31 agosto, 2006

um poema à hora da ceia

PORQUE NÃO SOU UM PINTOR, de Frank O'Hara

Eu não sou um pintor, sou um poeta.
Porquê? Penso que preferia ser
um pintor, mas não sou. Bom,

Mike Goldberg, por exemplo,
está a iniciar um quadro. Eu apareço.
«Senta-te e toma uma bebida» diz
ele. Eu bebo; nós bebemos. Reparo
«Tu tens SARDINHAS aí».
«Sim, precisava de qualquer coisa ali.»
«Oh.» Eu saio e os dias passam
e eu apareço de novo. O quadro
avança, e eu saio, e os dias
passam. Eu apareço. O quadro está
terminado. «Onde estão SARDINHAS?»
o que resta são apenas
letras. «Era demasiado», diz Mike.

E eu? Um dia estou a pensar numa
cor: laranja. Escrevo uma linha
acerca de laranja. Em breve é uma
página que está cheia, não de linhas, de palavras.

Depois outra página. Deveria haver
muitíssimo mais, não laranja,
palavras, como é terrível o laranja
e a vida. Os dias passam. Acontece ser
em prosa, sou um verdadeiro poeta. O meu poema
está terminado e ainda nem sequer mencionei
o laranja. São doze poemas, chamo-lhes
LARANJAS. E um dia numa galeria
vejo o quadro de Mike, chamado SARDINHAS.

retirado de "vinte e cinco poemas à hora do almoço",
tradução de José Alberto Oliveira para a Assírio & Alvim

desabafo

a TSF está musicalmente insuportável.
uma verdadeira estação de onda média travestida.
ouvir quinhenta mil vezes as mesmas músicas todos os
desgraçados dias! já não há pachorra.

30 agosto, 2006

a angústia do calimero

Photobucket - Video and Image Hosting
© Faro, Julho 2006

29 agosto, 2006

um poeta encontrado a preços mínimos

NO TREVO, um poema do paulista Régis Bonvicino

no trevo, a quarta folha,
que faz da sorte, destino.

na pedra, o ramo,
que se rabisca dendrido.

na formiga, a narrativa,
que inventa uma cigarra.


(retirado da antologia Lindero Nuevo Vedado, quasiedições)

28 agosto, 2006

coração à deriva

os barcos sob os arcos sombrios
das nuvens
as praias alegrias inóspitas
o porto pedra desabrigada
e uma dor insular
cais de tormentas minerais
o coração à deriva
corpo sem o sal
da saliva
e sem rumo a língua
como um golfinho ferido
perdido no azul negro
de um mar insondável

26 agosto, 2006

50 cêntimos

Pela segunda vez na vida, pago cinquenta cêntimos para vir ver
o blogue. Tenho vinte minutos. Coisa estranha. Aqui perdido
numa aldeia do interior do país, num café pejado de moscas,
homens numa gritaria quase demente por causa dos golos do
sporting, uma criança ziguezagueando por entre as mesas, e a
mãe avisando "doucement, doucement...Zé Manel...tu vas
tomber...". Lá fora, carros de matrícula francesa, com águias
alusivas ao benfica estampadas no capot dos carros, debitando
hip-hop num volume desmesurado. A meu lado, nos outros três
computadores, rapazes em jogos de guerra violentíssimos ou
tentando online que alguma rapariga lhes passe cartão...
Enfim, sábado à noite no portugal profundo, e eu só aqui vinha
ver como paravam as coisas no meu cantinho blogosférico...

24 agosto, 2006

a nostalgia do super 8

Photobucket - Video and Image Hosting

Venho de um tempo em que o super-8 já não era nada fashion.
O seu uso estava em decadência, tinham passado os seus glo-
riosos dias de apogeu, os tempos da sua massificação nas mãos
das classes burguesas do mundo...
Aprendi os primeiros e sagrados passos do ofício de fazer filmes,
com essa velhinha película, num tempo em que parecia já à beira
da extinção, num tempo em que era preciso enviar para França
ou Espanha as bobines para poderem ser reveladas, num tempo
em que o vídeo começava a ser mais apelativo, e mais acessível
ainda, ao comum dos mortais...

Hoje são outros tempos. Revive-se como que uma segunda era do
super-8, essa película dos cineastas amadores, dos cineastas sem
meios... E tal revivalismo se deve, em parte, curiosamente, à ver-
tiginosa revolução digital que se vive nesta era, permitindo a
qualquer um, com relativa facilidade, a integração de todos os
formatos de captação de imagens.

