29 fevereiro, 2008

Así fue

um poema de Luis García Montero


La vida hizo sus cuentas.
Desde entonces
el secreto que más he perseguido
es tu respiración.

Dos y dos son los labios en los labios,
la suma de los cuerpos e la queja.

Amada claridad.
Aunque perdí el sentido,
yo no podía equivocarme.

La vida hizo sus cuentas con los dedos,

y la piel un paisaje de multiplicaciones
al hundirse en la piel.

28 fevereiro, 2008

calado me ilumino nos sonhos de outros

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fotos da minha amiga Mimi na ARCO8, Madrid, Março 2008
(à esq. obra de Bernardí Roig; à dir. tela de Julião Sarmento)

26 fevereiro, 2008

a infância é um mar de sonhos concisos

Era uma vez um menino que engoliu uma moeda e uma
tampa que não eram de chocolate.
Depois foi para a cama e sonhou que era um biscoito.
Um biscoito a sério!
Depois sonhou que morreu.

(contado pela minha filha de três anos, ao pequeno-almoço)

25 fevereiro, 2008

dizem que era diferente e era

24 fevereiro, 2008

ciclista à sombra de meta nenhuma

(um grafito por mim alterado)
e um poema de Henri Michaux:

"Levem-me"

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© 2008

23 fevereiro, 2008

regresso



Regressa a música a este blogue.
(Voltou, enfim, o meu portátil do estaleiro...)

Bons-dias!

21 fevereiro, 2008

21 de fevereiro

de Ana Cristina César,

"Não quero mais a fúria da verdade. Entro na sapataria popular.
Chove por detrás. Gatos amarelos circulando no fundo.
Abomino Baudelaire querido, mas procuro na vitrina um
modelo brutal. Fica boazinha, dor; sábia como deve ser, não tão
generosa, não. Recebe o afeto que se encerra no meu peito. Me
calço decidida onde os gatos fazem que me amam, juvenis,
reais. Antes eu era 36, gata borralheira, pé ante pé, pequeno
polegar, pagar na caixa, receber na frente. Minha dor. Me dá a
mão. Vem por aqui, longe deles. Escuta, querida, escuta. A
marcha desta noite. Se debruça sobre os anos neste pulso. Belo
belo. Tenho tudo que fere. As alemãs marchando que nem
homem. As cenas mais belas do romance o autor não soube
comentar. Não me deixa agora, fera."

20 fevereiro, 2008

esta mulher está a escrever

que é uma desbunda!

e nesta praia virtual da blogosfera lanço daqui meus vivas! e
bravos!, há muito devidos, a essa impagável garota do leblon...

19 fevereiro, 2008

se te queres beijar porque não te queres beijar?

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© 2008

18 fevereiro, 2008

felicidade

de Henri Michaux

"Às vezes, num repente, sem causa visível, percorre-me um
grande arrepio de felicidade.
Vindo dum centro de mim, tão interior que eu o ignorava,
ele leva, embora rodando a extrema velocidade, um tempo
considerável a alcançar as minhas extremidades.
Esse arrepio é perfeitamente puro. Por mais extensamente
que circule dentro de mim, nunca encontra nenhum órgão
inferior, nem qualquer outro, de resto, nem encontra ideias,
nem sensações, de tal modo é absoluta a sua intimidade.
E tanto Ele como eu estamos perfeitamente sós.
Talvez que, percorrendo todas as partes de mim, ele me
pergunte à passagem: "Então, como vai isso? Posso fazer
alguma coisa por si, neste sítio?" É possível. E que à sua
maneira me console as entranhas. Mas eu não sou posto ao
corrente.
Eu gostaria de proclamar a minha felicidade, mas que dizer?
É uma coisa tão estritamente pessoal.
Dentro em pouco, o prazer é demasiado intenso. Sem eu dar
por isso, no espaço de segundos, torna-se um sofrimento atroz,
um assassinato.
A paralisia! digo cá para mim."

17 fevereiro, 2008

"do you think tom yorke does that?"

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© 2008 ( Pere Ubu na Casa da Música)

Enquanto houver homens como David Thomas o rock'n'roll
nunca morrerá. O sangue corre bem vivo no coração, nas
palavras, na atitude deste homem inconformado e sem igual,
líder peculiar de uma banda histórica americana com mais de
trinta anos de carreira que o Porto, ontem à noite, teve o prazer
(por mim diria mesmo, privilégio) de receber.
Concerto inesquecível (podem confirmar no you tube, já há
vídeos a rolar). Para um dia poder contar aos netos. Sobretudo
para explicar que se pode gostar de punk até ser velhinho...

15 fevereiro, 2008

"serão pó, mas pó apaixonado"*

* título e fotografia roubados a Flor Garduño, autora
da fantástica e algo fantasmática exposição "Testemunhos
do Tempo", em exibição no Centro Português de Fotografia
até 16 de Março.

