nas marés da minha memória
é recorrente lembrar-me do odor intenso, quase entranhável
desse breve e secreto livro de Isabel de Sá, Escrevo para
desistir, livro que me acompanha há muitos e bons anos, numa
edição da "& etc" de 1988, de que existirão apenas uns 500
exemplares, e eu sinto-me sempre algo felizardo por ter sido
um desses poucos que um belo dia se decidiu a querê-lo para si.
gosto de livros assim, nas margens ou à margem do que será
porventura a grande literatura, longe das luzes da ribalta...
nas vivas marés da minha memória, tornou-se como que im-
perioso - será por causa de outra Isabel? - trazê-lo para aqui...
"Há pessoas que ignoram o que é um poeta. Algumas delas,
esboçaram versos durante a adolescência. Possivelmente,
para além da vida familiar, ainda os guardam. Mas, nenhuma
delas, se debruça agora sobre o interior de um verso mínimo.
Sei que vou sempre ler um poeta. Encadernei o livro para
que seja mais resistente às inúmeras leituras, o livro deste
meu poeta que escreveu: «Perdi a minha infância, e ela vol-
tou, e sinto que ela continua a ser tão difícil como outrora
e que de nada serviu ter envelhecido».
Todos os seres devem ter um instante em que lhes vem à
memória restos de infância. Os poetas escrevem palavras sim-
ples que não alimentam a fé de ninguém. Só a vida de um san-
to é exemplar, depois de ter conhecido o pecado e o arre-
pendimento. Há santos que apodrecem à vista das multidões
que lhes visitam a morte. No meio da turbulência, a palavra
fica para sempre iluminada por um rasto de loucura."
desse breve e secreto livro de Isabel de Sá, Escrevo para
desistir, livro que me acompanha há muitos e bons anos, numa
edição da "& etc" de 1988, de que existirão apenas uns 500
exemplares, e eu sinto-me sempre algo felizardo por ter sido
um desses poucos que um belo dia se decidiu a querê-lo para si.
gosto de livros assim, nas margens ou à margem do que será
porventura a grande literatura, longe das luzes da ribalta...
nas vivas marés da minha memória, tornou-se como que im-
perioso - será por causa de outra Isabel? - trazê-lo para aqui...
"Há pessoas que ignoram o que é um poeta. Algumas delas,
esboçaram versos durante a adolescência. Possivelmente,
para além da vida familiar, ainda os guardam. Mas, nenhuma
delas, se debruça agora sobre o interior de um verso mínimo.
Sei que vou sempre ler um poeta. Encadernei o livro para
que seja mais resistente às inúmeras leituras, o livro deste
meu poeta que escreveu: «Perdi a minha infância, e ela vol-
tou, e sinto que ela continua a ser tão difícil como outrora
e que de nada serviu ter envelhecido».
Todos os seres devem ter um instante em que lhes vem à
memória restos de infância. Os poetas escrevem palavras sim-
ples que não alimentam a fé de ninguém. Só a vida de um san-
to é exemplar, depois de ter conhecido o pecado e o arre-
pendimento. Há santos que apodrecem à vista das multidões
que lhes visitam a morte. No meio da turbulência, a palavra
fica para sempre iluminada por um rasto de loucura."
4 Comentários:
"No meio da turbulência, a palavra
fica para sempre iluminada por um rasto de loucura."
a Helena e o Francisco....dois dos meus mais queridos poetas de alma.
________________________
turva a turbulência que às vezes nos faz desistir de fingir que acreditamos.
________________________
Isabel de Sá....um segredo guardado à vista de todos .da forma mais bela.
_________________________
um beijo. para os meus dois.todos.vós. F. e H.
___________________________
Y.
há pessoas que ignoram o que é um calango.
"há pessoas que ignoram o que é um poeta""
bastava que a palavra poeta fosse trocada no texto por outro modo de vida e já seria tudo tão feio e despropositado.
:D
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