Tudo isto para assinalar aqui o nascimento de um novo festival de
cinema no Porto, precisamente dedicado ao super-8. A primeira
edição do Douro Festival Film arrancou já no passado sábado, mas
só hoje, e até ao próximo fim-de-semana, decorrem as sessões de
competição, às 22 horas, no Espaço Artes Múltiplas. Estão quase
50 filmes a concurso, entre realizadores portugueses, brasileiros
e espanhóis. Parte dos filmes foi mesmo realizada no Porto, que a
organização do festival lembra ter sido a terceira cidade do mun-
do a começar a fazer cinema, pois meio ano depois dos irmãos
Lumière, já Aurélio da Paz dos Reis rodava na Invicta os seus
primeiros filmes...

23 agosto, 2006

a teus pés, Cacela

nesse dia, de facto, e ainda que seja pouco elegante
escrevê-lo, o céu estava plúmbeo. um cinzento vasto e
sufocante. um cinzento escondendo a linha do horizonte.
as crianças ficaram no carro, a dormir como anjos.
turistas rondavam as paredes seculares, os gatos com
o sono desarrumado pelos motores dos carros, e o céu
prestes a chorar. grossas lágrimas. cálidas. sedentas
da nossa sede. quem choraria nele?

lembrei de um nome com o mar lá dentro. terá ela olhado
este mar? banhou-se por aqui? terá aquele que morreu...
e suspendi as palavras...
terá o mar a capacidade de salvar?

lembrei de tanta coisa, como se um enxame de lembranças
me perturbasse os sentidos, lembrei de coisas sem apa-
rente nexo, lembrei o turbilhão da vida cantado pela
Jeanne Moreau, essa mulher estranhamente bela por quem,
lembro agora, apaixonei-me na infância...
e lembrei tanto a Ana Cristina. e também o labiríntico
Pessoa. lembrei até de meu intrépido amigo Moloi. e lem-
branças ainda, como relâmpagos surdos, da fama dos templá-
rios, da triste sorte dos cátaros, do infame fado dos judeus
fugidos a todas as Inquisições, dos nossos loucos marinheiros
antepassados que, por esses mares adentro, partiram para
desventurar o mundo...
como um tolo a falar de coisas que na verdade ignora,
como um pobre pássaro com medo de voar sobre o futuro,
dei por mim a pensar sobre o destino de paz que tantos
profetizam para este país...
dei por mim a gritar palavras inauditas e inaudíveis para o fio
frágil do horizonte...

depois o veio o sábio silêncio, a ria lá em baixo, na sua formosa
placidez, semeada de pequenos barcos como que eternizados
no tempo, a água de um verde tranquilo exalando seu perfu-
me moçárabe, o voo suspenso do pombo...
ah, gostava tanto que a Ana Cristina César pudesse ter
contemplado este mar de Cacela!...
(mas não com esse céu de tropical tempestade. de má
bonança.)
os seus pés no sal feliz da vida.

Photobucket - Video and Image Hosting
© Cacela Velha, Julho 2006

22 agosto, 2006

caído, em tentação

nos credos
invoco tua face mais pura
nos sonhos
teu corpo de seda matinal
nos dedos
trago um desígnio de silêncio
na pele
ainda por lavrar o amor
nos lábios
bebo-te as ígneas palavras
nos olhos
a flor subterrânea do desejo
nos medos
inquiro tua boca maternal

21 agosto, 2006

conquilhas

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006

20 agosto, 2006

deriva

no corpo desagua uma dor
ignota
uma dor sem desesperos

o horizonte como linha
nostálgica que nos arruma
o passado

o horizonte é uma finta
perfeita
que me lembra o coração
sem rumo

no corpo a ilhota
do sexo
sem esperança
ador
mece após
o choro sobressal
tado

apogeu após
tata

o orgasmo como lugar
de morte
uterina invocação
do mar

19 agosto, 2006

as manhãs com sabor a romãs

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006

18 agosto, 2006

ser um pobre diabo

"(...) «Irmão, por favor, não estejas sempre a interromper-
-me. O teu riso jovem e tolo asfixia as ideias. Escuta! Presta