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Porto, Fevereiro 2008

14 fevereiro, 2008

...ao menos no são valentim

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(retirado de uma revista "Plateia" de 1964)

13 fevereiro, 2008

A Simplicidade

de Henri Michaux

"O que sobretudo faltou à minha vida, até agora, foi a simpli-
cidade. Começo a mudar, a pouco e pouco.
Agora, por exemplo, saio sempre de casa com a minha cama,
e quando uma mulher me agrada, pego-lhe e vou para a cama
com ela de seguida.
Se tem orelhas feias e grandes, ou então o nariz, tiro-lhos
com a roupa e meto-os debaixo da cama; depois ela encontra-os
ao sair. Só fico com o que me agrada.
Se eu vir que ela fica melhor com outra roupa interior, mudo-a
logo. Será o presente que lhe ofereço. Se, no entanto, vejo outra
mulher mais interessante a passar, peço desculpa à primeira e
faço-a desaparecer imediatamente.
Pessoas que me conhecem acham que não sou capaz de fazer o
que aqui deixo escrito, que não tenho suficiente temperamento.
Eu também pensava assim, mas isso era por causa de não fazer
tudo tal como me agradava.
Agora, passo sempre umas tardes agradáveis. De manhã,
trabalho."

(retirado de "As Minhas Propriedades", Fenda Edições, 1988)

12 fevereiro, 2008

arvorado riso

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© Porto, 2008

ou antes arvoado?
de qualquer modo, que possam florescer francas
gargalhadas no mundo...

11 fevereiro, 2008

um poema de Anna Akhmátova

Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor -
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.

Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.

Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes por que já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.


(retirado da antologia "Só o sangue cheira a sangue",
tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra Assírio & Alvim, 2000)

10 fevereiro, 2008

concentração

concentração de silêncios.
sonhar os fios de outras vidas.
angústias que não se esfumam.

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© 2008

09 fevereiro, 2008

Senos e Cossenos

de Eduarda Chiote



Esta empregada
que se levanta às cinco da manhã sete dias
seguidos,
diminui a espessura da sua já tão pequena
semana
até torná-la do tamanho de uma formiga.


Por entre um brouhaha de
romanticíssimas miudezas,
azuis,
à Novalis,
ela trabalha operosamente delicados, diminutos
trocos.

Impossível conceber maior júbilo que o
de prolongar por simples hora
a idade da sua caixa registadora.

Ah, se ela tivesse essa hora,
com os seus três mil e seiscentos segundos
cravados na filigrana da comida pronta,
o almoço adiantado,
a roupa lavada e passada,
talvez pudesse ir à Avenida de Roma ou Alvalade
comprar uns jeans.

08 fevereiro, 2008

não me olhem assim tão descuidados

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© Porto, Novembro 2004

07 fevereiro, 2008

um rio bordado a ouro, um cão desenhado na luz

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© Ferradosa, Fevereiro, 2007

06 fevereiro, 2008

Rapaz

de Antonio Cicero

Hesitante entre o mar ou a mulher
a natureza o fez rapaz bonito,
rapaz:
pronto para amar e zarpar.

Também ao poeta apraz
o ser rápido e rapace.

04 fevereiro, 2008

Carnaval no Rio, 1937

Paulo da Portela, há exactos 71 anos, era eleito pelos cariocas
cidadão-samba e decretava assim na sua tomada de posse:

"Art. 1º - Ficam suspensos todos os pagamentos de pensões,
lavadeiras, senhorios e todos os 'cadáveres'.
Art. 2º - Os patrões dos empregados que forem despedidos
por estarem a serviço do Cidadão-Samba ficarão sujeitos a
multa de 500$000 a 1.000$000, o que será escriturado nos
livros de ouro das referidas escolas às quais pertençam.
Art. 3º - As prestações ficam na obrigação de fornecer todas
as fazendas necessárias à indumentária dos carnavalescos
durante os folguedos da República do Samba, sob a condição
de receberem como sinal apenas 1% do valor da respectiva
compra.
Art. 4º - As patroas ficarão na incumbência de tomar o lugar
de suas empregadas, para melhor brilhantismo das festas de
loucura.
Art. 5º - Todo cidadão encontrado nas ruas e que não esteja
completamente embriagado pela alegria, sujeitar-se-á à pena
de cinco dias de prisão na Praça Onze, na balança, numa roda
de batucada, a fim de compreender as delícias do samba.
Art. 6º - Todos os aristocratas desta democratíssima República
são condenados, sumariamente, a aderir ao meu governo, a fim
de compreender que o samba é feito de pedaços d'alma, cintila-
ções do cérebro, muito amor e grande dose de amor pátrio.
Art. 7º - Durante minha administração, os bebês ficam incubidos
de se defenderem com suas mamadeiras, enquanto as amas caem
no pagode rasgado.
Art. 8º - Todo aquele que, por atraso mental ou mal fingida hipo-
crisia, não queira concordar com o absoluto domínio do samba,
deve ir se 'desguiando' de fininho para não ser considerado des-
mancha prazer."

(retirado de "Carnavais de Guerra" da autoria de Dulce Tupy)

01 fevereiro, 2008

melodia para todos

"Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro"

Luís Melodia