à flor da minha pele
Ouvem-se os primeiros acordes de "Tatuagem" num violão, é
Chico Buarque quem está tocando, depois ouve-se a voz de
Caetano Veloso, "Quero ficar no teu corpo feito tatuagem...".
Caetano está sentado no chão, de pernas cruzadas, tem vestidos
uns calções muito justos e curtos como os dos jogadores de
futebol daquela época, e uma camisa vermelha aberta, muito
lustrosa, que lhe dá um toque algo efeminado.
A canção está agora a terminar, "...Que te rabisca o corpo todo/
mas não sentes", Caetano cala-se sorrindo de satisfação, Chico
desfere o acorde final, também sorridente, na sua camisa de
florzinhas discretas.
Chico - Lindo!...Agora eu é que quero cantar.
Passa o violão. Seus olhos azuis sorriem.
Chico - Faz "Esse Cara"...
Caetano ri. Depois começa a tocar. Chico canta, "Ah! Que esse
cara tem-me consumido...".
Breves mas eternos minutos depois, Caetano dá o acorde final,
enfatizando o gesto, sorrindo sempre.
Caetano - Jóia!
Olha depois para o chão. Cria-se um silêncio meio embaraçado.
Ouve-se um cão a ladrar. Caetano coça as costas por cima do
ombro.
Caetano - Eles não disseram nada de lá, não...E a gente...
Ri-se. Mais silêncio. O cão ainda a ladrar. Eles parecendo atra-
palhados, desarmados perante a estranheza da situação.
Chico - Como é que é, Roberto?! Estamos aflitos aqui...
Caetano - Eles não falam nada, a gente fica num suspense...
Parece que eles não gostaram! (rindo)
Chico começa a fumar um cigarro. Continua o silêncio.
Caetano - Qual é?! Foi lindo... (sempre a rir-se)
Chico - Eu gostei... (tossica)
Caetano - Eu gostei muito...Será que eles querem que a gente
converse mais, é?
O cão não parando de ladrar, e eles a cruzarem as palavras.
Caetano - Fala Roberto!
Chico - Pô, vou passar aqui a noite no show?!
Caetano - Eu acho...que ele não está mandando é mensagem de
lá...Eu acho que está tudo certo.
Chico - (a rir) Eu acho que ele está é gravando!
Caetano - É isso que eu estou dizendo!...
Ambos riem, divertidos.
Caetano - Eles querem que a gente converse...
Chico - Assim não vale...
Caetano - Não, assim é loucura!
Mais risos. Ao longe, o ladrar intermitente do cão.
Caetano - É...ele sabe o que é difícil a gente conversar...
Esquecem a estranheza do momento, o embaraço de suporem
estar a ser filmados quando não seria já suposto, tentam recu-
perar a conversa, num tom natural.
Caetano - Mas é o negócio que eu estava dizendo antes... Que a
gente faz...por exemplo, eu cantei "Tatuagem", depois...
Chico ouve atentamente.
Caetano - Quer dizer...para falar com qualquer conversa fica
meio supérflua, né?
Chico a olhar os gestos que sublinhavam as palavras de Caetano,
ali a uns dois metros dele, sentado no meio do tapete da sala.
Caetano - A gente cantou "Tatuagem" e "Esse cara"...as outras
conversas ficaram, né?...
Chico - É...
Caetano - Porque tem uma...uma letra no feminino sua e outra
no feminino minha; são...são conversas assim que a gente nem...
Um fade-out a negro fecha a cena, retomando-os já a interpretar
"Sem Fantasia".
De novo, Chico no violão. Caetano canta "Vem, meu menino
vadio/Vem, sem mentir pra você..."
A meio, começam a cantar juntos, cúmplices, harmoniosos,
felizes, assim em crescendo até ao fim da música, "...Eu quero a
prenda imensa/Dos carinhos teus".
Dois homens tão geniais.
(tentativa de reprodução fiel dos diálogos entre Chico e Caetano,
num comovente e inusitado encontro musical, filmado concerteza
nos anos 70, agora disponível em dvd, numa série dedicada à obra
de Chico Buarque.)
Chico Buarque quem está tocando, depois ouve-se a voz de
Caetano Veloso, "Quero ficar no teu corpo feito tatuagem...".
