a memória é coisa infinita
meu segundo livro de llansol, dias depois do primeiro.
(ou talvez tenha sido este mesmo o primeiro, já não recordo se
presente de aniversário ou oferenda natalícia.)
mão amante escreveu palavras que parecem hoje impossíveis.
dias distantes e finitos.
esse gosto de marcar os livros com palavras nossas. esse
gesto de torná-los assim obra também nossa.
esses livros tão secretos.
esses livros prenhes de palavras alares.
como é possível, num país de tantos e ilustres letrados, esta
mulher ser afinal tão pouco lida? num país de tamanhos
autores, de imensos poetas publicados, de tantos bloguistas
tão bons escrevedores?
como posso eu que não sou nenhum doutor, que não sei
teorizar sobre nada, que não frequentei Letras, que sou um
pouco avesso e muito ignaro das ortoxias e das regras da
língua, que não tenho memória sequer para um versito meu,
como posso ser dono de tantas primeiras edições de tiragens
tão pequenas, de escassos dois mil exemplares?
como ao longo destes anos todos foi sempre possível ver à
venda os seus livros ao desbarato, em inúmeros mercados e
feiras de livros em saldos?
como, apesar da sua genialidade, sempre me pareceu que
praticamente ninguém lhe ligava nenhuma?
como posso eu - deixem-me fazer esta pergunta insuportável -,
filho de operários vindos dos pobres campos minhotos, sentir
que faço parte de uma qualquer elite? como posso eu que tão
pouco leio, sentir essa pontinha de vaidade?
(ou talvez tenha sido este mesmo o primeiro, já não recordo se
presente de aniversário ou oferenda natalícia.)
mão amante escreveu palavras que parecem hoje impossíveis.
dias distantes e finitos.
esse gosto de marcar os livros com palavras nossas. esse
gesto de torná-los assim obra também nossa.
esses livros tão secretos.
esses livros prenhes de palavras alares.
como é possível, num país de tantos e ilustres letrados, esta
mulher ser afinal tão pouco lida? num país de tamanhos
autores, de imensos poetas publicados, de tantos bloguistas
tão bons escrevedores?
como posso eu que não sou nenhum doutor, que não sei
teorizar sobre nada, que não frequentei Letras, que sou um
pouco avesso e muito ignaro das ortoxias e das regras da
língua, que não tenho memória sequer para um versito meu,
como posso ser dono de tantas primeiras edições de tiragens
tão pequenas, de escassos dois mil exemplares?
como ao longo destes anos todos foi sempre possível ver à
venda os seus livros ao desbarato, em inúmeros mercados e
feiras de livros em saldos?
como, apesar da sua genialidade, sempre me pareceu que
praticamente ninguém lhe ligava nenhuma?
como posso eu - deixem-me fazer esta pergunta insuportável -,
filho de operários vindos dos pobres campos minhotos, sentir
que faço parte de uma qualquer elite? como posso eu que tão
pouco leio, sentir essa pontinha de vaidade?
5 Comentários:
um dia, há algum tempo atrás, estava numa livraria com a Mimi e ela comentou que o Francisco gostava imenso desta escritora...eu, por curiosidade comprei um livro dela ( A restante vida)porque "estava bem recomendado", Conclusão....já li 5 e confesso que AMEI.
Obrigada
beijoca, joana
na tua genética estrutural existem genes de um fidalgo minhoto, e você sabe disso... passou através de tua mãe que tinha tanta sensibilidade quanto você.
E agora eu, apanhada num raio sobre o lápis...
Obrigada...
Oh! Francisco eu acho este post carregado de inocência, mas não interpretes mal, uma inocência salutar e bonita. Desde quando um diploma é igual a curiosidade e dedicação? Fazer parte de uma elite? Mas qual elite, a de um ser humano ávido de conhecimento? Muitas coisas me passaram e Llansol foi uma delas, mas a diferença, é que agora eu vou procurar por ela.
abraço,
Nuno
Obrigado, Nuno, pelas tuas palavras mas deixa-me dizer-te que este post é tudo menos inocente. É - para além de outras coisas, como é óbvio - apenas uma provocaçãozita. Admito que sem grande sentido.
Não tenho grandes pruridos quanto à palavra elite. Como os chapéus, elites há muitas. Eu devo pertencer a algumas delas.
Mas insisto, bato na mesma tecla: dois mil exemplares! Não haveria há vinte anos professores, literatos, jornalistas, poetas, amantes das letras em número suficiente para esgotarem rapidamente essas tiragens minúsculas? E hoje? Um qualquer aluno de Letras ou então um professor de português do secundário não lerá mais depressa um dos badalados romances do MST do que um qualquer livro da MGL?
(bem, lá estou eu a descair para a pobre retórica elitista...)
;)
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