bem atenção. O que te digo pode um dia vir a ser útil. Acima
de tudo: não tentes ir contra a corrente. Ir contra a corrente,
irmão, isso não existe, porque talvez não haja nada no
mundo por que valha a pena lutar. E, porém, tens de lutar
sempre, apaixonadamente até. Mas para que não te tornes
demasiado ávido: lembra-te bem: não há nada por que valha
a pena lutar. Tudo está apodrecido. Compreendes isto? Bem
vês, tenho a esperança de que não consigas perceber o que
te digo. Preocupas-me.» - Eu disse: « Infelizmente sou de-
masiado inteligente para não compreender o que me dizes,
como esperas. Mas não te preocupes. As tuas revelações não
me assustam.» - Sorrimos um para o outro. Depois pedimos
outra bebida, e Johann, que aliás parecia muito elegante,
continuou a falar: «É claro que existe aquilo a que chamam
progresso, mas esta é apenas uma das muitas mentiras que
os homens de negócios espalham para poderem extorquir
dinheiro às massas com ainda mais insolência e impiedade.
As massas são os escravos do nosso tempo, e o indivíduo é o
escravo da vasta ideia que subordina as massas. Já não há
nada de belo, de excelente. Tens de ser tu a sonhar o que é
belo e bom e honesto. Diz-me, sabes o que é sonhar?» - Eu
limitei-me a dizer que sim duas vezes com a cabeça, e deixei
que ele continuasse, escutando-o com toda a atenção:
«Tenta arranjar muito, muito dinheiro, o mais depressa
possível. Tudo está estragado, mas o dinheiro ainda não.
Tudo, tudo está apodrecido, dividido, roubado da glória e do
esplendor. As nossas cidades desaparecem irresistivelmente
da face da Terra. O espaço onde antes estavam casas e palá-
cios é agora ocupado por monstruosidades. O piano, querido
irmão, o retinir daqueles sons! Os concertos e o teatro de-
caem, atingem um nível cada vez mais baixo. Sobrevive
ainda uma sociedade que dá o tom, mas mesmo esta perdeu
o poder de dar um tom de dignidade e espírito. Há livros... em
suma, nunca percas o alento. Continua pobre e desprezado,
querido amigo. O mais belo, o maior triunfo é ser um pobre
diabo. Os ricos, Jakob, vivem muito descontentes e infelizes.
As pessoas ricas dos nossos tempos: já não têm nada. São
eles na verdade quem passa fome.» (...)"

Robert Walser, "Jakob von Guten, um diário"

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006

Perdoem, tão extensa transcrição mas não fui capaz de resistir
a tão impressionantes palavras, a trazer para aqui este livro que
por estes dias estou a ler, e que me vai desconcertando o verão...
Tão actual este romance! Tão absurdamente sábio! Tão pres-
ciente.
Só de imaginar que foi escrito no início do século passado,
corria o ano de 1909 em Berlim... é como um delírio saber que
estão quase a cumprir-se 100 anos, portanto!

17 agosto, 2006

teus alados seios

Photobucket - Video and Image Hosting
© Porto, Julho 2006

16 agosto, 2006

casa azul

osgas sobre o silêncio deslizante da cal. as crianças espantadas
com o louva-deus, perdido no empedrado à entrada do lugar.
os sumarentos risos infantis assustando os sonolentos gatos.
as estrelas reverberando no céu a vida para além da terra.
o vibrante silêncio da noite. a secreta respiração animal da noite.
essa noite magnífica de verão.
a cálida brisa, impregnada de mosquitos. a lua pairando sobre as
paredes seculares do forte.
chás de menta. caipirinhas efémeras. doces de figo. tarte de
alfarroba. tanta abençoada delícia.
doce noite para guardar no coração.
mas também as vozes da mesa vizinha. o amadorzito fazedor de
filmes a tentar apanhar no ar os fiapos de palavras de um dos
mais lúcidos cineastas do país. elites culturais a falar do dinheiro
e dos privilégios das elites políticas e financeiras. esse manso
roubar da pátria.
conversa que nunca acabará.

Photobucket - Video and Image Hosting
© Cacela Velha, Julho 2006

15 agosto, 2006

o céu acendendo o silêncio

Photobucket - Video and Image Hosting
© Julho, 2006

14 agosto, 2006

el lamento de los muros

Photobucket - Video and Image Hosting
Fotografia de Paula Luttringer, do seu projecto El Lamento De
Los Muros.

"Desci cerca de 20 ou 30 degraus, ouviram-se fechar
grandes portas de ferro. Supus que o lugar era debai-
xo de terra, que era grande, porque as vozes faziam
eco e os aviões rodavam por cima ou muito perto. O
barulho era de enlouquecer. Um dos homens disse-me:
Ai então és psicóloga? Puta, como todas as psicólogas.
Aqui é que vais saber o que é bom. E começou a dar-
-me pancadas no estômago."