Caetano está sentado no chão, de pernas cruzadas, tem vestidos
uns calções muito justos e curtos como os dos jogadores de
futebol daquela época, e uma camisa vermelha aberta, muito
lustrosa, que lhe dá um toque algo efeminado.
A canção está agora a terminar, "...Que te rabisca o corpo todo/
mas não sentes", Caetano cala-se sorrindo de satisfação, Chico
desfere o acorde final, também sorridente, na sua camisa de
florzinhas discretas.
Chico - Lindo!...Agora eu é que quero cantar.
Passa o violão. Seus olhos azuis sorriem.
Chico - Faz "Esse Cara"...
Caetano ri. Depois começa a tocar. Chico canta, "Ah! Que esse
cara tem-me consumido...".
Breves mas eternos minutos depois, Caetano dá o acorde final,
enfatizando o gesto, sorrindo sempre.
Caetano - Jóia!
Olha depois para o chão. Cria-se um silêncio meio embaraçado.
Ouve-se um cão a ladrar. Caetano coça as costas por cima do
ombro.
Caetano - Eles não disseram nada de lá, não...E a gente...
Ri-se. Mais silêncio. O cão ainda a ladrar. Eles parecendo atra-
palhados, desarmados perante a estranheza da situação.
Chico - Como é que é, Roberto?! Estamos aflitos aqui...
Caetano - Eles não falam nada, a gente fica num suspense...
Parece que eles não gostaram! (rindo)
Chico começa a fumar um cigarro. Continua o silêncio.
Caetano - Qual é?! Foi lindo... (sempre a rir-se)
Chico - Eu gostei... (tossica)
Caetano - Eu gostei muito...Será que eles querem que a gente
converse mais, é?
O cão não parando de ladrar, e eles a cruzarem as palavras.
Caetano - Fala Roberto!
Chico - Pô, vou passar aqui a noite no show?!
Caetano - Eu acho...que ele não está mandando é mensagem de
lá...Eu acho que está tudo certo.
Chico - (a rir) Eu acho que ele está é gravando!
Caetano - É isso que eu estou dizendo!...
Ambos riem, divertidos.
Caetano - Eles querem que a gente converse...
Chico - Assim não vale...
Caetano - Não, assim é loucura!
Mais risos. Ao longe, o ladrar intermitente do cão.
Caetano - É...ele sabe o que é difícil a gente conversar...
Esquecem a estranheza do momento, o embaraço de suporem
estar a ser filmados quando não seria já suposto, tentam recu-
perar a conversa, num tom natural.
Caetano - Mas é o negócio que eu estava dizendo antes... Que a
gente faz...por exemplo, eu cantei "Tatuagem", depois...
Chico ouve atentamente.
Caetano - Quer dizer...para falar com qualquer conversa fica
meio supérflua, né?
Chico a olhar os gestos que sublinhavam as palavras de Caetano,
ali a uns dois metros dele, sentado no meio do tapete da sala.
Caetano - A gente cantou "Tatuagem" e "Esse cara"...as outras
conversas ficaram, né?...
Chico - É...
Caetano - Porque tem uma...uma letra no feminino sua e outra
no feminino minha; são...são conversas assim que a gente nem...
Um fade-out a negro fecha a cena, retomando-os já a interpretar
"Sem Fantasia".
De novo, Chico no violão. Caetano canta "Vem, meu menino
vadio/Vem, sem mentir pra você..."
A meio, começam a cantar juntos, cúmplices, harmoniosos,
felizes, assim em crescendo até ao fim da música, "...Eu quero a
prenda imensa/Dos carinhos teus".
Dois homens tão geniais.
(tentativa de reprodução fiel dos diálogos entre Chico e Caetano,
num comovente e inusitado encontro musical, filmado concerteza
nos anos 70, agora disponível em dvd, numa série dedicada à obra
de Chico Buarque.)
5 Comentários:
esta tentativa que é genial.
Genio é Lupiscínio Rodrigues e Noel Rosa.
uma bela cena dialogada, foi o que conseguiste.
obrigada.
obrigado ao Moloi e à Feniana, mas o mérito é pouco meu. Foi é muito trabalhoso!
;)
Também Caetano me ficou tatuado na memória de uma viagem. Longa. Imensa. até ao oriente. de comboio.
TAMBÉM TU, CHICO, COMO TANTAS VEZES, SOLTASTE AS NOTAS E FIZESTE MÚSICA!
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