agosto
um poema do espanhol Eloy Sánchez Rosilio,
traduzido por Joaquim Manuel Magalhães.
Como é possível que transcorra lenta
diante dos meus olhos esta tarde de hoje
e que tão sem olhá-la e sem dizê-la
a deixe partir para todo o sempre?
Nunca mais voltará. Devagar passa
esta tarde do mundo em que é agosto
e na qual estou vivo e nada temo.
Quase não avança, mas vai avançando.
Eu sei bem que é um milagre irrepetível.
E contudo ignoro-a: não se ocupam
dela meus olhos nem o papel recolhe
sua clamorosa luz, seu mar tão plácido.
"Ainda haverá muitas tardes como esta",
pensa o meu erro em tempo de abundância,
porquanto agosto se mostra interminável
e é fácil esbanjar quando se tem.
Assemelho-me aos ricos que dissipam
sua incontornável fortuna a mãos cheias
e um dia despertam e não há nada,
nem uma moeda resta nos seus bolsos.
Sem que me dê conta chegará setembro.
Ir-se-á com seus prodígios o verão
e verei de repente a minha pobreza.
Mas será já muito tarde para tudo.
Ah, como gosto tanto de poesia assim despretensiosa, destas
palavras eivadas de uma simplicidade profunda; de vozes
assim espartanas e desamparadas...
traduzido por Joaquim Manuel Magalhães.
Como é possível que transcorra lenta
diante dos meus olhos esta tarde de hoje
e que tão sem olhá-la e sem dizê-la
a deixe partir para todo o sempre?
Nunca mais voltará. Devagar passa
esta tarde do mundo em que é agosto
e na qual estou vivo e nada temo.
Quase não avança, mas vai avançando.
Eu sei bem que é um milagre irrepetível.
E contudo ignoro-a: não se ocupam
dela meus olhos nem o papel recolhe
sua clamorosa luz, seu mar tão plácido.
"Ainda haverá muitas tardes como esta",
pensa o meu erro em tempo de abundância,
porquanto agosto se mostra interminável
e é fácil esbanjar quando se tem.
Assemelho-me aos ricos que dissipam
sua incontornável fortuna a mãos cheias
e um dia despertam e não há nada,
nem uma moeda resta nos seus bolsos.
Sem que me dê conta chegará setembro.
Ir-se-á com seus prodígios o verão
e verei de repente a minha pobreza.
Mas será já muito tarde para tudo.
Ah, como gosto tanto de poesia assim despretensiosa, destas
palavras eivadas de uma simplicidade profunda; de vozes
assim espartanas e desamparadas...
2 Comentários:
Gostei muito...
E muito sábio, o poema...
da beleza da depuração.
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