Marta Candeloro foi raptada na cidade de Neuquen a 7 de
Junho de 1977, e levada imediatamente para o Centro de
Detenção La Cueva.


murros no estômago

Photobucket - Video and Image Hosting
© Porto, Agosto 2006


"Paula Luttringer nasceu na Argentina e deixou-a em 1977, depois de
ter estado retida num dos campos de interrogatório e tortura clan-
destinos que cobriam o país, criados pela ditadura militar do general
Videla, que governou a Argentina de 1976 a 1983. O triunvirato mili-
tar que Videla dirigia e pôs fim ao governo de Isabelita Perón tinha
um objectivo imediato e letal: exterminar a guerrilha urbana, onde se
destacavam os Montoneros e que criara a insegurança de vidas e
bens das classes ricas e dirigentes. A prazo, a vasta hierarquia mili-
tar ocupou todos os lugares do governo, das Universidades e Colé-
gios, dos meios de comunicação, da diplomacia internacional, dos
sindicatos, das empresas; mas de imediato impunha-se o sanea-
mento radical dos elementos e dos simpatizantes da guerrilha, ar-
mada e não-armada, de forma a que o Campeonato do Mundo de
Futebol, a realizar na Argentina em 1978 não levantasse qualquer
suspeita de oposição ao regime militar, que, sabia-se, viera oferecer
alguma esperança aos argentinos, cansados da insurreição da es-
querda militante. Após as habituais execuções sumárias nas ruas,
das perseguições de contra-golpe e aparentemente estabelecida a
ordem, sem qualquer publicidade, o regime militar cria um verdadeiro
Estado paralelo que não compromete o oficial, encarregado do geno-
cídio de todo o universo contestatário; um genocídio clandestino,
efectuado através de interrogatórios de familiares, amigos e conhe-
cidos dos elementos da esquerda e da guerrilha, que seriam ou não
implicados pelos militares. Foram criados mais de 240 centros de de-
tenção clandestinos, em quartéis, bases militares, comissariados da
polícia, prisões militares, onde mais de 100.000 homens e mulheres,
capturados e encapuzados foram torturados e humilhados, de forma
a rapidamente darem indicações que permitissem a captura doutros
suspeitos. Sabe-se que 30.000 dos argentinos eufemisticamente
considerados pelo Estado como "desaparecidos", foram executados.
Para os outros, a memória do lugar e do rosto dos torturadores não
existia, ficou a ideia do "poço" onde estavam mergulhados e do
medo e humilhação sofridas uma humilhação que não fez o seu luto,
porque, no fim da ditadura, o exército em geral foi amnistiado e a
convivência diária com os antigos torturadores retirou o sentido da
dignidade e da vida aos que sobreviveram.
Em 1992, Paula Luttringer regressou do Uruguai e começou a foto-
grafar os testemunhos da história da ditadura. Mostrou-o à Argen-
tina e ao mundo, desde 1998, com "El Matadero" e, desde 2000,
com o projecto "El Lamento de los Muros".
Esta colecção de imagens é um testemunho de uma realidade que
não tem lugar, que não pode ter lugar, porque a memória dela apenas
se guardou nas lacunas do sentir. A fotógrafa interrogou e recolheu
estes testemunhos de cinquenta mulheres que tinham estado presas
no tempo da ditadura de Videla. As imagens evocam os lugares que
se sabe foram prisões clandestinas.
Mostram, como só as fotografias o fazem, a ausência do inenarrável,
um vazio que se preenche com os testemunhos de quem não esquece
e a quem não deixam esquecer. Como aquela imagem onde uma som-
bra opressora se projecta sobre um muro de betão e a luz parece
moldar a permanência frágil de uma memória de dor."

Maria do Carmo Serén, Centro Português de Fotografia

13 agosto, 2006

bright green

Photobucket - Video and Image Hosting
© Porto, Julho 2006

"Looking out. I'm watching out. But when I see the future,
I close my eyes. I can see it now."

(retirado de Excellent Birds, canção de Laurie Anderson do álbum
Mister Heartbreak)

12 agosto, 2006

tempos de guerra

Tudo me traz angustiado, preocupado, confuso.
Textos de blogues. Editoriais. Artigos de opinião de todos os
matizes. Comentários em fóruns. Desde os mais instruídos aos
mais imbecis, tudo me atormenta.
E também a suposta entrevista de Marcola (líder do PCC, orga-
nização criminosa que está desafiando toda a estrutura do
Estado brasileiro), por demais inquietante.
E, por fim, ainda, as conversas com um amigo recém-chegado
da martirizada Beirute.
Nada neste planeta parece ter solução. De facto, devemos estar
todos no reino do insolúvel.
Tudo assim me torna pesaroso, deprimido, desesperançado.
O Homem não parece mesmo ter sido feito para a paz.
Tempos difíceis vão viver os nossos filhos.
E isso é quase insuportável só de pensar, de formular.
Começo a dar razão a Moloi, que acredita que algo de apoca-
líptico acontecerá no mundo, num futuro não tão distante assim...

