
bam sempre por ter um conteúdo social, pois as personagens
movem-se num ambiente que fascina. Passei o último ano da
prisão, quando me deram autorização para ver TV, a ver filmes
desses junto aos presos comuns. E todos reparavam nos carros,
nas coisas que as pessoas tinham em casa, no facto de mesmo o
mais pobre andar de automóvel. Duas horas de filme dão cabo
de uma semana de propaganda em que o Governo condena os
Estados Unidos pelas suas posições em conflitos internacionais.
Ninguém apoia o que se passa em Guantánamo, muito menos
eu que venho de uma prisão, mas as pessoas também se preo-
cupam com a sua vida: lemos que os cubanos não têm proble-
mas com os medicamentos, depois vamos ao médico e temos
problemas com os medicamentos. Não existem, temos de pe-
di-los aos amigos; frente à minha casa havia um homem a pe-
dir medicamentos para a circulação. O pior deste sistema de
propaganda é que te explica a ti próprio, que vives num pesa-
delo, o feliz que és. Contam-te a tua vida: tu estás bem no so-
cialismo! No outro dia, telefonaram-me de um jornal a pergun-
tar se eu estava a reflectir sobre as eleições de domingo em
Cuba[17 de Abril]. Eu estou é a reflectir sobre o frio de
Madrid, as eleiçõe em Cuba são um circo. Está tudo arranjado
e não tem qualquer sentido. A determinada altura, vinham-
-me bater à porta porque só faltava eu para cumprir a meta
de votos na minha circunscrição. Diziam-me que assim deixa-
va ficar mal o bairro. Até que um dia simplesmente tiraram o
meu nome dos cadernos eleitorais. Ernest Hemingway afirmou
uma vez que o fascismo era uma mentira contada por rufias; o
comunismo, como tal e como nós o vivemos, é outra mentira
contada por outros rufias. Tudo em Cuba é mentira. (...)"
Excerto da entrevista com o jornalista e poeta cubano Raúl
Rivero, publicada esta sexta-feira passada no DNA.
Condenado em 2003 a vinte anos de prisão pelo regime de
Fidel, libertado entretanto por razões de saúde, vive agora
no exílio, em Espanha. Como tantos dos seus pares.
os EUA e ao sábado passa normalmente dois trillers americanos
- que são vistos por toda a gente em Cuba. Normalmente, são
filmes péssimos, desses de tiros, mortos e gangsters, mas aca-
bam sempre por ter um conteúdo social, pois as personagens
movem-se num ambiente que fascina. Passei o último ano da
prisão, quando me deram autorização para ver TV, a ver filmes
desses junto aos presos comuns. E todos reparavam nos carros,
nas coisas que as pessoas tinham em casa, no facto de mesmo o
mais pobre andar de automóvel. Duas horas de filme dão cabo
de uma semana de propaganda em que o Governo condena os
Estados Unidos pelas suas posições em conflitos internacionais.
Ninguém apoia o que se passa em Guantánamo, muito menos
eu que venho de uma prisão, mas as pessoas também se preo-
cupam com a sua vida: lemos que os cubanos não têm proble-
mas com os medicamentos, depois vamos ao médico e temos
problemas com os medicamentos. Não existem, temos de pe-
di-los aos amigos; frente à minha casa havia um homem a pe-
dir medicamentos para a circulação. O pior deste sistema de
propaganda é que te explica a ti próprio, que vives num pesa-
delo, o feliz que és. Contam-te a tua vida: tu estás bem no so-
cialismo! No outro dia, telefonaram-me de um jornal a pergun-
tar se eu estava a reflectir sobre as eleições de domingo em
Cuba[17 de Abril]. Eu estou é a reflectir sobre o frio de
Madrid, as eleiçõe em Cuba são um circo. Está tudo arranjado
e não tem qualquer sentido. A determinada altura, vinham-
-me bater à porta porque só faltava eu para cumprir a meta
de votos na minha circunscrição. Diziam-me que assim deixa-
va ficar mal o bairro. Até que um dia simplesmente tiraram o
meu nome dos cadernos eleitorais. Ernest Hemingway afirmou
uma vez que o fascismo era uma mentira contada por rufias; o
comunismo, como tal e como nós o vivemos, é outra mentira
contada por outros rufias. Tudo em Cuba é mentira. (...)"
Excerto da entrevista com o jornalista e poeta cubano Raúl
Rivero, publicada esta sexta-feira passada no DNA.
Condenado em 2003 a vinte anos de prisão pelo regime de
Fidel, libertado entretanto por razões de saúde, vive agora
no exílio, em Espanha. Como tantos dos seus pares.
2 Comentários:
Olho distante para Cuba e vejo o testemunho vivo de como um sonho levado ao extremo se pode transformar num pesadelo.
Obrigada pela partilha..
Ainda estou a leste destas vidas, destas políticas. Com o tempo e antes dos 30 devo chegar à vida real!!!
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial