às vezes tenho medo de construir esta parede
" Fontaínhas
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos
há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para
nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que
tu não queres.
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim. "
texto retirado da exposição "FORA!" de Pedro Costa
e Rui Chafes no Museu de Serralves
© Porto, 2005
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos
há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para
nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que
tu não queres.
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim. "
texto retirado da exposição "FORA!" de Pedro Costa
e Rui Chafes no Museu de Serralves
© Porto, 2005
1 Comentários:
Uma tensão incrível, andar pelo corredor fora e começar a vislumbrar o som das palavras que esse homem diz. E quão perturbado saio.
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Posted by l. to NU SINGULAR at 2/04/2006 03:43:17 AM
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