E depois este calor, as gentes nas praias, tão irreal cenário...

Photobucket - Video and Image Hosting
© Julho, 2006

11 agosto, 2006

sobre o branco

em branco
numa folha,
sopesadas,
pouso as palavras:

água.
lágrimas.
sombrio fogo.

a negro
na folha,
tropeçadas,
jazem as palavras:

mágoa.
lâminas.
vazio gozo.

10 agosto, 2006

um clube fixe?

Photobucket - Video and Image Hosting
© Porto e Tavira, Julho 2006

09 agosto, 2006

a última costa

O livro do valenciano Francisco Brines que comprei,
num destes dias enlouquecidos pelo calor, a preços
mesmo mínimos...
Uma bela colecção de poemas da qual, por ora, deixo aqui:

O Regresso do Verbo

No princípio, o Verbo. E nele as águas,
o sol, o guincho dos pássaros, os ventos.

Ramalha na colina, como um rubor, o fogo.

E hoje, de novo, o Princípio. E nele as águas
e nelas a inocência:
o fresco riso de um menino nadador
que rompe no murmúrio das ondas que rompem.

aquarela

Photobucket - Video and Image Hosting
© Julho, 2006

08 agosto, 2006

amor é fogo que arde pra se ver

e assim anuncio essa casa discreta,
feita a quatro mãos cúmplices,
barro tentando moldar o divino.
essa casa que parece saber dos segredos do fogo.
as livres palavras, sem pudores, sãs, plenas de gozos.
as palavras com e do prazer, os grafados instantes
dos corpos sublimados nos jogos do amor.
as palavras com sabor a sexo.
o erotismo por caminhos trilhados raras vezes.
essa lâmina perigosa, esse risco
que sempre desafia e alicia os mais temerários
funambulistas da poesia.
vinte anos, a casa de Alberto & Alice...

quero caminhar descalço
sobre um chão de musgo
sobre uns flancos ígneos
lento murmurar de águas

cozidas na pele
enrugada em fetos
sopro sanguíneo
vento acampado
às portas de um vendaval
de mel e sémen
caminha a meu lado
mãos enrodilhadas
na manta do firmamento
membros em suave desatino
se quiseres
eu chamo os anjos para limparem
as últimas rugas
o último estertor
o último beijo
antes que o céu nos convoque
para a última orgia
somos cordões desatados
em sapatos de feno
lenços de suor confinados
a esta chama que nos queima
antes do primeiro incêndio

poema de Alberto Serra

07 agosto, 2006

a rapariga que gosta de gaivotas

dedicado à Carla que está de regresso a Elsinore.

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006

06 agosto, 2006

Noite

mais um poema de Antonio Cicero.

Vêm lá do canal
Reverberações
Do ladrar de um cão.

Uma dessas noites
Tudo vai embora:
Leve-nos,
Ladrão.

Abre-se o sinal
Sem ninguém passar.
É melhor ser vão
Tudo o que pontua
Nossa escuridão.

05 agosto, 2006

chapéus

Photobucket - Video and Image Hosting
© Cacela Velha, 2006

04 agosto, 2006

mudar de vida

dedicado à Patrícia.

Que o cinema não mate
nenhum dos teus sonhos.
Que o cinema te
ilumine o mais venturoso dos caminhos.
Estarei lá para ver.

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006

03 agosto, 2006

a cabeça cheia de nuvens

Photobucket - Video and Image Hosting
© 2006 (o céu a sul/grafito a norte)

Há tipos aluados. Eu não devo ser assim.
Mas tenho a impressão, por vezes, que a minha cabeça está cheia
de nuvens. Nuvens que brincam comigo, que me confundem a
disposição, que baralham quem sou, que ameaçam com chuva os
meus dias mais felizes.
Enfim, há vazios que nunca conseguirei definir.

02 agosto, 2006

cinema a todas as dimensões

Photobucket - Video and Image Hosting
© Porto, Agosto 2006

01 agosto, 2006

as flores do mar

flores com o desejo do mar.
flores sem o perfume das frondosas metáforas.
dores viciadas de sal.
minhas palavras do mal.

Photobucket - Video and Image Hosting
© Julho, 2006